por Jeffrey Nyquist em 20 de janeiro de 2004
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Resumo: A partir desta semana, o MSM publicará toda terça-feira os artigos do analista político Jeffrey Nyquist. Um dos poucos a alertar sobre a ingenuidade americana e ocidental em geral a respeito da calculada extinção da União Soviética e do "fim do comunismo", Nyquist atua de forma independente, isenta e, por isso mesmo, altamente precisa a respeito da realidade geopolítica e suas conseqüências.
© 2004 MidiaSemMascara.org
Há uma nota de rodapé curiosa sobre a Guerra Fria que merece ser mencionada. A derrota do comunismo soviético em 1989-1991 não foi uma derrota total. Foi mais como um recuo tático que veio torto, e não completamente torto. No Ocidente, sentiram-se bem para reivindicar a vitória sobre algo tão sinistro quanto o comunismo, com suas cem milhões de vítimas, sua sustentação para o terrorismo global, subversão e revolução. Mas qualquer vitória sobre as idéias marxistas, sobre uma mentalidade que vive em milhões de povos do mundo inteiro, deve estar equivocada. Aqueles que dizem que o comunismo internacional morreu, aqueles que imaginam que o descontentamento interno foi posto para dormir, estão se iludindo. Homens não desistem de sua religião assim de repente, e o comunismo é uma religião. Somente foi transformado em sua aparência exterior. Sua imagem tem sido moderada na Rússia, na Alemanha e no Brasil. O fato é, o bloco comunista está revivendo neste exato momento. Ainda existe e coordena uma política negativa no mundo inteiro. Semana passada o Kremlin anunciou a aceleração de seus laços nucleares com o Irã. A Rússia está armando a China, sua nova e velha aliada. Um grupo exclusivo da KGB, conduzido pelo presidente Vladimir Putin, governa a Rússia. Ao mesmo tempo, figuras obscuras –- e até comunistas escancarados –- estão governando países como Polônia, Hungria e a República Tcheca. O pró-capitalista aqui e um “social-democrata” ali, sob um exame mais minucioso, estão freqüentemente ligados a estruturas comunistas escondidas.
Em minhas discussões com ativistas poloneses e tchecos, a evidência sobre a construção de movimentos de oposição controlados por Moscou na Europa Oriental é irrefutável. Minhas fontes tchecas têm a evidência documental, incluindo instruções secretas para recrutar redes de agentes em 1988 para um porvir de liberdade “administrada”. Estas instruções esboçaram métodos para infiltração, sabotagem, manipulação, e cooptação de organizações anticomunistas, incluindo jornais e partidos políticos. Há também uma referência a uma misteriosa diretoria dentro da KGB encarregada com a coordenação e supervisão da democracia controlada nos ex-países do Pacto de Varsóvia.
No que diz respeito à enganosa estratégia soviética, em 1984 um desertor russo da KGB de nome Anatoliy Golitsyn escreveu um livro com o título “New Lies for Old”. Golitsyn advertiu que os comunistas soviéticos planejaram desmoronar seu próprio sistema, introduzindo reformas democráticas “desde cima” a fim de desarmar e dividir o Ocidente. Golitsyn explicou que a estratégia de Moscou poderia levar décadas para ser revelada. Os mecanismos usados neste esforço incluiriam a criação de movimentos dissidentes controlados, a aparência de políticos soviéticos “liberais” e a desistência do monopólio político do Partido Comunista. Poucos fora dos Estados Unidos ouviram sobre avisos de Anatoliy Golitsyn, desde que foram escritos em inglês, zombado por quase todos, e tido como “paranóico” por uma CIA presunçosa. Os conservadores pró-Reagan, incluindo os principais anticomunistas dos Estados Unidos, ignoraram o “New Lies for Old”. Quando as predições detalhadas de Golitsyn sobre a democratização futura do bloco comunista se tornaram realidade, os conservadores caíram aos trambolhões sobre outros para declarar vitória e atribuir o crédito a Ronald Reagan. Entre historiadores da inteligência, somente Mark Riebling observou: “das refutáveis predições de Golitsyn, 139 de 148 foram cumpridas até o fim de 1993 – uma exatidão de quase 94%”.
