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quinta-feira, 21 de agosto de 2008

A concepção russa de dominação da Europa

Do portal MÍDIA SEM MÁSCARA
por Jeffrey Nyquist em 19 de agosto de 2008

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Resumo: Hoje a UE confronta a Rússia do mesmo modo que Neville Chamberlain confrontou Hitler em 1938; tendo sido lograda e trapaceada nas negociações de um cessar-fogo, não há outro resultado possível que não o da política de apaziguamento e concessões.

© 2008 MidiaSemMascara.org

A Blitzkrieg russa na Geórgia é mais do que uma campanha militar. Ela tem o objetivo de fortalecer a estratégia diplomática russa, que busca fazer da União Européia (UE) a principal representante do Ocidente em futuras negociações com a Rússia. Muito naturalmente, o Kremlin deseja escapar da lógica da política norte-americana e da OTAN, a qual é a de conter a Rússia dentro dos limites de suas fronteiras nacionais. Enquanto isso, a União Européia é um animal inteiramente diferente: sem dentes, utópico e pronto a agradar.

Os estrategistas do Kremlin acreditam que os Estados Unidos estão à beira de uma desarticulação incapacitante. De acordo com um artigo publicado em 29 de julho no Pravda, um diplomata russo não identificado revelou que “[A] administração russa acredita que os Estados Unidos poderão em breve sofrer uma séria crise política”. A seqüência começaria com um grave abalo financeiro, seguido de agitação política e, finalmente, a dissolução do poderio militar americano. Conforme alertou o diplomata russo, “Os Estados Unidos estão postados próximos ao limite de uma crise de larga escala quanto a sua própria existência”.

No mês passado, os embaixadores russos foram chamados de volta a Moscou. Em 15 de julho, o presidente Dmitry Medvedev falou a eles no Ministério do Exterior. “Eu gostaria de usar esta oportunidade para uma conversa franca e pragmática”, explicou Medvedev aos diplomatas reunidos. “A Rússia está de fato mais forte e capaz de assumir maiores responsabilidades na solução de problemas em escala regional e global”. Você sabe: a Guerra Fria não foi uma vitória americana. Medvedev fez lembrar a seus ouvintes que os russos tinham “sobrevivido à Guerra Fria”. E que agora, a Rússia está preparada para estabelecer “um novo equilíbrio”.

A fala de Medvedev foi presciente: “[O] hábito de recorrer à força está crescendo. Em tais circunstâncias, é importante manter reserva e avaliar as situações cuidadosamente”. Quando irrompem as guerras, é melhor saber pelo quê você está lutando; deste modo, Medvedev queria que seus embaixadores se familiarizassem com a linha do partido antes de voltar para as suas embaixadas. Em sua preleção, Medvedev disse que eles não deveriam se preocupar com confrontações ao estilo da Guerra Fria. “Eu estou convencido de que com o fim da Guerra Fria, as razões subjacentes para a maioria das políticas e da disciplina do bloco simplesmente desapareceram”. Em outras palavras, a OTAN está dividida. E a violação da soberania iugoslava pela OTAN em 1999 agora possibilitava uma devastadora resposta russa.

A história deveria ser lembrada, disse Medvedev. “Nós simplesmente não podemos aceitar as tentativas que têm tido lugar em determinados países para destacar a ‘missão civilizadora e libertadora’ dos fascistas e de seus cúmplices”. De forma oblíqua, ele estava se referindo aos patriotas anticomunistas na Geórgia, Ucrânia, Letônia, Estônia e Lituânia e ao modo como deram as boas vindas aos alemães em 1941.[*] E ele continuou: “Caracteristicamente, são aqueles estados que têm uma paixão por reescrever a história e as políticas interna e externa, os que, ao mesmo tempo, são os mais fanáticos defensores de atos ilegais, tal como o precedente do Kosovo... E esses mesmos estados são aqueles que se tornaram ultranacionalistas em suas políticas, acossando as minorias nacionais e negando direitos aos chamados ‘sem-estado’ em seus países”.

Aqui temos uma óbvia referência à Geórgia, que estava prestes a ser invadida pelas divisões motorizadas e aerotransportadas russas. “Para nós, esta tarefa é particularmente importante, uma vez que em muitos casos estamos falando de abusos contra russos e populações de língua russa. E proteger e defender esses direitos é, obviamente, uma de nossas responsabilidades”. E então, Medvedev explicou a estratégia diplomática global russa: “Eu enfoquei esses aspectos porque hoje a Europa precisa de uma agenda positiva em vez de uma negativa”. Em outras palavras, a invasão da Geórgia não é um fim em si mesmo. O propósito real desta operação, conforme deu a entender o presidente russo, foi o de ressaltar a perigosa obsolescência da OTAN e as irrealistas expectativas da Europa com respeito à Rússia. Medvedev disse que os antigos tratados não manterão a paz, porque são injustos. A Rússia é uma grande potência e merece exercer influência maior. “Eu estou absolutamente convencido que isto requer uma nova abordagem”, explicou. “É por essa razão que propusemos concluir um novo tratado sobre segurança européia e começar este processo numa cúpula de âmbito europeu [ênfase da editoria]”.

A invasão da Geórgia está agora no centro das atenções. Tal como ressaltou Medvedev, “[H]á falhas na arquitetura da segurança européia...”. O acordo sobre Armas Convencionais na Europa (CFE) [que Putin rompeu em 2007] é injusto porque proíbe a Rússia de posicionar grandes concentrações de tanques na Europa. Esse tipo de coisa não dará certo, disse Medvedev. O que precisamos é de “um sistema de segurança verdadeiramente aberto e coletivo” (sic). De acordo com Medvedev, “Uma parceria estratégica entre a Rússia e a União Européia poderia atuar como a pedra angular de uma Grande Europa, sem linhas divisórias...

