O orgulho leva ao ódio a toda superioridade, e, pois, à afirmação de que a desigualdade é em si mesma, em todos os planos, inclusive e principalmente nos planos metafísico e religioso, um mal. É o aspecto igualitário da Revolução.
A sensualidade, de si, tende a derrubar todas as barreiras. Ela não aceita freios e leva à revolta contra toda autoridade e toda lei, seja divina ou humana, eclesiástica ou civil. É o aspecto liberal da Revolução.
Ambos os aspectos, que têm em última análise um caráter metafísico, parecem contraditórios em muitas ocasiões, mas se conciliam na utopia marxista de uma paraíso anárquico em que uma humanidade altamente evoluída e “emancipada” de qualquer religião vivesse em ordem profunda sem autoridade política, e em uma liberdade total da qual entretanto não decorresse qualquer desigualdade.
A Pseudo-Reforma foi uma primeira Revolução. Ela implantou o espírito de dúvida, o liberalismo religioso e o igualitarismo eclesiástico, em medida variável aliás nas várias seitas a que deu origem.
Seguiu-se-lhe a Revolução Francesa, que foi o triunfo do igualitarismo em dois campos. No campo religioso, sob a forma do ateísmo, especiosamente rotulado de laicismo. E na esfera política, pela falsa máxima de que toda a desigualdade é uma injustiça, toda autoridade um perigo, e a liberdade o bem supremo.
O Comunismo é a transposição destas máximas para o campo social e econômico.
Estas três revoluções são episódios do uma só Revolução, dentro da qual o socialismo, o liturgicismo, a “politique de la main tendue”, etc., são etapas de transição ou manifestações atenuadas. Sobre os erros através dos quais se opera a penetração larvada do espírito da Revolução em ambientes católicos, o Exmo. Revmo. Sr. D. Antônio de Castro Mayer, Bispo de Campos, publicou uma Carta Pastoral da maior importância [2].
[1] cfr. Leão XIII, Encíclica “Parvenus à la Vingt-Cinquième Année”, de 19-III-1902 – “Bonne Presse”, Paris, vol. VI, p. 279).
[2] Carta Pastoral sobre os Problemas do Apostolado Moderno - Boa Imprensa Ltda., Campos, 1953, 2ª. edição. "
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A causa é sempre maior que o efeito, portanto todo autor é maior que sua obra intelectual, qualquer que ela seja. O pensamento vasto e rico de Dr. Plinio vai muito além de sua obra básica, e ele o explicitou através de diversos outros livros e de considerável série de conferências aos membros do movimento por ele fundado em 1960, a Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade — TFP. Aprofundou também esse conteúdo em palestras, comissões de estudos, artigos para jornais e revistas, manifestos, consultas que recebia de simpatizantes dos cinco continentes, sem contar os sábios conselhos que dava, segundo os princípios de Revolução e Contra-Revolução, aos que lhe pediam uma orientação pessoal.
Todo esse vasto ensinamento forma um invulgar acervo de sabedoria, de grande envergadura, e a consideração de uma obra isoladamente não permite medir-se a grandeza da vocação de Plinio Corrêa de Oliveira. Entretanto, nesta imponente manifestação de sabedoria, Revolução e Contra-Revolução ocupa lugar de especial destaque, a tal ponto que o autor desejou que sua cabeça repousasse sobre um exemplar dessa obra em seu esquife.
Mais que uma sinopse de seu pensamento, Revolução e Contra-Revolução é uma síntese do ideal ao qual ele consagrou sua vida. Síntese que haveria de se tornar o ponto de união para a coorte de discípulos que colaboravam com ele no embate contra a Revolução gnóstica e igualitária, visando opor-lhe obstáculos e mesmo destruí-la [Vide quadro à p. 33]. Tinha em vista ainda contribuir para o lançamento das bases do Reino de Maria, pregado por São Luís Maria Grignion de Montfort (1673 -1716) no Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, e anunciado por Nossa Senhora em Fátima, em 1917, com as proféticas palavras: “Por fim meu Imaculado Coração Triunfará”.