Com a força esmagadora de um furacão, a opinião se dirigiu para as ilhas do otimismo. No lugar das “Sete Cidades do Ouro” e da “Fonte da Juventude”, os novos conquistadores encontraram o “dividendo da paz”. Desta construção imaginária fluiu a exuberância econômica como sopa no mel. A despesa com a Defesa foi cortada e segredos tecnológicos foram dados a Rússia e a China. Os serviços de inteligência puseram muitos “Cold Warriors” para pastar. Era hora de fazer dinheiro e esquecer-se dos horrores da Destruição Mútua Garantida (1). E quase todos ficaram aliviados. Conseqüentemente, quase ninguém sobrou para questionar esta falsa vitória sobre o comunismo. Um escritor nascido na Rússia, Andrei Navrozov, tentou soar um aviso nas páginas do “Chronicles Magazine”; mas era repreendido como um “teórico da conspiração” e rejeitado como um excêntrico pelos principais formadores de opinião conservadores. Na Inglaterra, o desertor soviético Vladimir Rezun da GRU (mais conhecido sob o pseudônimo Viktor Suvorov) estava receoso para contradizer a euforia do Ocidente. Confidencialmente Rezun admitiu que o colapso da União Soviética era uma óbvia fraude, mas publicamente mordeu a língua. Dado as investidas premeditadas dos anticomunistas ocidentais para creditar Reagan, Thatcher ou o papa com o colapso da União Soviética, as outras idéias eram mal-vindas. Andrei Navrozov deixou os Estados Unidos enfastiado, praguejando os conservadores enquanto ia embora. Na Europa escreveu um livro, “The Gingerbread race” em que usou a história do “Gingerbread man” (2) como uma alegoria para a estupidez do Ocidente e a vitória inevitável do totalitarismo. O livro foi interrompido no meio da primeira impressão. Como me disse mais tarde, “Finalmente alguém entendeu sobre o que era o livro”.
A fraude estratégica não é uma coisa derivada de ficção ruim. Ao invés disso, é a verdadeira substância dos capítulos mais escuros da história do totalitarismo. Considere a realidade da “Operação Confiança” sob Lênin e Dzerzhinsky na década de 1920 (um premeditado colapso "falsificado" do comunismo conhecido como a Nova Política Econômica ou NEP). A verdade é que fraudes em larga escala são manipuláveis. Olhe para os intelectuais da Defesa dos Estados Unidos e comece a discutir historia russa com eles. Suas reações são interessantes. Eles simplesmente rejeitam a idéia da fraude estratégica soviética com preconceito, sem pensar duas vezes, porque a própria idéia é no momento inconveniente.
Eles lambem seus pequenos dedos de carreiristas e voam de acordo com vento. “Não”, dirão a você com aparente gravidade, o “Comunismo desmoronou”.
Como os intelectuais da defesa de um país -- liberal e conservador – são condicionados a rejeitar uma possível linha enganosa quando essa linha, historicamente, foi bem sucedida no passado? Isto nos conduz a “sociologia do conhecimento”; isto é, como condicionamentos sociais impedem o reconhecimento de fatos perigosos. Há tendências naturais para cegueiras em cada cultura. Se estas forem reforçadas pela desinformação, pela propaganda, pelas operações da influência, etc., então você tem um tipo de "gerência das percepções" ocorrendo.
Lembre de toda história do período de Stálin e da grande imprensa ocidental que não compreendeu o que estava acontecendo na Rússia. Nós sabemos agora que aqueles grandes jornalistas que contavam com a cobertura da União Soviética eram agentes soviéticos – como o ganhador do Prêmio Pulitzer Walter Duranty. E ele não estava sozinho. As percepções do Ocidente sobre a Constituição de Stálin, da aliança com o “Tio Sam”, a suposta liquidação interna do comunismo, as garantias mentirosas de oficiais soviéticos e a atitude ingênua do presidente Roosevelt são difíceis de entender pelos fatos. Mas os fatos são claros. Moscou iludiu o Ocidente, e o Ocidente estava feliz em ser iludido. Quando a Guerra Fria começou após a derrota do Japão em 1945, muitos foram lentos em aceitar que o comunismo era um problema. Os “wishful thinkers”, os otimistas do dia, disseram que o anticomunismo era "histeria" e Joseph McCarthy estava em uma “caça às bruxas". Com o tempo todos descobriram que Stálin era um monstro, Khrushchev surgiu para expurgar o mal de Stálin, enquanto esboçava uma União Soviética mais nova, mais amável e mais delicada (3).
