por Jeffrey Nyquist em 03 de outubro de 2007
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Resumo: Os russos e seus aliados estão causando problemas onde quer que possam. Chegou a sua hora. O presidente americano é fraco. A economia americana enfrenta problemas. Um grande empurrão, mais uma palha sobre as costas do camelo e o capitalismo pode ser derrubado – definitivamente.
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Esta semana [última de agosto de 2007], Nicolas Sarkozy alertava contra o uso que a Rússia faz de seus recursos energéticos como instrumento de política externa. Falando diante de seus embaixadores, o presidente francês disse: “A Rússia está impondo a sua volta à cena mundial [como grande potência] pelo emprego de seus recursos, e com certa brutalidade” . Uma grande potência deveria ser moderada e suave em sua superioridade econômica ou política. Os russos, porém, estão acostumados a um uso mais cínico de suas vantagens. A linguagem do presidente Putin inclui deboche, condescendência e ameaças. O Ocidente se encolhe em bajulações servis; o Oriente avança. Quem liga para o que pensam os países mais fracos? Seus sentimentos e aspirações não têm importância.
A Rússia está engajada não apenas numa escalada militar. Ela quer usar seus músculos econômicos. Mas você pode perguntar: que músculos econômicos? É um país falido, claudicante, desmoralizado e geralmente tido como um ator econômico ineficaz. No entanto, devemos lembrar que no mundo econômico, as posições mudam e que mesas podem ser viradas. Em junho último, no Fórum Econômico Internacional, em São Petersburgo, o russos conclamaram uma “nova arquitetura financeira mundial”. Eis aqui a estratégia econômica russa rotulada a “Fase Final” [1]: a vulnerabilidade financeira do capitalismo está crescendo, então, continue empurrando para cima os preços do petróleo. Enfraqueça o dólar. Precipite a inevitável “crise do capitalismo”. Deixe que as nações pobres e sem recursos rebelem-se. Deixe que rompam suas amarras ao dólar. Deixe que se unam à Rússia e à China “num só punho cerrado”.
O presidente Putin acredita que os EUA são vulneráveis. As economias emergentes do Brasil, Índia e China – combinadas à da Rússia – podem empurrar para o lado a esvaziada economia americana. Afinal, a ascendência econômica americana é “arcaica, não democrática, pesada e desajeitada”, de acordo com Putin. Quanto à Europa, sua dependência das exportações de petróleo e gás russos garante um processo suave de “Finlandização”. Um processo tal como esse começa com advertências gentis por parte dos embaixadores russos na Europa e termina em autocensura. A penetração econômica russa alavanca a influência de Moscou. Em outras palavras, o Kremlin se entranhou no tecido da vida política européia – através de redes de agentes, operações de influência e pressão comercial. Estas relações podem ser usadas para influenciar pessoas poderosas ou para afetar, de maneira adversa, as carreiras de quem quer que se oponha aos interesses russos.
Influência econômica significa influência política [2]. Enquanto os EUA são humilhados e recuam, a Rússia avança. Pode chegar o dia em que a Europa pague por suas fontes de energia em rublos. Se isto ocorrer, a Europa terá que adquirir um vasto estoque da moeda russa. A posição econômica da Rússia seria fortalecida, bem como o controle russo sobre a Europa. Moscou deseja criar, em território russo, uma bolsa mundial de petróleo, alijando grandes players do mundo financeiro. Os russos querem atordoar a economia americana. Eles querem enfraquecer o já enfraquecido dólar.
Em 1984, um desertor russo chamado Anatoliy Golitsyn escreveu sobre o período que se seguiria ao colapso do comunismo. E avisava quanto a um renovado ataque ao Ocidente, arquitetado pelos estrategistas do KGB. Em seu livro de 1984, New Lies for Old [Novas Mentiras no Lugar das Velhas], ele escreveu: “A ‘Liberalização’ na Europa Oriental, na escala sugerida, poderia ter um impacto social e político até mesmo nos EUA, especialmente se coincidisse com uma severa depressão econômica. Os estrategistas comunistas estão à espreita de tal oportunidade”. De acordo com Golitsyn, o bloco comunista rastreia os desdobramentos dos movimentos econômicos ocidentais. Eles atentam para fraquezas em andamento. “O bloco comunista não repetirá o erro de deixar de explorar uma queda brusca como a de 1929-32”. Os observadores mais argutos sabem que uma queda financeira brusca ressuscita o marxismo e a sua crítica à liberdade econômica.