É a justo título, portanto, que os discípulos de Plinio Corrêa de Oliveira tomam como tema central de suas reflexões e atividades Revolução e Contra-Revolução — que, a partir deste ponto, denominarei R-CR, sigla com a qual seus seguidores designam a obra desde seu lançamento no centésimo número de Catolicismo (abril de 1959).
Primeiras idéias sobre a Revolução e a Contra-Revolução
Para melhor compreensão desta matéria, iniciarei com uma breve exposição histórica sobre a gênese do livro na vida de Plinio Corrêa de Oliveira e na história do pequeno grupo inicial de seus discípulos.
Nas entrevistas que Dr. Plinio concedeu a jornalistas de diferentes partes do mundo, quase infalivelmente uma das primeiras questões que lhe propunham era esta: “Que livro teve papel determinante em sua vida?”; ou: “Em que obra formou suas idéias?”. Para grande surpresa deles, Dr. Plinio explicava que formara suas idéias no grande livro da vida. Na concepção um tanto “livresca” de alguns desses jornalistas, esta originalidade interrompia a seqüência de livros que nascem uns dos outros. Não foi lendo livros que as primeiras idéias sobre a Revolução e a Contra-Revolução germinaram na mente do jovem Plinio: “Em vez de ler a doutrina num livro e aplicá-la aos fatos, instintivamente tive que tomar posição diante dos fatos e adivinhar a doutrina que eles continham”, explicou ele.
As primícias do pensamento expresso muitos anos depois em R-CR vieram-lhe instintivamente ao comparar o ambiente agitado, vulgar, descortês que dominava o pátio de recreio do Colégio São Luís (dos padres jesuítas, na capital paulista, que freqüentava) com o ambiente digno, solene, recolhido que reinava na residência de sua avó materna, Da. Gabriela Ribeiro dos Santos, que ele associava ao ambiente piedoso e elevado das missas dominicais da paróquia do Sagrado Coração de Jesus.
Foi elaborando seu pensamento ao observar que seus companheiros mais vulgares eram ao mesmo tempo os mais irreligiosos, os mais grosseiros; gostavam de contar piadas impuras, revoltavam-se facilmente contra a autoridade dos professores, preferiam os filmes de Hollywood às revistas que vinham da Europa. Para estarem na moda, proclamavam-se “republicanos” e ridicularizavam os membros da família imperial, destronada poucos anos antes.
Dois mundos — dois inimigos irreconciliáveis
Plinio Corrêa de Oliveira aos 11 anos de idade. |
Assim, aos 11 anos, Dr. Plinio compreendeu os vínculos que existiam entre irreligião, igualitarismo e imoralidade, de um lado; e de outro a Religião, o espírito de hierarquia e a castidade. De onde concluir, ainda em sua infância: “Este mundo novo e eu somos dois inimigos irreconciliáveis. Serei pela Igreja, pela castidade e pela monarquia; serei pela hierarquia social e pelas boas maneiras; ainda que, para isso, eu tenha que me tornar o último dos homens, pisado, esmagado, triturado”.
Compreendeu aos poucos que o choque entre esses dois mundos (o do lar tradicional de sua avó e o do recreio dos alunos na escola dos jesuítas) fazia parte de um processo mais amplo, velho de vários séculos, que abrangia toda a civilização ocidental. Ignorava ainda as características desse processo, que se desenvolvia entre dois pólos: sociedade católica e hierárquica da Idade Média (representada em seu espírito pela figura de Carlos Magno e seus pares, que ele começara a admirar quando durante uma viagem de trem leu um livro a respeito) e a sociedade atéia e igualitária da Rússia comunista, sobre a qual os jornais daquela época davam a conhecer fatos apavorantes todos os dias.
