14/08/2008
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Israel x Hizbullah em 2006: demonização de Israel na mídia, massacre dos veículos de imprensa contra o Estado Judeu e acusações sem fins, pilhas delas.
Geórgia x Rússia em 2008: relativo silêncio na mídia. Porquê?
Nosso colaborador, o jornalista Victor Grinbaum faz uma análise instigante, intrigante e chocante do comportamento dos veículos de informação nas duas situações.
O roteiro do filme é batido: uma potência de grande poder militar ataca um país menor por um motivo qualquer. Os olhos da imprensa do mundo inteiro se viram para o conflito e trazem ao mundo relatos dramáticos. Morte, destruição e dor.
As razões para as operações militares variam muito, mas esse filme a humanidade já assistiu de todas as formas e em todos os tempos. Os palpites sobre as razões de cada um dos lados envolvidos abundam e surgem os tão famosos formadores de opinião a vender suas explicações.
Muito pouco varia de caso a caso. Mas a memória grita e acabamos por encontrar diferenças. E é só então que percebemos como as coisas podem mudar de conflito em conflito.
Junho de 2006. Um comando terrorista libanês invade território israelense e captura soldados em patrulha. Vários são mortos na mesma hora e outros, feridos, são seqüestrados e levados para um esconderijo em território libanês. O governo de Israel reage com uma campanha militar que tenta em vão pressionar os terroristas a desistir do seqüestro. Ao longo de quase um mês de operações são atingidos inúmeras bases e esconderijos dos terroristas. Nos ataques, civis inocentes são atingidos. Como sempre, a imprensa internacional cumpre o seu papel e traz ao mundo os sons e imagens da guerra.
As reações são imediatas. Em todas as capitais do mundo irrompem manifestações exigindo o término imediato dos ataques israelenses contra o Hizbullah. Articulistas surgem de todos os lados. Jornais, revistas e emissoras traçam comparações: “Israel faz no Líbano o que os alemães fizeram contra Londres e Varsóvia na Segunda Guerra”.
Cada inocente atingido tem seu nome revelado e exposto como uma bandeira nas ruas e redações. Por fim, o governo israelense cessa as operações sem libertar os soldados seqüestrados. Os terroristas cantam vitória e os manifestantes das ruas comemoram. Saldo de cerca de mil mortos, entre soldados israelenses, civis libaneses e terroristas.
Agosto de 2008. No intrincado xadrez político-nacionalista dos países bálticos, a disputa entre a República da Geórgia e a Rússia pelo controle de uma província separatista provoca a eclosão de uma guerra. Os russos atacam o território da Geórgia. Em dois dias de conflito já se fala em mais de dois mil mortos. Em menos de uma semana, já seriam quatro mil.
Tal como dois anos antes, buscamos nas páginas e telas por notícias sobre a guerra. Os corações se apertam ante o sofrimento dos inocentes. Mas o que se vê?
Poucos relatos, quase nenhuma imagem. Nas páginas de opinião, nada.
Ninguém traça comparações. Os números se superam dia a dia, mas parece que falam de estatísticas agrícolas. Por onde estarão aqueles mesmos articulistas, tão ativos há apenas dois anos?
Pra refrescar ainda mais a memória, fui a um site de buscas. Digitei as palavras “Israel” e “Líbano”. A página me informou a existência de 745 mil artigos relacionados. Em seguida digitei “conflito na Geórgia”: 177 mil artigos.
Vamos falar com todas as letras: a verdade é que pouco importa para os tais formadores de opinião o que russos fazem com georgianos. O que importa mesmo é falar de Israel. Israel, Israel e Israel. A obsessão do mundo é Israel. Um israelense bateu no carro de um palestino? Isso é notícia! Primeira página de todos os cadernos de internacional. A Rússia está atacando um país soberano em nome de sabe-se lá o quê? Dá-se uma nota de pé de página e pronto.
Mas o mais impressionante é o silêncio dos articulistas. Lembro-me de 2006 e da histeria nos editorias e páginas de opinião. Quantos nomes surgiram para chorar os inocentes mortos, rezar pelos inocentes mortos, reagir pelos inocentes mortos... Tantos porta-vozes da razão, do comedimento, do pacifismo, das saídas diplomáticas... Todos de plantão pelo Líbano. Será que a distância entre o Líbano e a Geórgia é assim tão grande?
Longe deste articulista querer defender a morte de inocentes. Aliás, se o querido leitor chegou até aqui com esta impressão, recomendo vivamente uma reciclagem de interpretação de texto. Na verdade, repugna profundamente a mim a morte de qualquer inocente, seja ele libanês, georgiano, israelense ou palestino. Mas repugna-me ainda mais a constatação de que para alguns, há inocentes mais inocentes que outros.
E como explicar tamanha diferença de tratamento por parte da grande mídia entre estes dois casos? Mais ainda: por que não relembrarmos Darfur, o massacre étnico no Sudão que mereceu um desprezo ainda maior?
Pensando de uma forma bastante cínica, dá pra imaginar que muitos países e causas desse mundo têm direito a uma espécie de cota de maldade. E é claro que Israel está de fora dos agraciados com tal cota. Logo, tudo aquilo que Israel "aparentemente" faz de errado é exatamente o que russos, sudaneses etc. podem fazer à vontade.
Resumindo drasticamente (e cinicamente também), a grande verdade é que as notícias de Israel são as grandes estrelas das agências de imprensa. E a demonização de Israel é o cavalo-de-batalha de todo aspirante a formador de opinião. Por isso que todos estes podem gozar de férias neste agosto de 2008.
Nota de 14/08/2008
Um amigo me fez o favor de corrigir alguns erros que cometi neste artigo. São eles:
1) A República da Geórgia não é um país báltico e sim do Caucáso.
2) O povo georgiano não é eslavo, mas sim uma mistura de várias etnias, como a persa, a turca e mongol. Eslavos são os ossetianos.
Devo estas correções a Daniel Altman, a quem agradeço. E peço desculpas aos leitores pelos erros, todos de minha inteira responsabilidade.
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