Os líderes russos sempre reinventaram eles mesmos, como os líderes chineses. No retrospecto, o teste padrão é claro. Como um cão ou um gato tem um caráter original, os comunistas russos têm seu caráter. E uma vez que você conhece este caráter você sabe o que esperar. Você não troca a floresta pelas árvores. Você observa o Gorbachev, Yeltsin, Putin, e após ter estudado muitos demônios em detalhe você entende que é, certamente, um exemplo de “novas mentiras no lugar das antigas" (4). Conseguem chamar Golitsyn de teórico da conspiração, mas não conseguem explicar seus 94% de exatidão nas predições.
Começando com uma compreensão geral da história soviética, do caráter e do método russo, juntando tudo isso ao aviso de Golitysn, é possível ver a Guerra da América contra o Terror sob uma luz mais clara. Após ler incontáveis jornais, revistas e livros, eu fiquei perturbado ao encontrar inúmeras ligações a al-Qaeda e os russos, como o infame fornecimento de armas e o “ex”-oficial militar soviético - Victor Bout. Eu encontrei ligações documentadas entre o homem no. 2 da al-Qaeda (Ayman al-Zawahiri) e a China, a Bulgária e o FSB (5) russo. O ex-oficial da inteligência tcheca, capitão Vladimir Hucin, não está sozinho em dizer que Mohammed Atta, líder dos ataques do 11 de Setembro nos Estados Unidos, foi treinado na Tchecoslováquia comunista em 1988. Na literatura sobre o al-Qaeda pode-se pode tropeçar em referências, aqui e ali, das transações de Bin Laden com a máfia russa (conhecida por ser aliada dos serviços de segurança da Rússia). Eu cocei minha cabeça e lembrei dos avisos de Golitsyn em 1984.
Então comecei a ler sobre a guerra da Chechênia e a encontrar os intelectuais e jornalistas discutindo o passado de GRU/KGB de Shamil Basayev, líder rebelde checheno (e o seu trabalho como pára-quedista soviético). Encontrei fatos curiosos sobre a carreira do presidente checheno, Dudayev, como comandante soviético do bombardeiro que cobriu de bombas os muçulmanos afegãos antes de "ser condescendente" e de conduzir os chechenos à liberdade. Há também a morte misteriosa de Dudayev (que nunca foi autenticada). Mesmo os intelectuais esfregam seus olhos e admitem que toda a guerra da Chechênia tem o caráter de uma provocação clássica da KGB.
Foi então que eu me assustei ao tomar contato com o livro de Yossef Bodansky, perito em terrorismo, dizendo que Osama Bin Laden tinha comprado armas nucleares soviéticas através da Chechênia durante a década de 1990. Eu lembrei de Golitsyn uma vez mais. Eu imaginei o velho sorrindo. A palavra “álibi” se formou entre meus lábios. Como alguém explica tantas ligações bizarras entre os terroristas e o “ex”-bloco comunista? A guerra da Chechênia serviu como cobertura para entregar armas nucleares aos terroristas, e estabelecer o álibi do Kremlin como um inimigo daqueles mesmos terroristas? E se a Chechênia tinha armas nucleares, por que não usaram contra os invasores russos em 1999?
E então eu tive a lembrança pessoal de estar sozinho com um desertor russo da GRU que me disse, anos antes das Torres Gêmeas virem abaixo, que se eu ouvisse falar que foram os terroristas árabes que atacaram a América com armas nucleares, para que eu não acreditasse. O ataque seria da Rússia.
Nada disso é prova, certamente. Mas é poderosamente sugestivo e merece muito mais atenção do que tem recebido. O item mais interessante, entretanto, é a falta de curiosidade dentro do establishment americano. Não é que os intelectuais e os líderes da América não sabem sobre as ligações de que escrevo. Não querem saber. Não querem levar em consideração. Suas mentes estão fechadas como túmulos. E é aqui onde sou deixado de lado, em total descrédito.
