Quinta-Feira, 05 de Março de 2009
A escandalosa tentativa do PMDB, na semana passada, de assumir o controle da Fundação Real Grandeza, responsável pelo fundo de pensão dos funcionários de Furnas e da Eletronuclear, o sexto maior do gênero, foi, sem tirar nem pôr, o que dela viria a dizer o senador peemedebista Jarbas Vasconcelos: uma prova "clara e inequívoca" da procedência de suas denúncias sobre o que move o grosso do seu partido quando trata de ocupar espaços estratégicos na área federal. "Boa parte do PMDB quer mesmo é corrupção", acusou o representante pernambucano em recente entrevista à Veja. Apesar da operação-abafa da cúpula partidária, as suas declarações configuraram um fato político destinado a permanecer em cena por mais tempo do que desejariam os denunciados - e o governo que lhes entrega sossegadamente as chaves da casa.
Na terça-feira, Vasconcelos voltou à carga da tribuna do Senado, cobrando "ações corretivas" contra "a degradação pública do sistema político brasileiro", a começar da armação conduzida pelo ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, outro peemedebista, para derrubar os administradores do fundo de pensão Real Grandeza. Ele os acusou de fazerem "uma bandidagem completa" e "grande safadeza". O ministro levou um contravapor do presidente Lula, mas fingiu que não era com ele. "As pessoas", comentou em termos gerais um desacorçoado Vasconcelos, "se agarram aos cargos como um marisco no casco de um navio - não caem nem nas maiores tempestades." A craca prolifera no ambiente de impunidade. E esta, apontou o senador, "se estabelece em bases sólidas num terreno cada vez mais fértil".
Eis por que ele tem razão ao exigir que o episódio do Real Grandeza não fique por isso mesmo. Talvez a "auditoria independente" que propôs não seja a melhor alternativa para deixar o caso em pratos limpos. Mas o que não se pode, mais uma vez, é "deixar a poeira baixar, esperando que a história seja esquecida, abafada por um novo escândalo". O universo dos fundos de pensão das estatais, por sinal, é uma das arenas mais ensanguentadas onde se entredevoram as principais legendas da opulenta base governista. "A população", observou Vasconcelos, "não compreende o porquê da disputa ferrenha entre grupos partidários, sempre envolvendo empresas de orçamentos bilionários." Os dez maiores fundos administram carteiras de investimentos que somam mais de R$ 226 bilhões. Não é difícil imaginar a cadeia de apetites ao redor dessa bolada.
Isso não faz necessariamente dessas instituições antros de corrupção. Mas é fato que os recursos do Real Grandeza, por exemplo, abasteceram o valerioduto, conforme apurou a CPI do Mensalão. Seis daqueles dez fundos são controlados pelo PT, vale dizer, pelo apparat sindical ligado ao partido - em especial, ainda hoje, por apadrinhados dos companheiros ex-ministros José Dirceu e Luiz Gushiken. O PMDB, entre outros, não se conforma com isso. O resultado é uma briga suja de máfias partidárias. Do ângulo do interesse público, o problema é que, "nessa mistura de partido, governo e sindicatos, ninguém sabe onde está o Estado, que acaba se dissolvendo em interesses múltiplos", como diz o presidente do PSDB, senador Sergio Guerra, em um raciocínio que se encaixaria à perfeição no discurso de Vasconcelos. "Foi isso que gerou o mensalão."
Ele não exagera ao classificar de "aterrador" o quadro da corrupção na esfera federal, muito menos ao assinalar que o cenário vinha sendo encoberto pelos bons resultados da economia - para o conforto de um presidente que prometera, na primeira campanha ao Planalto, "uma intervenção enérgica pelo fim da impunidade e uma ampla ação cultural educativa pela afirmação dos valores republicanos e democráticos em nossa vida política", lembrou o senador. Mas Lula dirigiu as suas energias para adquirir o apoio, com a devida paga, da ampla banda podre da política nacional. Amargo sinal dos tempos: por "constatar o óbvio, apenas isso", Jarbas Vasconcelos foi afastado da Comissão de Constituição e Justiça do Senado. A decisão foi do líder do PMDB na Casa, ninguém menos do que Renan Calheiros, outro dos amigos do peito do presidente. São políticos dessa, digamos, categoria que dão as cartas no Brasil do lulismo.
