01/11/2009
No dia 12 de novembro de 2002 eu estava em Havana recolhendo subsídios para um livro. No bolso, uma lista com nomes de jornalistas independentes que me fora fornecida pela amiga pernambucana Graça Salgueiro. Pretendia ouvir aqueles obscuros personagens que, com enormes riscos pessoais, enviavam informações ao mundo. De que modo faziam isso ? Do mesmo modo utilizado hoje. Como cubanos, cidadãos de segunda categoria em seu país, eles não podem fazer o que aos estrangeiros é permitido. Então, ou se valem do generoso e discreto auxílio de colegas não cubanos com acesso ao Centro de Imprensa ou de contatos em hotéis e outros raros pontos onde estejam disponíveis conexões à internet. Eu trazia comigo, repito, os nomes de três ou quatro dezenas desses bravos “periodistas” marginalizados pelo regime. Mas não sabia como os localizar.
Em Havana, os cubanos te param na rua a cada dez passos para oferecer chicas e charutos ou para se disponibilizar como guias turísticos. Estes últimos fazem pl antão diante dos hotéis e costumam ser muito cordiais. Todos rendem a maior solicitude a uma nota de dez dólares (é mais do que o salário de um mês). Então, por duas vezes, na tarde daquele dia, tentei usar a intermediação desses cubanos para me ajudarem a contatar com alguns daqueles jornalistas, sem resultado. Sem resultado? Minto. Ao exibir para essas pessoas os nomes que a Graça me fornecera, colhi um resultado, sim: um esgazeado olhar de pânico lançado ao redor, seguido de súbita e silenciosa retirada. O cubano vive com medo. E eu, naquele exato dia, desisti de encontrar meus periodistas independientes. A minha lista era assustadora.
Essas e outras experiências pelas quais passei, como, por exemplo, a de ser filmado e seguido nas ruas depois de conversar com alguns dissidentes, me põem as barbas de molho sobre a possibilidade de que a blogueira Yoani Sanchez seja quem diz ser. O tema foi muito bem levantado em recentes artigos pela própria Graça Salgueiro (notalatina.blospot.com) e pelo psiquiatra rio-grandino residente no Rio, Heitor de Paola (www.heitordepaola.com). A existência de alguém como a blogueira, vivendo em Cuba, dizendo o que diz, livre, leve e solta é algo bem além das fronteiras do crível.
Entendamo-nos, leitor. Antes de retornar para o Brasil, eu tive o cuidado de destruir a lista de nomes que levava comigo porque, em virtude das experiências que relatei no livro “Cuba, a tragédia da utopia”, temi ser revistado ao passar pela Seguridad del Estado no aeroporto José Martí. Pois eis que em março de 2003 um arrastão repressivo varreu a Ilha. Setenta e cinco pessoas presas. Jornalistas independentes e dissidentes políticos condenados a penas que chegavam a 25 anos naquelas infectas prisões políticas. E entre esses presos se contavam três dos quatro dissidentes que eu havia conseguido entrevistar, quando em Havana, porque destes eu tinha comigo os telefones (mais tarde descobri que eram grampeados, o que deu origem aos incidentes que se seguiram).
Pois bem, se as coisas em Cuba são assim, como pude constatar pessoalmente, parece-me pouco verossímil que Yoani Sanchez não conte com beneplácito do regime. Seria muito estranho. Sua liberdade de movimentos não combina com os fatos num país onde toda a brutalidade é possível e onde qualquer liberdade é improvável. Basta conversar com um cubano para perceber que emitir opinião contra o regime lhes faz mal à saúde pessoal e familiar. No universo das probabilidades, a maior delas é a de que dona Yoani esteja na missão de sugerir ao mundo que lá se pode, livremente, fazer o que ela faz.
4 comentários:
Cavaleiro :Muito me agrada ver que não estou sozinho no mundo ,porque me causa estranheza a existência de uma blogueira com facilidades para postar quase que diariamente ,e cuja vida é mostrada pela tv e em jornais .Os blogueiros brasileiros fazem campanhas para que a mesma seja liberada para receber seus premios ,sem se tocar que só ela em todo o páis consegue escrever um livro ,mandar os originais para fora e ainda ter e manter um blog que ataca de certa forma o regime vigente.
Esta abordagem me deixa feliz mesmo ,porque sempre procuro ver o outro lado das coisas para ter certeza do que é verdadeiro e do que não é.Na realidade diante dessas afirmações percebe-se que esta mulher é apenas um fantoche comunista que tem uma determinada missão nos planos sombrios do camarada Fidel .Talvez um dia possamos saber a "verdadeira " verdade sobre Yoani Sanchez.
Abraços
"É verdade ela deve ser um deles cuidado com o Comunismo esse movimento humanista tem matado mais que a fome e o desemprego além das desetruturação familiar e desemprego em massa. Cuidado ou eles iram acabar com nosso lindo mundo do jeito que esta. Ah adora levantar e ver tudo que é 'meu' e esses comunista aposto que nada materia eles tem por isso querem tomar tudo dos outros." Nossa...Cristo nos salve de nossa ignorância. Você sabe definir o que é Comunismo?
Se vcs procurarem se informar saberam que essa cidadã e muito perseguida em sua nação e sua familia também pelo governo nacionalista e ditatória do castrimo. E o blog dela é probibo os cubanos com net não consegue entrar nele.
Edson, você é semi-alfabetizado. Conversar contigo no nível em que deseja é como conversar com Lula sobre, digamos, Platão. Volte para a turma dos que escolheram a estupidez arrogante como maneira de viver e ver o mundo, ok?
Cavaleiro do Templo.
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