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segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

A GENTE NÃO SE VÊ NISSO AÍ

PERCIVAL PUGGINA
21/01/2011

Nos anos 80 integrei um grupo de abnegados que promovia palestras sobre senso crítico, formação da consciência individual e formas de ação coletiva contra o estupro que setores da mídia promovem nos bons e consensuais valores da sociedade. Combatíamos quixotescamente, cientes de que enfrentávamos dragões com tesourinhas, dessas que se dá para crianças recortar papel. Sem fio nem ponta. Mas preservávamos, pelo menos, a orgulhosa sensação de estar fazendo algo contra o que víamos e, principalmente, contra o que antevíamos. Com o tempo, a vida se encarregou de dispersar os membros do grupo pelo país afora e nossos cursos pararam por falta de equipe.

Decorridas mais de duas décadas, quando me lembro daqueles anos, do que então era exibido em programas e novelas de tevê, e do que motivava nossa atividade cívica em defesa dos traditional values, colho a impressão de que se por um lado estávamos certos ao identificar os males que apontávamos, de outro subavaliávamos os rumos que as coisas iriam tomar na sociedade brasileira. Tudo degenerou muito mais, na telinha e na vidinha. De minha parte, desde então, não assisto mais novelas. Ostento o distintivo: sou um brasileiro que, em um quarto de século, não assistiu uma única novela. Mas tomo ciência, pelas conversas de casa, das vulgaridades, rolos e perversões que caracterizam as muitas histórias narradas nesses folhetins. Graças à persistência com que se vão degradando os enredos, ano após ano, o que antes chocava foi se tornando aceitável, comum (e, por isso, visto como "normal"). E o que hoje espanta, amanhã será insuficiente para causar sensação. Dizem os drogados que se passa o mesmo em relação às substâncias que utilizam. Já tem muita gente cheirando cinco novelas por dia e entrando em síndrome de abstinência quando acaba o BBB.

Pois bem, foi dentro dessa moldura que assisti, nos últimos dias, um comercial institucional da Rede Globo chamando atenção para a significativa função social que desempenha quando inclui temas de interesse social em suas novelas e minisséries. Em casa, me confirmam: isso tem ocorrido, mesmo, com a introdução de personagens e assuntos que suscitam atenção para o problema das drogas, de certas deficiências físicas e assim por diante. Valeu, pessoal da Globo! Obrigadão! A consciência social de vocês me leva às lágrimas.

Simultaneamente com esse bônus de conveniência pública, persiste contudo, derrubando a balança, a sistemática degradação dos valores, avançando, passo a passo, sobre quaisquer limites que se possa conceber. É inesgotável a imaginação dos roteiristas para promover o aviltamento moral. Assim, por exemplo, leio que Passione, a novela recém concluída, reservou para o apogeu das últimas cenas os relatos de um sujeito bígamo, que engravidara simultaneamente as duas mulheres, e que, por proposta de uma delas, compôs com ambas um ajuste de convivência triangular consentido e permanente. Coisa do tipo segunda, quarta e sexta com uma e terça, quinta e sábado com outra. Domingo folga geral. Não surpreende, portanto, que já se organizem no país movimentos voltados para cobrar do Estado brasileiro a indispensável tutela jurídica de tais sem-vergonhices.

Mas só isso pareceu pouco a Sílvio de Abreu e seu folhetim. Era preciso avançar ainda mais na degeneração protagonizada por Passione. Faltava um morango na cobertura. E o morango da depravação ficou reservado para as cenas grotescas de uma senhora octogenária que, posta aos amassos com um coetâneo - varão que receberia por esposo -, simultaneamente se requebrava e seduzia outro velhote de miolo mole. Tal vovozinha certamente encontrou inspiração dentro do círculo familiar do autor da história. Por isso, quero deixar bem claro a quem vive nos dizendo que "a gente se vê por aqui". Senhores, a gente não se vê nisso aí!

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* Percival Puggina (66) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões.

(Encomendas: pombasegavioes@puggina.org)

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
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Cuidado com seus pensamentos: eles se transformam em palavras. Cuidado com suas palavras: elas se transformam em ação. Cuidado com suas ações: elas se transformam em hábitos. Cuidado com seus atos: eles moldam seu caráter.
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A perversão da retórica, que falseia a lógica e os fatos para vencer o adversário em luta desleal, denomina-se erística. Se a retórica apenas simplifica e embeleza os argumentos para torná-los atraentes, a erística vai além: embeleza com falsos atrativos a falta de argumentos.
‎"O que me leva ao conservadorismo é a pesquisa e a investigação da realidade. Como eu não gosto de futebol, não gosto de pagode, não gosto de axé music, não gosto de carnaval, não fumo maconha e considero o PT ilegal, posso dizer que não me considero brasileiro - ao contrário da maioria desses estúpidos que conheço, que afirma ter orgulho disso". (José Octavio Dettmann)
" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".