Na terça-feira, Vasconcelos voltou à carga da tribuna do Senado, cobrando "ações corretivas" contra "a degradação pública do sistema político brasileiro", a começar da armação conduzida pelo ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, outro peemedebista, para derrubar os administradores do fundo de pensão Real Grandeza. Ele os acusou de fazerem "uma bandidagem completa" e "grande safadeza". O ministro levou um contravapor do presidente Lula, mas fingiu que não era com ele. "As pessoas", comentou em termos gerais um desacorçoado Vasconcelos, "se agarram aos cargos como um marisco no casco de um navio - não caem nem nas maiores tempestades." A craca prolifera no ambiente de impunidade. E esta, apontou o senador, "se estabelece em bases sólidas num terreno cada vez mais fértil".
Eis por que ele tem razão ao exigir que o episódio do Real Grandeza não fique por isso mesmo. Talvez a "auditoria independente" que propôs não seja a melhor alternativa para deixar o caso em pratos limpos. Mas o que não se pode, mais uma vez, é "deixar a poeira baixar, esperando que a história seja esquecida, abafada por um novo escândalo". O universo dos fundos de pensão das estatais, por sinal, é uma das arenas mais ensanguentadas onde se entredevoram as principais legendas da opulenta base governista. "A população", observou Vasconcelos, "não compreende o porquê da disputa ferrenha entre grupos partidários, sempre envolvendo empresas de orçamentos bilionários." Os dez maiores fundos administram carteiras de investimentos que somam mais de R$ 226 bilhões. Não é difícil imaginar a cadeia de apetites ao redor dessa bolada.
Isso não faz necessariamente dessas instituições antros de corrupção. Mas é fato que os recursos do Real Grandeza, por exemplo, abasteceram o valerioduto, conforme apurou a CPI do Mensalão. Seis daqueles dez fundos são controlados pelo PT, vale dizer, pelo apparat sindical ligado ao partido - em especial, ainda hoje, por apadrinhados dos companheiros ex-ministros José Dirceu e Luiz Gushiken. O PMDB, entre outros, não se conforma com isso. O resultado é uma briga suja de máfias partidárias. Do ângulo do interesse público, o problema é que, "nessa mistura de partido, governo e sindicatos, ninguém sabe onde está o Estado, que acaba se dissolvendo em interesses múltiplos", como diz o presidente do PSDB, senador Sergio Guerra, em um raciocínio que se encaixaria à perfeição no discurso de Vasconcelos. "Foi isso que gerou o mensalão."
Ele não exagera ao classificar de "aterrador" o quadro da corrupção na esfera federal, muito menos ao assinalar que o cenário vinha sendo encoberto pelos bons resultados da economia - para o conforto de um presidente que prometera, na primeira campanha ao Planalto, "uma intervenção enérgica pelo fim da impunidade e uma ampla ação cultural educativa pela afirmação dos valores republicanos e democráticos em nossa vida política", lembrou o senador. Mas Lula dirigiu as suas energias para adquirir o apoio, com a devida paga, da ampla banda podre da política nacional. Amargo sinal dos tempos: por "constatar o óbvio, apenas isso", Jarbas Vasconcelos foi afastado da Comissão de Constituição e Justiça do Senado. A decisão foi do líder do PMDB na Casa, ninguém menos do que Renan Calheiros, outro dos amigos do peito do presidente. São políticos dessa, digamos, categoria que dão as cartas no Brasil do lulismo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário