REINALDO AZEVEDO
17/05/2012 às 22:12
O programa Observatório da Imprensa fez um debate sobre a CPI do Cachoeira e a atuação do jornalismo. Maurício Azêdo, presidente da Associação Brasileira de Imprensa, falou sobre a iniciativa daqueles que querem convocar Policarpo Júnior, da VEJA, para depor. Para ele, trata-se de uma ação para intimidar jornalistas e veículos de comunicação. Transcrevo, em azul, trecho do site do Observatório. Volto depois:
(…)
”Os jornalistas teriam que ser muito cautelosos, e até recuar na sua atividade profissional, para não se expor ao vexame que seria comparecer a uma CPI. Isso é muito grave e tem o conteúdo de vendetta (vingança). É uma diminuição dos altos propósitos que deve ter uma Comissão Parlamentar de Inquérito; é colocar um instrumento de investigação parlamentar a serviço de interesses pessoais de deputados e senadores e de todos aqueles que queiram fazer um ajuste de contas com os jornalistas e com os seus veículos”.
O presidente da ABI ressaltou que a postura da entidade não é de corporativismo e visa proteger os jornalistas. “Os jornalistas não podem ser submetidos ao risco de ser escalpelados pelos políticos que têm, inclusive, o poder de falar, de ir à tribuna, de fazer denúncias, enquanto os jornalistas teriam um papel absolutamente passivo. Só teriam duas alternativas. Ou responder ou calar, e com isso se prestar a ser incriminado como pessoa que sonegou informações à CPI. Na verdade, chamar jornalistas a depor é uma advertência ao conjunto dos profissionais e aos meios de comunicação: ‘Vocês tomem cuidado porque podem ser chamados a sentar no banco dos réus’”, afirmou Azêdo.
A ABI também repudiou a promiscuidade que se instala no exercício da atividade profissional, onde não se distingue com clareza “quem é mocinho e quem é bandido”. Azêdo destacou que há muitos jornalistas que estão utilizando métodos criminosos para obter a informação.
Voltei
Endosso cada palavra de Azêdo —e duvido que as pessoas decentes e de bom senso não façam o mesmo. O Observatório reuniu vários profissionais de imprensa para debater o que chamou de “jornalismo fiteiro” — que se apega só a fitas. De fato, se o conteúdo de fitas, com autorização legal ou não, vira a base única de reportagens, sem qualquer outra apuração, o expediente é condenável. Afinal, pode induzir a erro.
“Jornalismo fiteiro” — ou melhor: “subjornalismo fiteiro” — é o que certa vagabundagem tentou usar contra a VEJA. Sem que se soubesse nem sequer o conteúdo dos grampos da PF, saíram a espalhar mentiras e leviandades. Tudo conhecido, revelou-se a fraude das acusações, e ficou evidente o que aponta Azedo: a tentativa de intimidação.
Noto, partindo para o encerramento, que só agora, quando o PT é poder, é que surge o debate sobre o que eu chamaria “qualidade moral da fonte original”. Quando os tucanos estavam no Planalto, essa conversa não existia, e mesmo fitas clandestinas serviam de base para reportagens, não é? E ninguém tentava levar jornalista para a CPI.
Essa história produz é muita espuma e pouca substância. Quem quiser saber como se comporta o “jornalismo não-fiteiro”, que apura reportagens, pode ler o depoimento que Policarpo Júnior prestou à Comissão de Ética da Câmara em 2005. A divulgação de gravações em que um deputado federal — André Luiz — tentava extorquir um contraventor resultou na cassação do parlamentar. O jornalista cercou-se de todos os cuidados e só publicou a reportagem quando não havia a menor dúvida sobre o que estava acontecendo.
No fim das contas, desde que o jornalista não tenha ajudado a produzir provas e a criar a notícia e desde que a informação que lhe tenha chegado às mãos seja de interesse público, só resta uma coisa a fazer: divulgá-la, depois de devidamente apurada.
Jornalista, tomados os devidos cuidados — e já falamos muitas vezes quais são eles —, não é censor nem de fonte nem dos fatos. Moralmente condenável é não divulgar a informação.
De resto, caros leitores, o jornalismo brasileiro que se leva a sério costuma ser bastante cuidadoso. Sim, sabemos muito mais do que publicamos. Mas nem sempre há as provas. Sem elas, nada feito! Com a esgotosfera, é diferente: as provas costumam atrapalhar o seu trabalho criminoso. A palavra do presidente da ABI vem em boa hora. Pergunto-me é a razão do silêncio de outras entidades que representam jornalistas, a começar da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraj). Algum de seus diretores teria atuado ou atua de modo diferente? Têm prestado serviços relevantes ao país falando apenas com as carmelitas descalças?
Por Reinaldo Azevedo
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