Morte de Miller Perdomo: princípio do fim do “Mono Jojoy”
* Coronel Luis Alberto Villamarín Pulido
Transcorria 1999. O descaracterizado governo de Andrés Pastrana cedia ante as chantagens dos terroristas. Centenas de empresários amedrontados pelas FARC tiravam seus capitais do país. Estrategistas de escritório como Rangel, Tokatlian e outros pontificavam com a guerra de posições. O Bloco Oriental desenvolvia parte do Plano Estratégico com a expansão das Frentes em direção a Cundinamarca. As Forças Militares estavam manietadas por caprichos do inepto presidente Pastrana, e mal comandadas pelos que coonestaram a entrega do posto de comando de um batalhão a instâncias dos terroristas em San Vicente del Caguán.
Jojoy se pavoneava arrogante pelo Caguán. Linguarudo, exteriorizava o credo intimidatório desenhado pelo Secretariado. Do mesmo modo que agora, estultos jornalistas diziam que Jojoy era a ala guerreira enquanto Cano era a ala pensante e moderada, sem entender que ambos são terroristas e que a loquacidade de Jojoy refletia o Plano Estratégico fariano.
Por aqueles dias a Frente 51 já delinqüia em Cundinamarca, dirigida por Miller Perdomo. Ansiosos por “levar a guerra onde mais dói na oligarquia”, o Secretariado em pleno, não só Jojoy, enviou a Frente Joaquín Ballén para reforçar Miller no sul-oriente de Cundinamarca.
Miller foi incorporado às FARC no Meta pelo Partido Comunista. Treinado por vietnamitas, salvadorenhos, nicaragüenses e cubanos nos acampamentos de Casa Verde e membro da família González Perdomo, cujos integrantes pertencem às FARC. Junto com Nelson Robles da Frente 52 e Romaña da Frente 53, Miller cometeu mil ruindades no sul-oriente de Cundinamarca, e projetava suas ações delitivas dentro de Ciudad Bolívar e na Universidade Nacional, em associação com Chucho e Carlos Antonio Lozada.
A chegada da Frente Ballén, acordada no acampamento de La Marranera em Guayabetal em 1994, com a anuência do “padre Camilo”, hoje protegido por Lula e Dilma no Brasil, significava um grande reforço à capacidade terrorista das FARC nesta região do país.
Todos os integrantes de “la Ballén” haviam recebido treinamento de forças especiais e eram combatentes capacitados em “penetrações” em objetivos de alto nível, operações de comandos e difusão da linha política dentro da massa.
O segundo no comando da Frente era Felipe Bohórquez, cognome “el llanero” [1], camponês araucano [2], valente, inteligente e arrojado. Sua amante era Nancy, uma bela camponesa. Desde a chegada a Cundinamarca, Miller começou a ordenar missões ao “llanero” para afastá-lo de Nancy e, ao mesmo tempo, convertê-la em mais uma de suas amantes. Pela mesma época, Silvio o pastuso [3], segundo cabeça da Frente 31, muito próximo a Miller nas atividades terroristas sobre a via Bogotá-Villavicencio, foi capturado perto de Guayabetal.
Silvio negou ser terrorista ante as autoridades e com mentiras comprometeu-se, comenta-se, como camponês da região, a entregar informação acerca das atividades de Miller, Robles, Romaña e Joaquín “garganta”.
Como era de se supor, os juízes o soltaram e Silvio regressou à Frente para comentar que ele havia sido delatado por um camponês de Pipral. Então, Miller ordenou ao “llanero” que o matasse porque era “sapo” [4]. Ao chegar à casa da vítima, o ingênuo camponês, acompanhado por três crianças e uma mulher grávida, lhe ofereceu almoço.
“El llanero” sentiu-se incapaz de cometer o crime. Em contraste, o advertiu de que fugisse da região porque as FARC iam matá-lo. Quando “el llanero” relatou a verdade a Miller, este, ofuscado, o repreendeu: “você tem coração de frango”. Como castigo, o enviou com um comando especial para assassinar o soldado sentinela da base militar La Australia, localizada na saída de Bogotá em direção ao Páramo del Sumapaz.
A incursão falhou porque no momento do assalto outro soldado reagiu e deu baixa ao terrorista que tentava furtar o fuzil do sentinela. “El llanero” retornou à guarida com a notícia negativa e como circunstância agravante, encontrou Nancy nos braços de Miller. Iracundo, “el llanero” deu um pontapé na mulher. Miller encostou-lhe o cano do fuzil e o ofendido guerrilheiro fez o mesmo. Vários terroristas intervieram e os tranqüilizaram, porém Miller o advertiu de que o levaria ao conselho de guerra, com a prévia opinião de Jojoy.
Por razões óbvias, Jojoy deu razão a Miller e ordenou fuzilar “el llanero”, porém a rádio-operadora o advertiu da situação e o condenado à morte escapou da guarida com um lança-granadas, material que entregou ante a primeira unidade militar que encontrou. Depois foi acolhido pelo Plano de Reinserção do Governo Nacional.
Para completar, Rossi, o segundo de Miller, foi capturado em Pereira. Segundo seu testemunho, Miller chegava com Nancy a bordo da ambulância do posto de saúde de San Juan de Sumapaz, a um local alto onde a comunicação entrava melhor, para ligar para os familiares dos seqüestrados de 10 telefones celulares diferentes, para que pagassem o dinheiro dos resgates.
Em uma cinematográfica operação de comandos, os soldados se infiltraram na noite e em absoluto silêncio, escondidos entre os matagais, esperaram a chegada do terrorista. Às nove da manhã apareceu o carro. Desconfiado, Miller esquadrinhou o setor vizinho. Nancy se abaixou e tranqüila e desinibida urinou muito perto da cabeça de um dos soldados da equipe de choque da contra-guerrilha. Miller fez a primeira chamada e amedrontou uma de suas vítimas. Suspendeu as chamadas de repente, disparou seu fuzil contra um soldado e tentou subir no veículo para escapar, porém uma rajada o deixou sem vida. A seu lado caíram Nancy e outro escolta.
Quando as tropas de reforço se aproximaram do local dos fatos, Silvio, o pastuso, saiu de uma residência com um fuzil R-15 e enfrentou os soldados mas também morreu com sua escolta.
A morte de Miller Perdomo foi um golpe mortal para as FARC. Significou a morte de um cabeça de Frente, a perda do primeiro pilar de confiança de Tirofijo, Jojoy e do resto do Secretariado no plano de entrar em Bogotá, ademais da perda de centenas de documentos eletrônicos, dificuldades para contactar os familiares de seqüestrados e extorqui-los, desagregação das milícias urbanas de Bogotá e, em geral, um duro revés para o Plano Estratégico das FARC.
Assim, a morte de Miller Perdomo no Páramo del Sumapaz marcou o começo da debilitação do Bloco Oriental e da suposta invencibilidade do “Mono Jojoy”. Depois vieram a Operação Berlim em Santander, as baixas de Urías, Cuéllar, Buendía e outros cabeças, cuja missão era intensificar a guerra em Cundinamarca. O destino do “Mono Jojoy” estava traçado.
* Analista de assuntos estratégicos - www.luisvillamarin.com
Notas da tradutora:
[1] “Llanero” é o habitante da região das planícies que não tem uma tradução literal adequada para o português.
[2] “Araucano” é toda pessoa natural de Arauca.
[3] “Pastuso” é todo aquele natural de Pasto.
[4] “Sapo” é como os terroristas - das FARC, ELN ou outro bando - chamam àqueles que eles acreditam ser informantes das Forças de Segurança.
Tradução: Graça Salgueiro
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