Interação entre libertinagem e comunismo
Mais tarde, ao entrar na universidade, Dr. Plinio chegou à conclusão de que o comunismo e as revoluções sociais precedentes não eram questões puramente políticas, mas predominantemente morais. Se o pólo do bem alimentava-se das virtudes cristãs, o pólo do mal encontrava seu dinamismo nas paixões desordenadas, rebeladas contra a ordem posta por Deus no Universo. Assim, aos 21 anos, explicava em um artigo a revolta dos homens contra a verdade: “Por causa, principalmente, do orgulho e desregramento dos sentidos, rebeldes a todo o freio, a toda a lei” (“O Legionário”, nº 64, de 24-8-30, pp. 1 e 3 –– Quid est veritas?).
Nota-se um aprofundamento desta noção (a ligação entre as paixões desordenadas e as revoluções) em outro de seus artigos para o semanário “O Legionário”, em que fazia uma aproximação de causa e efeito entre a corrupção do carnaval do Rio de Janeiro e o progresso do comunismo:
“Para 90% dos paulistas — a porcentagem talvez seja otimista — nenhum nexo há entre carnaval e comunismo. [...] Entretanto, há um nexo, e não é difícil demonstrá-lo. Depois de três dias de troça imensa, em que foram aplaudidas entusiasticamente e praticadas deliberadamente todas as transgressões da moral privada –– e em que foi malbaratada a dignidade pessoal, foi destruído o lar, e foi talvez maculado o nome de famílias inteiras –– que ardor, que entusiasmo, que empenho poderá ter um carnavalesco em combater o comunismo e o amor livre, e em defender a integridade da família? Não é certo que um carnavalesco é um homem semiconquistado para o amor livre, e por isto mesmo semiconquistado para Lenine? [...]
“A propriedade e a família são duas coisa inseparáveis, e qualquer sociólogo ou filósofo, mesmo de segunda classe, não ignora nem contesta esta verdade. Quem é pelo amor livre tem de ser necessariamente contrário à propriedade individual, e vice-versa. Depravando a família, o carnaval solapa implicitamente a propriedade.
“No entanto a cegueira é tal, que todos colaboram para que nenhum setor da sociedade deixe de ser atingido pela influência de Momo” (“O Legionário”, nº 285, 27-2-38 –– Momo, agente de Stalin).
Em artigo contra o nazismo, podemos constatar que ele percebia, muito antes de escrever o livro R-CR, a conexão entre sensualidade desregrada e comunismo:
“A Providência deu-me sempre a graça de ver a fundo o mal que o liberalismo produzia e produz na sociedade contemporânea, o câncer profundo e voraz que ele instalou no mais íntimo das vísceras do mundo hodierno. Percebi nitidamente como, do bojo de suas doutrinas, saía o comunismo anarquizante e ateu. Detestei de todo o coração a árvore e os frutos; e, respeitador da autoridade por temperamento e por força da educação, na luta contra o liberalismo e o comunismo levei todo o vigor de minhas convicções religiosas, de minhas convicções políticas e das tendências essenciais de meu temperamento” (“O Legionário”, nº 318, 16-10-38 –– A aurora dos deuses).
Dr. Plinio percebia a interação entre liberalismo e comunismo, assim como a cumplicidade dos mais influentes meios na difusão do liberalismo. Mas, desde cedo, teve ainda a intuição de que havia uma conspiração por trás do progresso das paixões desordenadas dentro da sociedade. A leitura do livro A Conjuração Anticristã, de Mons. Henri Delassus, confirmou-o nesta convicção e forneceu-lhe os elementos históricos que lhe faltavam para basear sua tese.
Interação entre protestantismo e comunismo
“Rios nascidos em uma mesma fonte, o protestantismo... |
Paralelamente a isso, formava-se nele também uma noção cada vez mais clara das etapas que a Revolução havia atravessado (protestantismo, Revolução Francesa, comunismo), bem como de seu caráter satânico. Ao comentar uma nota de imprensa que noticiava a adesão de um pastor protestante alemão ao partido comunista, escreveu:
“Cristão a princípio, teve no entanto o livre exame protestante uma conseqüência imediata: fez nascer, ao lado das confissões reformistas, uma forte corrente racionalista que, através do deísmo de Voltaire, atingiu o ateísmo total de Rousseau.
