Atila Sinke Guimarães **
Tem havido inesperadas conseqüências sócio-políticas, oriundas tanto da crise de Wall Street quanto da intensa intervenção do governo norte-americano no sistema bancário. Desde que o gigantesco mercado americano perdeu seu equilíbrio e caiu nas águas do mundo das finanças, os que caíram não puderam evitar os desastrosos efeitos dos salpicos de água que se projetaram para todos os lados.
Em quase todos os países do Ocidente, as reservas financeiras estão sendo aplicadas em políticas de resgate, para comprar os bancos e “salvá-los” da bancarrota. Eis como o The Tablet – o semanário progressista de esquerda de Londres – vê as conseqüências do resgate dos bancos feito pelo governo britânico:
“O que parecia uma simples crise no sistema
bancário, se converteu, nesta semana, em algo parecido com uma calamidade. O plano emergencial de resgate anunciado por Gordon Brown e Alistair Dairing teria sido inimaginável algumas semanas atrás. Como a nacionalização dos bancos foi durante muito tempo uma das ambições do esquerdista Partido Trabalhista, nem sequer Tonny Benn teria podido imaginar que alcançaria isso desse jeito. E apesar desta dramática medida e das futuras que o Banco da Inglaterra realize, não há certeza de que o sistema financeiro se recuperará rapidamente.”
“Estes são – afirmaram o Primeiro-Ministro e o Chanceler – tempos extraordinários. Também podem representar o final de uma era bancária.” (Editorial, El Tablet, 11 de outubro de 2008, p. 2).
Medidas governamentais similares, de compra dos bancos em colapso, têm sido tomadas com rapidez em quase todas as partes, tanto por governos de esquerda como conservadores. As causas mais comuns alegadas para o colapso de Wall Street incluem a queda nos preços das casas nos Estados Unidos e a conseqüente desproporção entre os novos preços baixos e o valor anteriormente estabelecido como hipoteca. Estabelecida essa diferença, as pessoas em massa deixaram de pagar suas hipotecas e os bancos ficaram sem fundos.
Ao mesmo tempo, os banqueiros viram o fracasso de suas especulações de alto risco, nas quais haviam de modo irresponsável investido dinheiro que não tinham e que não puderam recuperar. Outro fator da crise foi a mentalidade ambiciosa dos clientes que pressionaram os bancos para obter rendimentos em curto prazo para as suas aplicações.
Não obstante essas causas, o remédio – a intervenção do Estado para “salvar” a economia – parece ter sido ainda pior do que a crise. Sob o pretexto de sustentar por mais algum tempo os moribundos gigantes do sistema bancário, eles foram nacionalizados.
Ademais, os primeiros 700 bilhões de dólares aprovados nos Estados Unidos para remediar a situação, parecem insuficientes par cobrir o abismo de dívidas que o sistema bancário criou nas últimas décadas. Já há experts que pedem uma segunda operação de resgate porquanto outros bancos entraram em crises similares. Parece hoje como se os bancos e instituições financeiras – até agora consideradas como prestigiosas instituições responsáveis pelo controle de tudo – já não são capazes de caminhar por si mesmas, e necessitam apoiar-se nas muletas do Estado.
Portanto, parece que de agora em diante o governo será o dirigente da economia, com todas as conseqüências que essa situação traz para a vida privada dos norte-americanos. O governo praticamente tomará o controle da hipotecas, dos empréstimos bancários e das aplicações financeiras que cada americano realize.
É difícil acreditar que a livre iniciativa, que tem sido um dos dogmas do capitalismo, possa continuar existindo validamente. Em síntese, o capitalismo selvagem – a especulação financeira que produz o dinheiro fácil – parece desaparecer em uma economia controlada pelo Estado: socialismo.
Em um mês, esta crise financeira nos Estados Unidos e no Ocidente fez mais a favor da agenda socialista do que o que foi obtido pelos próprios governos socialistas em décadas. A crise fornece o pretexto para nacionalizar todo o sistema bancário.
A Teologia da Libertação assume a direção da ONU
A crise financeira tirou nossa atenção de um outro importante evento. Frei Miguel d’Escoto foi eleito presidente da 63ª. Assembléia Geral da ONU e assumiu o cargo em 16 de setembro de 2008.
Frei Miguel d’Escoto foi um dos líderes da Revolução Sandinista, na qual um bando guerrilheiro ampliou sua luta por meio de uma guerra civil até tomar o poder na Nicarágua em 1979.
Nessa época, Frei d’Escoto e o Ministro da Educação, Frei Ernesto Cardenal, representaram os novos destaques da vitória sandinista: pela primeira vez na história, dois padres católicos foram ministros em um governo marxista.
Na Noite Sandinista, Ortega ao centro com o punho cerrado, e à direita Frei Beto e Frei d’Escoto |
Foi também uma vitória da Teologia da Libertação, devidamente comemorada em São Paulo, um de seus principais centros.
O Cardeal Evaristo Arns, Arcebispo desta cidade, patrocinou a Noite Sandinista (28 de fevereiro de 1980), para prestar homenagem às guerrilhas e apresentar a Nicarágua como um modelo para toda a América Latina. As Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) deram forte apoio à guerrilha nicaragüens. São Paulo foi a cidade onde elas se tornaram mais numerosas e bem sucedidas.
