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segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Estudante negra premiada na UnB não quer o "mérito da cor"

Fonte: CONTRA A RACIALIZAÇÃO DO BRASIL
domingo, 25 de outubro de 2009



Amigos,
O texto abaixo foi publicado ontem no Correio Braziliense. Refere-se a uma estudante negra, de família humilde de Brasília, que recebeu importante prêmio da graduação na UnB. O que nos chamos atenção é que a jovem pesquisadora não quer o "mérito da cor" (muito usado pelos movimentos racialistas).
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Sem saber, o autor do artigo fez um belo texto anti-racialista, em prol da igualdade de chances, independente da quantidade de melanina na pele, ou da "raça".
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Eu, que sou professor da UnB (**), estava presente na citada cerimônia. Vi a Gabriela Silva receber o prêmio. Foi realmente algo muito emocionante para ela e para seu orientador.
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Vamos ao texto:
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Gabriela, a UnB profunda e o Brasil
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por José Flávio Sombra Saraiva, Prof da UnB

Universidade de Brasília, quarta-feira, 21 de outubro de 2009, 20h12. Sob os trovões do verão antecipado do Planalto Central do Brasil e as frestas úmidas das paredes do grande cenário, a jovem Gabriela desceu as escadas do Auditório 4 do Instituto Central de Ciências da UnB. Agarrada às mãos de seu orientador de pesquisa na graduação, Gabriela era semblante forte, elegante em seus trajes, olhar sereno sobre a audiência, autoconfiante. Sem pedir licença, Gabriela recebeu o prêmio do melhor trabalho científico apresentado, na área de ciências humanas e artes, no Congresso de Iniciação Científica da UnB e do Congresso de Iniciação Científica do Distrito Federal.

Seu orientador, professor titular por concurso público da UnB, portador de mais de duas décadas de serviços prestados a instituição, não escondeu as lágrimas da emoção. Seus colegas, na primeira fila do auditório, reconheceram, em acenos, a alegria da vitória merecida. Sua amiga Aline, a representante convocada pela urgência da família, registrava o momento, sem açodamento, em fotos para a posteridade. Recebia Gabriela o diploma mais importante da graduação para a área de ciências humanas da UnB para o ano de 2009. Cumprimentos da banca, do professorado, da representante do CNPq, do reitor.

Depois de duas horas de atos secundários, burburinhos, discursos, certo cansaço, o auditório semiocupado, mas em silêncio obsequioso, ovacionava a afro-brasileira, moradora de uma cidade satélite de Brasília, estudante de curso de elite, o de Relações Internacionais, terceiro em concorrência no vestibular da UnB. Gabriela foi a primeira estudante do curso de Relações Internacionais da UnB a receber o merecido prêmio, medido por banca externa, alheia às políticas internas de departamentos e institutos da UnB.

Gabriela é orgulho de seus mestres e colegas. Ela sabia que, na comunidade de mais de 30 mil estudantes de graduação da UnB, ao lado de outros dois colegas das área de ciências exatas e da vida, era ela o centro do mérito científico, símbolo do que deve ser a universidade, sem concessões ao poder que passa.

Qual o significado daquela noite? Para a educação nacional, a lembrança de que o mérito acadêmico, ainda que eventualmente obliterado pelas políticas de ocasião, segue sendo um valor universal e um projeto relevante para um país que se deseja democrático e desejoso de fazer parte da construção dos padrões elevados de produção científica de impacto social e transformador da realidade que vivemos. Para a Universidade de Brasília, o alerta de que nem sempre o que ocorre na área do poder administrativo tem reflexo na UnB acadêmica e profunda.
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Gabriela não é militante política, não sobe rampas para derrubar reitor, não é dada à política partidária. Gabriela é fruto da UnB profunda, da dedicação, da serenidade científica, do esforço noite a dentro, do silêncio da mesa de trabalho. Essa é a experiência que gerou seu orientador, em outros tempos, mais duros que os de hoje, e que expõe o que de melhor tem o Brasil no mapeamento da ciência nacional e seus impactos na competividade científica mundial. As universidades públicas nacionais foram para tal meta criadas.

Gabriela, no que tange a sua epiderme, não reivindica a afro-brasilidade para avançar privilégios, mas apenas a honestidade de sua brasilidade. Gabriela, aluna de escolas públicas na fase da educação básica, quer servir ao Brasil, quer ser diplomata. Não tem recalques nem quer recompensas nem esmolas. Quer transformar seu problema científico — a cooperação do Brasil com os países da franja atlântica africana — em resultantes práticas e nobres à inserção internacional do Brasil. Gabriela, menina da Brasília dos tempos que temos, toma tempo para a salsa caribenha, para os amigos africanos, para o mundo que desperta em suas inquietações intelectuais. Não gosta de ser confundida com africanos, ainda que tenha na África muitos amigos, como o próprio orientador.

Gabriela é, portanto, o que temos de melhor na UnB. Brasília, ao se aproximar dos seus 50 anos, idade do professor que a orientou no projeto que a levou a tal prêmio, deve a Gabriela a simples lição de que é melhor seguir os caminhos simples, do estudo, da perseverança, aos caminhos tortuosos da política universitária como fim, como projeto egoísta, como meio rápido para o acesso ao poder. Gabriela é uma esperança. Gabriela é uma possibilidade para um Brasil distinto, mais verdadeiro, mais nosso, da gente que pensa que as coisas mudam com atos, esforços, noites de estudo, certa disciplina acadêmica, respeito aos mestres, indiferença aos aventureiros.
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Flávio Sombra Saraiva é Ph.D. pela Universidade de Birmingham, Inglaterra, professor titular em relações internacionais da UnB e pesquisador 1 do CNPq. Clique aqui para conhecer seu CV.
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A pesquisa desenvolvida por Gabriela Silva: "A cooperação internacional do Brasil para a África de língua portuguesa ". Iniciação Científica, 2009 (Graduação em Relações Internacionais) - Universidade de Brasília, CNPq. Orientador: Jose Flavio Sombra Saraiva
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**: O responsável por esta postagem é o biólogo Marcelo Hermes, também professor da UnB. É autor do blog anti-racialista CiênciaBrasil.

Um comentário:

Cachorro Louco disse...

Cavaleiro : É reconfortante vermos que ainda existem pessoas neste país com ética ,e que desejam tão somente tocar sua vida e sua obra .Naturalmente este tipo de notícia não interessa à imprensa vendida ,que quer somente noticiar os grandes feitos do Ogro-de-Nove-Dedos
Abraços

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
"Para conseguir sua maturidade o homem necessita de um certo equilíbrio entre estas três coisas: talento, educação e experiência." (De civ Dei 11,25)
Cuidado com seus pensamentos: eles se transformam em palavras. Cuidado com suas palavras: elas se transformam em ação. Cuidado com suas ações: elas se transformam em hábitos. Cuidado com seus atos: eles moldam seu caráter.
Cuidado com seu caráter: ele controla seu destino.
A perversão da retórica, que falseia a lógica e os fatos para vencer o adversário em luta desleal, denomina-se erística. Se a retórica apenas simplifica e embeleza os argumentos para torná-los atraentes, a erística vai além: embeleza com falsos atrativos a falta de argumentos.
‎"O que me leva ao conservadorismo é a pesquisa e a investigação da realidade. Como eu não gosto de futebol, não gosto de pagode, não gosto de axé music, não gosto de carnaval, não fumo maconha e considero o PT ilegal, posso dizer que não me considero brasileiro - ao contrário da maioria desses estúpidos que conheço, que afirma ter orgulho disso". (José Octavio Dettmann)
" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".