“Este, estendendo as aplicações práticas de seus princípios ao campo da organização política e social, determinou a sangrenta explosão de 1789. E com esta Revolução triunfaram as idéias igualitárias, destruindo totalmente a hierarquia na organização política e sabotando-a seriamente na organização social.
... e o comunismo convergem para os mesmos fins, desembocando ambos no abismo do materialismo absoluto” |
“Daí por diante, um movimento foi estendendo a aplicação dos princípios igualitários às questões econômicas: surgiu o comunismo.
“Eis, em rápidos traços, a genealogia que estabelece um parentesco muito estreito entre o protestantismo e o comunismo. Rios nascidos em uma mesma fonte, convergem para os mesmos fins, desembocando ambos no abismo do materialismo absoluto” (“O Legionário”, nº 90, 22-11-31 –– Babel Protestante).
Ambientes, imagem e semelhança dos homens
Um dos aspectos mais originais do pensamento de Dr. Plinio, que foi amadurecendo aos poucos e do qual se encontram fragmentos em publicações, é a importância que ele dava às tendências e aos ambientes no processo revolucionário.
Pelos relatos que fez dos primeiros anos de sua vida, sabemos que era muito sensível aos imponderáveis dos ambientes, e percebia com perspicácia a influência que eles exerciam sobre aqueles que os compunham ou que deles participavam. Sabemos também que, como reação ao racionalismo, interessou-se pelos escritos do romancista Marcel Proust, que brilhava precisamente por suas descrições de ambientes.
Mais tarde, entusiasmou-se pela literatura de J.K. Huysmans (escritor francês convertido do satanismo ao catolicismo), que se distinguia principalmente pela arte de descrever os imponderáveis que emanavam dos ambientes da Igreja Católica.
Eis, por exemplo, um trecho de artigo de “O Legionário”, em 1932:
“Sob o ponto de vista estritamente religioso, interessava principalmente o novo gênero de apologética que Huysmans tentou instituir. [...] Huysmans faz da Igreja uma descrição material objetiva, através da qual procura fazer ressaltar, com inimitável habilidade, os lampejos de sobrenaturalidade que se desprendem da liturgia magnífica, enriquecida por um simbolismo comovedor, do cantochão estupendo, nas sua imprecações veementes, no tumultuar de suas contrições, na explosão de seus surtos de confiança na Providência Divina, no lacrimejar harmonioso de seus ofícios de defuntos” (“O Legionário”, nº 94, 21-2-32, Huysmans [II] En Route).
Em seu interesse por Huysmans, observamos já os germens do que ele acentuaria mais tarde: a idéia de que “os homens formam para si ambientes à sua imagem e semelhança, ambientes em que se espelham seus costumes e sua civilização. Mas a recíproca também é verdadeira em larga medida: os ambientes formam à sua imagem e semelhança os homens, os costumes, as civilizações”. Este princípio foi extraído de um artigo publicado mais de cinco anos antes do lançamento da R-CR (Catolicismo nº 37, janeiro/1954 –– Sede prudentes como as serpentes e simples como as pombas).
“Idéias não são roupas que se vestem ou se despem”
O princípio segundo o qual os ambientes modificam as convicções dos homens é aplicado ao carnaval em outro artigo de “O Legionário”, no qual comenta os seus efeitos sobre as pessoas que dele participam. Notem os leitores que Dr. Plinio fala do carnaval dos anos 40, bem menos sensual que o de hoje, mas que também era pernicioso:
“Há uma regra de moral que afirma: ‘nada de péssimo se faz subitamente’. É contra todas as regras da psicologia humana supor que pessoas muito dignas, muito moralizadas, muito sensatas, conseguem depor inteiramente as suas idéias durante os três dias do carnaval, e depois repô-las intactas, imaculadas, inteiriças, após os festejos de Momo.
“Idéias não são roupas que se vestem ou se despem.
