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quinta-feira, 20 de maio de 2010

Oh! Admirável mundo novo

MÍDIA A MAIS

Por Melanie Phillips em 18 de maio de 2010


O recém eleito Primeiro-Ministro David Cameron (D) e o Vice-Primeiro- Ministro Nick Clegg (E) em entrevista coletiva no jardim da Downing Street, nº10, na tarde de 12/05
OConservative Home relata:
 
Respondendo a perguntas, o primeiro-ministro disse que ambos haviam examinado a opção de um governo de minoria[1] com base em votos de confiança e de aprovações orçamentárias[2], mas concordaram que isso seria ‘tão sem inspiração’ que não lhes permitiria fazer o que pretendiam realizar na política e não significaria nada.
 
Será este talvez o primeiro exemplo de um descarado malabarismo verbal Cleggrooniano?[3] “Sem inspiração”. Por favor! Em vez disso, entendam: “uma ameaça grande demais para um já rápido desaparecimento de perspectiva de poder”. De forma incompetente, David Cameron colocou-se numa posição onde Nick Clegg poderia jogar com Trabalhistas e Conservadores, e estava claramente apavorado com a possibilidade de Clegg formar uma coalizão com os Trabalhistas.
 
Em vez de adotar a visão de que tal coalizão Trabalhista/Liberal Democrata seria catastrófica para esses dois partidos por que a) ela se desmancharia b) seria considerada culpada pela implementação de duríssimos cortes de gastos c) os eleitores puniriam os Liberal Democratas por manter os Trabalhistas no poder [cuja popularidade e aprovação estava em baixa acentuada] contra a sua vontade expressa nas urnas – uma análise que fez com que os maiorais Trabalhistas soassem o alarme sobre um acordo de tal tipo, ajudando a afundá-lo – Cameron decidiu que deveria agir preventivamente para evitar esse acordo natimorto; e fez isso oferecendo a Clegg uma coalizão Conservadora [Tory]/Liberal Democrata [LibDem], com concessões sobre políticas e ofertas de postos no gabinete [ministério].
 
Essa decisão foi considerada ainda mais urgente em função da pressuposição de Cameron de que se os Trabalhistas e LibDems se unissem e deixassem os Conservadores mais uma vez na oposição, a sua própria posição de líder do partido ficaria ainda mais vulnerável diante da justificada fúria de seus colegas Tories pelas falhas táticas e estratégicas da fracassada campanha eleitoral. O que realmente carecia de “inspiração” era o medo de que poderia ser alijado da liderança Conservadora, medo que o impediu de tomar essa posição baseada em princípios e sabedoria política.
 
O resultado é que, com os Cameroons alegremente trombeteando que os Conservadores agora são os atores principais da política ‘progressista’, o conservadorismo político na Grã-Bretanha parece ter morrido. A fim de neutralizar o rótulo insultuoso de “partido sujo” atribuído aos conservadores, Cameron transformou o partido ao adotar muito do pacote Liberal Democrata – social libertário, ‘ecológico’ e comprometido com o controle estatal através do NHS [National Health Service – Serviço Nacional de Saúde].
 
Agora os Tory Cameroons pensam que por governar em coalizão com os LibDem finalmente provarão que não são o partido sujo, uma vez que os LibDem são ‘bacanas’. Tal raciocínio demonstra uma superficialidade extraordinária. Os LibDem estão ainda mais à esquerda. Os LibDem, de um modo geral, estão à esquerda dos Trabalhistas! Isso significa que aquilo que eles defendem não é ‘bacana’ de jeito nenhum. Significa que eles têm uma visão de mundo ideológica iliberal, a qual solapa a base moral desta sociedade para onde quer que você olhe, substituindo verdade, justiça e moralidade por ideologia e demonização da divergência.
 
Portanto, duvido que ouçamos alguma coisa dos Tries sobre a revogação do Human Rights Act [lei de 1998 que, na prática, transfere certas decisões das cortes britânicas para a Corte Européia, em Estrasburgo; em 2003 Cameron prometeu revogar a lei se chegasse ao poder]. Duvido ainda mais que ouçamos qualquer coisa sobre a proteção dos direitos dos cristãos que têm sido atormentados por tentar viver de acordo com seus princípios religiosos; ou sobre lutar contra a praga do politicamente correto na polícia; ou contra a demonização dos homens pelas guerreiras feministas defensoras do “gênero”; ou parar a islamização da Grã-Bretanha, sem falar de impedir que o Irã obtenha a sua bomba genocida.
 