Referindo-se à fase enganosa e auto-apregoada da fraqueza russa, em 1984, Golitsyn advertia: “Informações vindas de fontes comunistas dando conta de que o bloco [soviético] sofre escassez de petróleo, deve ser tratada com particular reserva, uma vez que bem pode ter a intenção de ocultar a preparação para a fase final da política [de longo alcance] e induzir o Ocidente a subestimar o potencial das armas econômicas do bloco”. A fraqueza econômica da Rússia levou a Europa a sentir-se segura quanto à sua crescente dependência do petróleo e gás russos. E agora é tarde demais. Vemos como Rússia e China formaram um bloco militar. Vemo-los dando apoio às ambições nucleares do Irã e ao paranóico incremento bélico da Síria e da Venezuela – além da sedução da América Latina e do incentivo ao sangrento esfacelamento da África Sub-saariana.
A situação financeira dos Estados Unidos piora enquanto o antigo bloco comunista reúne suas forças econômicas, políticas e militares. Dêem uma olhada nas novas armas russas – mísseis nucleares, tanques, caças a jato e muito mais. Dêem uma olhada na América Latina e percebam o que está acontecendo na Venezuela, Bolívia e Colômbia. Os comunistas estão avançando sob várias bandeiras falsas. Eles buscam a destruição dos Estados Unidos. Não importa quem está na Casa Branca. Não importa qual política os Estados Unidos estão seguindo. Eles querem destruir os Estados Unidos porque estes estão no caminho, obstruindo seus planos.
Se você vive nos EUA e quer que seus filhos sejam livres, é melhor acordar. As ações da Rússia não são em reação a uma “agressão” americana ou ao “imperialismo”. Elas são parte de um padrão enganoso e de exploração oportunista estabelecido há muito tempo. Eis como se comportam os russos. Eis como eles sempre se comportaram. A maioria das “autoridades e especialistas” irá zombar desta declaração. Mas permitam-me perguntar a eles: será uma coincidência que um regime-KGB tenha emergido na Rússia “democrática”? Será mero acaso que este mesmo regime tenha formado uma aliança militar com a China comunista?
Pouco antes de sua morte, a jornalista russa Anna Politkovskaya perguntava se o avanço da Rússia de Putin era mero acaso. Em resposta a esta pergunta ela levou um tiro na nuca. Silenciar aqueles que fazem as perguntas certas é parte do antigo padrão comunista. De acordo com Mark Riebling, o livro do desertor da KGB, Anatoliy Golitsyn, publicado em 1984, contém 148 previsões passíveis de serem demonstradas como falsas. Mas dessas 148 previsões, “139 provaram-se corretas ao final de 1993 – uma taxa de precisão de aproximadamente 94%”. Hoje, a taxa de precisão de Golitsyn é ainda maior Tendo previsto o uso que a Rússia faria do petróleo como arma econômica, e tendo previsto uma futura aliança entre Rússia e China, podemos dizer que das 148 previsões de Golitsyn, 141 tornaram-se realidade.
Em meses recentes a Rússia tentou provocar uma guerra entre Israel e Síria. O que se verifica é que a paranóia em Damasco foi insuflada a partir de Moscou. O analista convencional pensa que os russos são motivados pelas perspectivas de mais vendas de armas à Síria. Mas isso não responde completamente a pergunta. A Rússia busca fomentar uma crise militar maior com a qual intensifique a crise econômica e de energia. Os russos e seus aliados estão causando problemas onde quer que possam. Chegou a sua hora. O presidente americano é fraco. A economia Americana enfrenta problemas. Um grande empurrão, mais uma palha sobre as costas do camelo e o capitalismo pode ser derrubado – definitivamente.
2007 Jeffrey R. Nyquist
Publicado por Financialsense.com
Tradução: MSM
[1] Nota da Editoria: “Fase Final” é o título de um dos capítulos do livro de Anatoliy Golitsyn, citado neste artigo e em vários outros de Jeffrey Nyquist publicados pelo MSM, e disponíveis através do nosso mecanismo de busca por palavras-chave: Golitsyn, New Lies for Old.
[2] NT: Aqui, o autor obviamente se refere ao uso planejado de uma posição econômica como arma política. A simples posse de riquezas não confere poder político; somente uma articulação consciente entre os dois elementos é que pode resultar em poder de fato; e o poder final é o das armas financiadas pelo poderio econômico. Os traficantes brasileiros já aprenderam essa lição há muito tempo.
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