“Se alguém procede, durante o carnaval, de modo extremamente leviano, é isto prova de que anteriormente há uma falha na couraça moral dessa pessoa. Por outro lado, se essa pode ter ocasionado a renúncia momentânea a certas atitudes e a certas idéias durante o carnaval, como é difícil voltar, depois, à primitiva linha de moral!” (“O Legionário” nº 492, 15-2-42 –– Pearl Harbour e o Carnaval).
Salvação do mundo: recorrer à seiva do catolicismo
Paralelamente ao aprofundamento de seu pensamento concernente à Revolução, Dr. Plinio avançava também sua reflexão sobre a Contra-Revolução. A primeira conclusão que tirou dessa reflexão foi que a força-motriz da Contra-Revolução é a graça divina distribuída pela Igreja Católica, e que de nada adiantaria uma ação política sem uma conversão religiosa da humanidade:
“Comunismo ou catolicismo, eis o dilema a que não se pode fugir. Ou a dissolução continua sua marcha, e nos arrasta ao comunismo pelo apodrecimento de toda a organização política e social do País, ou voltamos atrás e –– recorrendo à seiva do catolicismo, que já uma vez salvou uma civilização que também estava podre –– pomos Deus nas escolas, nas constituições, nos lares, nos clubes e principalmente nos caracteres” (“O Legionário” nº 79, 10-5-31 – O triunfo de Cristo-Rei nas escolas).
A segunda conclusão era que esta Contra-Revolução devia ser radical:
“O mundo não pode ser salvo por formas diluídas de cristianismo, ou por sistemas que representem uma etapa comodista ou preguiçosa nas sendas da restauração da Cristandade. Nosso leitmotiv deve ser o de que, para a ordem temporal do Ocidente, fora da Igreja não há salvação. Civilização católica, apostólica, romana, totalmente tal, absolutamente tal, minuciosamente tal, é o que devemos desejar. A falência dos ideais políticos, sociais ou culturais intermediários está patente. Não se pára no caminho de volta para Deus: parar é retrogradar, parar é fazer o jogo da confusão. Nós só queremos uma coisa: o catolicismo completo” (“O Legionário”, 13-5-45 –– A grande experiência de 10 anos de luta).
Formação de um movimento contra-revolucionário
Podemos certamente datar da metade dos anos 40 –– portanto, pouco após a publicação do primeiro livro de Plinio Corrêa de Oliveira, Em Defesa da Ação Católica –– o período em que o autor já tinha explicitado todas as idéias-mestras da R-CR.
Se me detive na minuciosa descrição desses antecedentes, um tanto distantes, das idéias-mestras da R-CR, é para que os leitores sentissem quanto é verdadeiro o que está exposto no início: a) de um lado, R-CR é a mais bem acabada síntese de um pensamento que vinha de muito longe; e b) de outro, este pensamento é, em termos abstratos, a explicitação da posição que Dr. Plinio teve que tomar instintivamente diante da Revolução com a qual se confrontou desde a mais tenra idade.
Contudo, estou certo de que a curiosidade dos leitores não se limita a conhecer tais antecedentes distantes, e gostariam também de saber como se deu a redação de R-CR. Não foi como no alto do Monte Sinai, em meio a clarões e tempestades, pois não foi esse o procedimento habitual da Divina Providência com relação a Dr. Plinio.
Para começar, o livro foi escrito tranqüila e modestamente, com a finalidade de responder às circunstâncias rotineiras de seu apostolado contra-revolucionário. Em breves palavras, a redação está ligada às viagens que Dr. Plinio fez à Europa em 1950 e 1952. Durante essas curtas estadias, encontrou movimentos e intelectuais, o que havia de mais contra-revolucionário ou menos daquele lado do Atlântico. Além disso, é preciso salientar que um de seus objetivos era encontrar um líder a quem pudesse confiar seu próprio pequeno grupo. Líder que, para ele, à vista da nobreza da Contra-Revolução, só podia ser um príncipe da Igreja (um Cardeal, por exemplo) ou um príncipe de uma grande dinastia européia. Nessas curtas viagens, percebeu entretanto que todos esses movimentos — quer fossem de natureza religiosa, reagindo contra os erros do progressismo, ou de natureza temporal, combatendo o comunismo e o socialismo — tinham uma visão parcial e incompleta da Revolução, e muitas vezes uma visão deformada pelos erros do que ele denominaria mais tarde “falsa direita”.
