ESTADÃO
Após entrevista de diplomata ao ‘Estadão’, generais da reserva dizem que integrantes da comissão não são parciais
15 de maio de 2012 | 22h 36
Tânia Monteiro - O Estado de S.Paulo
O foco de trabalho da Comissão da Verdade e as declarações dadas nesta terça-feira, 15, ao Estadão pelo diplomata Paulo Sérgio Pinheiro, um dos sete integrantes do grupo, desencadearam reações no meio militar.
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O general da reserva Marco Antônio Felício da Silva defendeu que "nenhum militar" se apresente para prestar depoimento à Comissão da Verdade, mesmo se convocado. Felício foi o autor do manifesto assinado contra a criação da comissão que foi endossado por 1.568 militares da reserva, sendo 130 generais, além de 1.382 civis.
Segundo o general Felício, a comissão "buscará de forma unilateral e sem a devida isenção, como prioridade primeira, o que chamam de verdade".
Para ele, a comissão (que será oficialmente instalada nesta quarta-feria, 16) busca comprovar uma nova história, "colocando-os como democratas e defensores da liberdade e dos direitos humanos quando, no passado, desejavam a derrubada do governo e a instalação de uma ditadura do proletariado por meio da luta armada, usando do terrorismo, assassinatos, roubos, sequestros e justiçamentos".
Marco Felício, depois de salientar que os militares não aprovam os nomes indicados pela presidente Dilma Rousseff, afirmou ainda que os representantes das Forças Armadas não devem comparecer à comissão para "evitar que o militar seja incriminado pelo que disser, seja execrado publicamente, desmoralizado, segundo ato de revanchismo explícito".
Ele criticou ainda as declarações do diplomata Paulo Sérgio Pinheiro ao Estadão, que afirmou que "nenhuma comissão da verdade teve ou tem essa bobagem de dois lados, de representantes dos perpetradores dos crimes e das vítimas".
Outras reações. Os ex-presidentes do Clube Militar, general Gilberto Figueiredo e Luiz Gonzaga Shroeder Lessa, também reagiram às declarações dos recém-nomeados integrantes da comissão da verdade.
Lessa disse ao Estadão que, "se a comissão só tem um lado, como diz Paulo Sérgio Pinheiro, é porque ele é tendencioso e a avaliação dele será parcial, o que compromete seu trabalho, que deveria ser isento". O general Lessa questionou ainda: "E os que foram assassinados por eles (militantes de esquerda), não conta?"
Já o general Figueiredo disse que "se ele (Paulo Sérgio Pinheiro) acha que não existem dois lados, mas apenas um, significa que os integrantes da comissão não vão investigar os justiçamentos feitos por suspeita de traição pela esquerda". E emendou: "Esta declaração compromete a isenção dele para a realização dos seus trabalhos, que é um pressuposto da comissão".
Ambos defendem ainda o acompanhamento dos trabalhos da Comissão da Verdade, por uma comissão paralela conjunta dos três clubes militares (Naval, Militar e Aeronáutica).
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