Conheço psicologia o suficiente para reconhecer um groupthink (6) quando vejo um. Posso reconhecer a negação patológica dentro do círculo abençoado justamente porque estou fora desse círculo. Não sou traído pelas minhas palavras. Não movo um dedo nesta briga. E assim eu sei quando estou vendo algo significativo, algo GRANDE, algo que não permita mais jogos de enganação (não o jogo russo, mas o jogo americano -- o jogo do auto-engano).
A loucura da sociedade americano que descrevi em meu livro “Origins of the Fourth World War”, não é loucura simplesmente moral, ou loucura burocrática. É também loucura intelectual. Negar o desvanecimento da integridade intelectual de nossos dias chega a ser ridículo.
Por coincidência, tenho em minha frente o novo livro de Laurie Mylroie, "Bush vs. the Beltway" (7). Ela escreve algo que tenho ouvido dos insiders de Washington. Um perito do Oriente Médio disse a Mylroie: "todos precisam fazer o que for possível para suas carreiras". De acordo com Mylroie isto significa que "o comportamento que era considerado descartável se tornou aceitável, independente de suas possíveis implicações para a segurança do país".
O mesmo pode ser dito aos jornalistas, acadêmicos e pesquisadores. Se eles imaginam que há um círculo abençoado de luz e de verdade e que, uma vez que alguém entra nesse círculo ao ser empregado por prestigiosas organizações ou fundação de mídia, então confundiram seu próprio sucesso pessoal com a verdade. A respeito deste erro, podemos dizer que a cegueira resultante é quase total quando tenta distinguir o importante do trivial, o significativo do popular. E aqui nós encontramos o solo mais rico, os insights mais maravilhosos, porque o “não querer ver” de uma sociedade acoberta o Grande Segredo no qual essa sociedade está metida -- assim como o “não querer ver” de um individuo nos ajuda a compreender o destino daquele individuo.
Os grandes especialistas de nossos dias não podem explicar porque a Rússia continua a violar acordos de controles de armas, alinhar-se com a China, enviar suporte secreto a Saddam, dar tecnologia nuclear ao Irã, criticar a política externa dos Estados Unidos, incentivar aliados dos Estados Unidos a um curso independente, e muito mais.
A álgebra política aqui é simples. É básica. É fácil de ser decifrada para aqueles que estiverem familiarizados com a história. Talvez aquilo que me dá forças, mais do que qualquer outra coisa, é o testemunho de poloneses, russos, tchecos, romenos e húngaros em circunstâncias muito reais, obtidas nos “ex”-países comunistas.
Aqui deixo o leitor brasileiro para pensar nas mudanças do Brasil. O segredo que lhes passo, da Europa Oriental via América do Norte, é que o comunismo está vivo e aqueles que carregam a velha bandeira vermelha ainda estão conosco, e seu método resume-se em “novas mentiras para as antigas”.
Tradução: Editoria MSMNotas da Editoria:
(1).Traduzido de Mutual Assured Destruction (MAD)
(2).Biscoito de gengribe em forma de pessoa
(3).Cabe lembrar que as políticas de Kruchev, embora tenham eliminado o terrorismo policial, mantiveram o sistema autoritário.
(4).Tradução livre do título do livro de Anatoliy Golitsyn, “New Lies For Old”.
(5).FSB (Federal'naya Sluzhba Bezopasnosti) - Serviço de Segurança Federal, da Inteligência Soviética.
(6).Pensamento de grupo em que os membros estão mais preocupados com a concordância, do que uma consideração realista dos fatos.
(7).Este livro fala sobre como a CIA e o Departamento de Estado tentaram parar a Guerra contra o Terror.
Jeffrey Nyquist é formado em sociologia política na Universidade da Califórnia e é expert em geopolítica. Escreve artigos semanais para o Financial Sense (http://www.financialsense.com/), é autor de The Origins of The Fourth World War e mantém um website: http://www.jrnyquist.com/
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