Ao mesmo tempo, deu-se conta de que seus interlocutores europeus olhavam-no um pouco de cima para baixo, como que de um pedestal (eles representavam o Velho Mundo culto, e Dr. Plinio o Novo Mundo; exibiam uma genealogia que remontava aos ultramontanos do século XIX, enquanto o pequeno movimento brasileiro parecia ter nascido ontem; e assim por diante). A fim de vencer as reticências, e colaborar visando um trabalho comum, faltava-lhe um “cartão de visita” prestigioso, apesar da sua condição de professor titular de uma cátedra na Universidade Católica de São Paulo.
Prolegômenos de um ensaio que seria uma obra-mestra
A redação de Revolução e Contra-Revolução está ligada às viagens que Dr. Plinio fez à Europa em 1950 e 1952. Durante essas curtas estadias, encontrou movimentos e intelectuais, o que havia de mais contra-revolucionário daquele lado do Atlântico. |
Destas constatações nasceu em Dr. Plinio a idéia de fundar a revista Catolicismo, que posteriormente ele se apressou em remeter a todas as pessoas que visitara durante suas viagens. Como fruto desse intercâmbio, em fins de 1958 chegou-lhe um convite para escrever um artigo sobre seu pensamento para uma revista européia.
Pôs-se então ao trabalho, como teria feito para redigir um artigo de segunda importância, do qual não esperava grande resultado. Mas à medida que escrevia, sentia uma ajuda particular da graça: as idéias vinham-lhe facilmente ao espírito, grandes panoramas se descortinavam a seus olhos, a pena corria agilmente.
Lembro-me perfeitamente de ter encontrado Dr. Plinio chegando à sede de nosso pequeno grupo (naquela época, situado à rua Vieira de Carvalho, em São Paulo), e percebi que ele estava particularmente contente. Como eu tinha conhecimento do artigo que ele estava redigindo, percebi que tal contentamento era devido ao resultado do trabalho, e que algo especial se passava.
Alguns dias depois, vi que ele estava radiante. Nesse momento, comunicou-me que o artigo ultrapassava, de longe, o tamanho solicitado, e já atingia as proporções de um livro. Acrescentou: “Escreverei um outro artigo para enviar aos nossos amigos europeus”.
Duas ou três semanas depois, ele estava transbordando de contentamento. Nos 40 anos que se seguiram até sua morte, não me lembro de tê-lo visto novamente com tanta alegria. Era um acontecimento! Apesar de sereno como de costume, ele exultava. Nessa ocasião, exprimiu-me a idéia de que estava particularmente feliz de ter podido enunciar a síntese última de seu pensamento a respeito do assunto Revolução e Contra-Revolução. Com efeito, algumas semanas depois o ensaio estava pronto, e Dr. Plinio partia para Santos com o saudoso Dr. José Carlos Castilho de Andrade, para fazer a revisão do livro.
“Uma obra profética no melhor sentido da palavra”
A mediação universal e onipotente da Mãe de Deus é a maior razão de esperança dos contra-revolucionários. E em Fátima Ela já lhes deu a certeza da vitória. |
Por um providencial acúmulo de circunstâncias, o que foi concebido por ocasião do centésimo número deCatolicismo foi mais do que um simples “cartão de visita”para os europeus. Na verdade foi um monumento do pensamento católico que saía a lume, justamente pouco antes da fundação em São Paulo da primeira TFP, para servir de “livro de cabeceira” à sua coorte de discípulos e simpatizantes no mundo todo.