Em 2006, graças, em parte, ao apoio da Igreja e das CEBs, Daniel Ortega novamente voltou ao poder na Nicarágua, desta vez através de eleições democráticas. Não obstante os comentários ingênuos ou colaboracionistas feitos pela mídia do Ocidente, afirmando que Ortega mudou e que não é mais comunista, ele tem claramente demonstrado o oposto.
Por exemplo, no último encontro do Fórum de São Paulo, Ortega prestou pública homenagem ao líder comunista das FARCs colombianas, Raul Reyes, que foi morto quando lutava contra as forças governamentais.
Foi Daniel Ortega, de fato, quem propôs o nome de Frei d’Escoto para dirigir a ONU. Sua sugestão foi aceita, e agora a ONU está sob influência da Teologia da Libertação.
A revista Américachama a escolha de d’Escoto de um “transplante de coração” para a ONU (8 de setembro de 2008, pp. 19-21). O novo coração da ONU, tão entusiasticamente acolhido pela revista dos jesuítas, é um coração que anseia pelos ideais socialistas e marxistas da Teologia da Libertação.
A América Latina se aproxima da Rússia
Enquanto isso, as coisas vão indo de mal a pior na América Latina, no que diz respeito aos interesses norte-americanos. Inclusive, no último mês de setembro, a Bolívia e a Venezuela expulsaram os embaixadores americanos. Washington respondeu com medidas similares.
Um bloco de nações claramente comunistas na América Latina já é formado por Cuba, Venezuela, Bolívia, Equador e Nicarágua. Paraguai está rapidamente entrando neste grupo. Um outro bloco de governos marxistas – não oficialmente comunistas, mas altamente socialistas – inclui Brasil, Argentina, Chile e Uruguai. Quer dizer, a América Latina já está na esfera de influência socialista-comunista.
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No mês passado (outubro/2008), uma frota russa entrou nas águas do Mar do Caribe, aproximando-se de Caracas, capital da Venezuela, que fica próxima ao litoral. Está se preparando para realizar manobras militares conjuntas com a marinha venezuelana neste mês de novembro (National Catholic Reporter, 12 de outubro de 2008, p. 5). Ao mesmo tempo, o presidente venezuelano Hugo Chávez está negociando com a Rússia um bilionário pacote de compras de armas e de tecnologia nuclear para “fins pacíficos”.
Além disso, a Rússia e o Irã estão enviando assistência técnica e profissional para a Venezuela e a Bolívia, para ajudar a exploração de um dos mais ricos campos de gás e de petróleo do Ocidente.
A eleição de Obama favorece o avanço do socialismo no continente
Se uma pessoa levar em consideração esses fatos, ela perceberá que por meio de uma massiva nacionalização dos bancos nos Estados Unidos e na Europa, como também através de eleições que estabelecem governos esquerdistas na América Latina, o socialismo está tomando conta do Ocidente.
Não é difícil conjeturar que a eleição de um candidato pró-socialista para a Casa Branca dará extraordinário ímpeto para uma crescente nacionalização da economia americana. Parece que o Ocidente pode se tornar de modo irreversível socialista se, na eleição que está próxima, os Estados Unidos escolherem um candidato que está voltado para o socialismo. Eu espero e rezo para que isso não aconteça e os Estados Unidos continuem a ser o baluarte mundial contra o comunismo e o socialismo.
Eu também rezo para que os excessivamente escrupulosos líderes católicos tradicionalistas não desempenhem o papel de traidores neste delicado momento fornecendo conselhos inoportunos. Sei que alguns desses líderes estão de modo inoportuno levantando objeções de consciência sobre esta ou aquela matéria moral, aconselhando os católicos tradicionalistas a se abster de votar ou a lançar um voto nulo de protesto. Isto é um conselho errado! Isto apenas enfraquece o voto anti-socialista e favorece a causa pró-socialista.
Apenas uma questão está em pauta: os Estados Unidos se tornarão um país socialista ou não? Outras matérias de moral podem ser deixadas para depois das eleições, cada uma no seu devido tempo e lugar, como agora estamos fazendo na luta contra o “casamento gay” na Califórnia e o suicídio assistido em Washington. Não há pecado mortal em votar contra o socialismo. Os que afirmam que haja, aplicam de modo errado os princípios da teologia moral. [1]
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NOTAS:
1 – O Autor depois publicou em seu site este esclarecimento:
"Nós já apresentamos nossa opinião, de que o tema principal que está em jogo na eleição é o socialismo. Nós também concordamos com o argumento pró-vida, que considera o aborto uma matéria crucial depois das eleições. Nós queremos encorajar nossos leitores a votar e auxiliá-los a fazer a melhor escolha para a glória de Deus e a preservação dos valores conservadores que os Estados Unidos ainda representam perante o mundo."
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* Publicado no site norte-americano Tradition in Action:
http://www.traditioninaction.org/bev/103bev10-29-2008.htm
* * Editor do site Tradition in Action.
– Tradução: André F. Falleiro Garcia
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