Em todas essas questões e em mais outras, a grande missão do conservadorismo, isto é, a defesa dos valores fundamentais da sociedade ocidental contra os ataques que esta sofre, foi jogada fora, na medida e que o Partido Conservador agora junta forças com quem a ataca em nome de um liberalismo cujo significado foi virado de cabeça para baixo. A tarefa que está diante do conservadorismo é resgatar a linguagem do liberalismo, dos direitos humanos e da decência, sequestrada pela esquerda, e devolvê-los ao seu sentido verdadeiro. Em vez disso, os Conservadores estão tão excitados porque agora os LibDems lhes conferirão a aura do ‘progressismo’, que não conseguem ver que, na verdade, serão manchados pela mistura singular de insipidez e malignidade que caracteriza seus iliberais e não muito democráticos companheiros de coalizão.
 
Com a notável exceção de Iain Duncan Smith, cuja indicação para a o ministério do Trabalho e Previdência oferece uma chance real de que o welfare state possa finalmente ser reformado de acordo com os princípios de responsabilidade moral e verdadeira justiça, este é agora um governo de Cleggeroons. Os Cameroons e os LibDems se dão tão bem porque, na verdade, são muito parecidos em sua percepção da vida – um abordagem secular, utilitária, na qual o princípio mais profundo é a liberação das restrições sobre os indivíduos a expensas das regras morais, para produzir as perniciosas doutrinas de relativismo cultural e sua coerção através do politicamente correto, também conhecido como marxismo cultural.
 
E isso me traz à lembrança Michael Gove, que consegue incorporar tanto o libertarianismo social quanto um profundo entendimento da importância da nação e de sua história. Gove, depois de muitos alarmes falsos e andanças, acabou no ministério que agora é feliz e novamente chamado de Educação (seu primeiro ato sólido). Temo, todavia, que o seu aparentemente radical programa de ‘escolas livres’ (que desde o princípio foi questionado pela oposição conservadora à seleção acadêmica) pode ter sido finalmente emasculado por esta pequena expressão no Acordo de Coalizão:
 
Concordamos em promover a reform das escolas para garantir... que todas as escolas prestem contas apropriadamente.
 
Prestem contas a quem? Às autoridades locais, tal como os LibDems sempre insistiram? Se for isso, será o fim do experimento de ‘escolas livres’. Quanto a isto, bem como a tantas outras coisas neste admirável alvorecer azul-laranja[4], aguardamos esclarecimento com cansada expectativa.
 
Tradução: Henrique Dmyterko
 
Publicado originalmente na Spectator.co.uk/melaniephillips em 12/05/2010
 

[1] NT: Os conservadores conquistaram 305 dos 650 assentos, 21 a menos para a maioria absoluta. Seria o chamado hung parliament, situação que não acontece há mais de 50 anos na Grã-Bretanha. O Partido Conservador britânico (Tory), liderado por David Cameron conquistou o maior número de assentos no parlamento, mas não em número suficiente para ter a maioria absoluta. O distante terceiro colocado, o Partido Liberal Democrata, liderado por Nick Clegg, ficou na confortável posição de ser cortejado por Gordon Brown, ex-primeiro-ministro pelo Partido Trabalhista e por Cameron. Os Trabalhistas estavam no poder há treze anos (Tony Blair- Gordon Brown).
 
[2] NT: Nos regimes parlamentaristas e durante um hung parliament, “confidence and supply”, são os votos de um partido minoritário que podem manter ou derrubar o governo, expressando voto de confiança/desconfiança ou de aprovação/desaprovação do orçamento.
 
[3] NT: O grupo de “jovens conservadores” que se formou sob a liderança de David Cameron já vinha sendo chamado de Tory Cameroons. A autora cria um neologismo híbrido, Cleggeroonian,abertamente debochado ao misturar Clegg e Cameroons. Apenas a título de ilustração, seria algo como falar em “Malufolulistas”, “Lulobrizolistas”, etc.
 
[4] NT: Referência às cores dos dois partidos.

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
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‎"O que me leva ao conservadorismo é a pesquisa e a investigação da realidade. Como eu não gosto de futebol, não gosto de pagode, não gosto de axé music, não gosto de carnaval, não fumo maconha e considero o PT ilegal, posso dizer que não me considero brasileiro - ao contrário da maioria desses estúpidos que conheço, que afirma ter orgulho disso". (José Octavio Dettmann)
" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".