Se pensarmos no futuro, estou certo de que a R-CRservirá de livro de referência a todos os contra-revolucionários até o fim dos tempos, e de base intelectual da Cristandade restaurada que nascerá após os castigos anunciados em Fátima.
Fazendo minhas as palavras do falecido Padre Anastácio Gutiérrez, CMF, ilustre canonista e professor das melhores universidades romanas, concluo dizendo que Revolução e Contra-Revolução “é uma obra magistral, cujos ensinamentos deveriam ser difundidos até fazê-los penetrar na consciência de todos os que se sintam verdadeiramente católicos, eu diria mais, de todos os homens de boa vontade. Nela, estes últimos aprenderiam que a única salvação está em Jesus Cristo e na sua Igreja, e os primeiros se sentiriam confirmados e robustecidos em sua fé, prevenidos e imunizados psicologicamente e espiritualmente contra um processo astuto que se serve de muitos deles como idiotas-úteis companheiros de viagem. [...] Em suma, ousaria dizer que se trata de uma obra profética no melhor sentido do termo; mais ainda, seu conteúdo deveria ensinar-se nos centros superiores da Igreja, para que ao menos as classes de elite tomem consciência clara de uma realidade esmagadora, da qual — creio — não se tem nítida consciência. Isso, entre outras coisas, contribuiria para revelar e desmascarar os idiotas-úteis companheiros de viagem, entre os quais se encontram muitos eclesiásticos que fazem, de um modo suicida, o jogo do inimigo: esse setor de idiotas aliados da Revolução desapareceria em boa medida”
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Com essas considerações, espero que os leitores de Catolicismo sintam-se estimulados a obter na R-CR um conhecimento mais aprofundado da Revolução, e também que tais considerações os auxiliem a ter um maior empenho e dedicação à luta contra-revolucionária. Assim, a Revolução gnóstica e igualitária, que visa destruir a Igreja e os restos de Cristandade que ainda sobrevivem nos dias atuais, será liquidada mais brevemente em todo mundo, e isso antecipará a aurora do Reino do Imaculado Coração de Maria.
E-mail para o autor: catolicismo@catolicismo.com.br
Síntese de Em Catolicismo, os termos “Revolução” e “Contra-Revolução” são sempre empregados segundo o conceito exposto magistralmente por Plinio Corrêa de Oliveira em Revolução e Contra-Revolução. A seguir, um resumo dessa obra. O autor designa como “Revolução gnóstica e igualitária” o movimento que vem destruindo a Cristandade desde o declínio da Idade Média — época em que o ideal católico de sociedade mais se aproximou de sua realização. “Gnóstica”, porque nega a Deus como um Ser pessoal, legislador (que estabeleceu o Decálogo) e transcendente a toda a Criação, origem e fim último do homem. Portanto, um Deus a Quem devemos obedecer, servir e amar. “Igualitária”, porque promove a revolta contra as desigualdades harmônicas que o próprio Deus estabeleceu amorosamente entre todos os seres criados. A Parte I da obra discorre sobre as três grandes Revoluções: - Pseudo-Reforma protestante (século XVI) - Revolução Francesa (século XVIII) - Revolução Comunista (século XX). Na Parte II, trata da Contra-Revolução como sendo a reação organizada para se opor à Revolução e restaurar a Cristandade. Na Parte III, descreve o nascimento da IV Revolução — a Revolução Cultural, que procura implantar uma sociedade tribal e anárquica — e acena para o surgimento de uma V Revolução, na qual se percebe a entrada do satanismo. A partir de Gorbachev, da espetacular queda do Muro de Berlim em 1989, e da Cortina de Ferro em 1991, o autor desmascara a metamorfose comunista, que consistiu em ostentar uma cara risonha para enganar o Ocidente e disseminar seus erros. A tática dos comunistas com a política denominada de Perestroika e Glasnost, fazia crer que o comunismo estava morto, para assim desmobilizar o anticomunismo. Ainda na Parte III, discorre sobre o papel do Concílio Vaticano II e da política vaticana conhecida como Ostpolitik — atuação que procurava estender a mão ao regime comunista.
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