A fórmula é simples: evidenciar as fraquezas da OTAN, saudar a União Européia como mediadora e deplorar a tagarelice sem sentido de um impotente presidente americano. O Ocidente está fraco e chegou a hora de preparar a grande colheita. Os anos 1940 estão distantes, Tbilisi não é Berlim e George Bush não é Harry Truman. Uma nova era alvoreceu, na qual os americanos estão à margem. “Os Estados Unidos apóiam firmemente os esforços da França, atualmente na presidência rotativa da UE, no sentido de intermediar um acordo que dará um fim a este conflito”, disse o Presidente Bush.

Que declaração mais boba e estúpida. Quanta divisão a UE tem?

Hoje a UE confronta a Rússia do mesmo modo que Neville Chamberlain confrontou Hitler em 1938; tendo sido lograda e trapaceada nas negociações de um cessar-fogo, não há outro resultado possível que não o da política de apaziguamento [i.e., concessões]. Os russos insistem que suas tropas sejam aceitas como forças de paz na Geórgia. Os mediadores franceses concedem isso. E, portanto, a estipulada retirada das tropas combatentes é medida que não se aplica às tropas russas. Sob esse acordo de cessar-fogo, Moscou pode reivindicar – em sentido estritamente legal – que as tropas Russas possam permanecer na Geórgia indefinidamente. O Presidente Medvedev e o Primeiro Ministro Putin estão rindo dos franceses enquanto cumprem a lei internacional. Enquanto isso, a Geórgia ocupada está sendo saqueada e incendiada; navios georgianos estão sendo afundados e a capital, Tbilisi, estrangulada.

A OTAN nada fez, ainda que tenha prometido fazer da Geórgia um membro da aliança. A OTAN submete-se à União Européia. Bush também se submete e envia sua Secretária de Estado a Paris em vez de a Moscou. Enquanto quase toda a Europa exigia uma solução negociada, apenas a Polônia e os Países Bálticos (junto com a Suécia e a Dinamarca) condenavam em uníssono a agressão militar russa. Toda a Europa deveria ter condenado a Rússia com uma só voz. Toda a Europa deveria ter evitado “negociações”. Toda a Europa deveria ter exigido a imediata retirada das forças russas da Geórgia. Toda a Europa deveria ter iniciado a mobilização de tropas e aeronaves de combate para a defesa da Geórgia. Diante de uma mobilização européia, a Rússia teria recuado.

Mas o Kremlin sabia, de antemão, que isso não iria acontecer. Não há nenhuma “confrontação militar” na Geórgia. Tal como disse o Presidente Medvedev, “Eu estou convencido de que com o fim da Guerra Fria... a disciplina do bloco simplesmente desapareceu”.

O presidente russo está certo.


© 2008 Jeffrey R. Nyquist

Publicado por Financialsense.com

Tradução: MSM

Nota da Editoria MSM: Jeffrey Nyquist, autor deste artigo, publicado originalmente no dia 15/08, vem há anos alertando a respeito da estratégia russa, coordenada pelo Kremlin e sua figura de proa, Vladimir Putin. Para ele, não há surpresa alguma nas recentes ações russas e na inação européia ou na vacilação americana. No sábado, dia 16/08, o Wall Street Journal publicou um duro editorial intitulado “Fazendo Putin Pagar”. Todavia, o texto do editorial ainda aposta num endurecimento do discurso de Bush, em sanções econômicas [ver A Rússia invade a Geórgia] contra a Rússia, e numa reação ocidental iniciada nas últimas 48 horas. Mas o jornal coloca essa reação no condicional: “Se os líderes [ocidentais] mantiverem o curso, ainda podem transformar os parcos sucessos militares russos numa significativa derrota política”. É um “se” enorme; talvez grande demais.´

[*] NT: Em primeiro lugar, o cinismo da declaração de Medvedev é típico da propaganda da era soviética, pois de 1939 a 1941 havia o pacto de não-agressão Ribbentrop-Molotov, por meio do qual alemães e russos colaboraram intensamente, especialmente na destruição da Polônia. Em segundo lugar, todos aqueles ucranianos, bielo-russos, etc., que receberam os alemães como libertadores, sofreram triplamente: 1. Antes da guerra, sob a tirania de Stalin (é bom lembrar os expurgos, fuzilamentos em massa e da Grande Fome da Ucrânia nos anos 1930); 2. Com a reação insana dos invasores alemães, que fuzilaram dezenas de milhares daqueles que os recebiam como libertadores; 3. Com a terrivelmente selvagem vingança soviética, que resultou em mais centenas de milhares de mortos. Portanto, é absolutamente ridículo e atroz propugnar a idéia de que povos vivendo sob a vigilância constante de uma ditadura feroz, isolados do mundo, tenham podido imaginar que os alemães eram impulsionados por uma ideologia assassina quando eles mesmos já viviam sob outra ideologia cruel e igualmente assassina. O nazismo foi nefando, execrável, abominável, mas o comunismo o superou em muito em matéria de longevidade e crueldade planejada. Não obstante o fato de que não há qualquer justificativa ou desculpa concebível para os crimes nazistas, é forçoso ressaltar que para os comunistas sempre foi e ainda é muito conveniente deixar que as luzes e atenções focalizem apenas o nacional-socialismo, seu primo irmão, deixando de lado ou ocultando a longa e hedionda história dos crimes dos próprios comunistas em todo o mundo.

Jeffrey Nyquist é formado em sociologia política na Universidade da Califórnia e é expert em geopolítica. Escreve artigos semanais para o Financial Sense (http://www.financialsense.com/), é autor de The Origins of The Fourth World War e mantém um website: http://www.jrnyquist.com/



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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
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" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".