Por Olavo de Carvalho, segunda-feira, 21 de Julho de 2008
Um relatório do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana lança sobre as Forças Armadas a mais brutal acusação que já se ouviu contra elas em cinco séculos de História: “promiscuidade com o crime organizado” ( http://noticias.terra.com.br/ brasil/interna/0,,OI2987316-EI306,00.html ).
A autoridade com que o governo profere a denúncia é indiscutível: seu chefe máximo desfrutou de intimidade obscena com as Farc e outras organizações criminosas por uma década e meia, velando, como presidente do Foro de São Paulo, pelos seus sinistros interesses comuns (seus assessores velam ainda), enquanto as Farc davam treinamento de guerrilhas para o MST e o PCC, e o partido de S. Excia., retribuindo a gentileza, se esmerava em cuidados maternais para tirar da cadeia qualquer membro da quadrilha colombiana ou entidade congênere que tivesse a má sorte de ser preso pela polícia brasileira. O governo aponta às Forças Armadas o seu dedo acusador, portanto, com a autoridade absoluta da fórmula leninista: Acuse do que você faz, xingue do que você é.
Não é preciso então preocupar-nos com o teor da denúncia. Por definição, o sujo só pode se limpar sujando o que estava limpo.
Se, diante do currículo presidencial, algum indício suplementar é ainda necessário para esclarecer a verdadeira intenção do relatório, basta raciocinar um pouco: ou ele foi escrito às pressas depois dos acontecimentos deprimentes no Morro da Providência, ou já estava escrito antes. Na primeira hipótese, fica provada a leviandade de um governo que não pensa duas vezes antes de improvisar acusações para difamar a mais respeitada instituição nacional e criar do nada uma crise político-militar.
Na segunda, fica evidenciado que enviar o Exército aos morros, com a desculpa esfarrapada de consertar barracos, foi um ardil preparado deliberadamente para colocar os militares numa situação vexaminosa e depois jogar o relatório em cima da reputação deles, como uma pá de cal. O primeiro caso exige o impeachment do sr. presidente. O segundo, o impeachment seguido de prisão por crime de conspiração contra a segurança do Estado. Não há terceira alternativa.
Mais significativa ainda é a comparação entre o estilo do relatório e o do pronunciamento do sr. presidente sobre a libertação dos reféns mantidos em cativeiro pelas Farc. Neste segundo documento oficial, não se fala de crime nem de tortura.
As Farc, segundo o sr. presidente, não seriam culpadas senão de um vago erro de estratégia, tentando a aventura militar em vez das sutilezas gramscianas que deram o sucesso ao PT. Não havendo crime, não se fala também de castigo. Os trinta mil homicídios e três mil seqüestros praticados pelas Farc não lhe devem render, na lógica presidencial, senão a promoção da entidade ao estatuto de partido político legítimo e a oportunidade de conquistar o poder por via pacífica para que, lá chegados, os terroristas aposentados promovam desde cima, legalmente, lentamente, docemente, a destruição de seus atuais adversários militares, exatamente como os fazem os ex-terroristas brasileiros transfigurados em ministros.
O sr. Lula e seu partido trabalharam pelas Farc, protegeram-nas, acolheram-nas como hóspedes de honra mesmo depois que elas explodiram a nossa embaixada na Colômbia em 1993, matando 43 pessoas e ferindo 350. Agora continuam a lhes prestar serviço, só que numa área diferente: passaram do acobertamento do crime ao gerenciamento de danos.
Bem diversa é a linguagem do relatório. Para a quadrilha de assassinos e seqüestradores, afagos e conselhos paternais. Para as nossas Forças Armadas, o insulto, a calúnia, a ameaça.
Obviamente o governo do sr. Lula tem mais amor a bandidos estrangeiros do que aos soldados da sua própria nação.
Olavo de Carvalho é jornalista, ensaista e professor de Filosofia.
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