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quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Mises e a metodologia da ciência econômica

MOVIMENTO ENDIREITAR
Escrito por Murray N. Rothbard Seg, 16 de Fevereiro de 2009

A década de 20 assistiu, assim, à conversão de Ludwig von Mises em eminente crítico do estatismo e do socialismo e em paladino do laissez-faire e da economia de livre mercado. Mas isso ainda não era o bastante para sua mente extraordinariamente criativa e fecunda. Ele se dera conta de que a própria teoria econômica, mesmo sob sua forma "austríaca", não tinha sido inteiramente sistematizada e nem tinha formulado por completo os próprios fundamentos metodológicos. E, mais ainda, percebeu que a ciência econômica vinha-se rendendo, cada vez mais, aos encantos de metodologias novas e infundadas: especialmente o institucionalismo - que basicamente negava toda a ciência econômica - e a do positivismo, que, cada vez mais, de maneira enganosa, procurava fundamentar a teoria econômica nas mesmas bases das ciências físicas.

Os economistas clássicos e os primeiros "austríacos" tinham erguido a ciência econômica com base numa metodologia apropriada; mas suas descobertas específicas no plano metodológico tinham sido frequentemente fortuitas e esporádicas, não tendo, portanto, constituído uma metodologia suficientemente explícita ou consciente para resistir às novas investidas do positivismo ou do institucionalismo.

Mises passou a trabalhar na criação de uma base filosófica e de uma metodologia para a ciência econômica, completando e sistematizando os métodos da Escola Austríaca. Estes foram expostos primeiramente em Grundprobleme der Nationalokonomie (1933), traduzido para o inglês muito mais tarde, em 1960, sob o título Episteological Problems of Economics. Após a segunda guerra mundial, quando o institucionalismo se extinguira, e o positivismo, lamentavelmente, dominara por completo os economistas, Mises continuou a desenvolver sua metodologia e refutou o positivismo em Theory and History, de 1957, e em The Ultimate Foundation of Economics Science, de 1962. Mises combateu particularmente o método positivista, que vê os homens à maneira da física, como pedras ou átomos. Para o positivista, a função da teoria econômica é observar regularidades quantitativas, estatísticas, do comportamento humano, para depois conceber leis que poderiam então ser usadas para "prever" outras evidências estatísticas e ser por estas testada. É obvio que o método positivista se adequa singularmente à idéia de economias dirigidas e planejadas por engenheiros sociais, que tratam homens como objetos físicos inanimados. Como disse Mises em seu prefácio a Epistemological Problems, essa abordagem "científica":

“estuda o comportamento de seres humanos com os mesmos métodos a que recorre a física newtoniana para estudar a massa e o movimento. Com base nessa abordagem pretensamente "positiva" dos problemas da humanidade, planejam criar uma engenharia social, uma nova técnica que permita ao "Czar econômico" da sociedade planejada do futuro manejar homens vivos do mesmo modo que faz a tecnologia, que permite ao engenheiro manejar matérias inanimadas.

Em contraposição a esta metodologia, Mises desenvolveu a sua, a que chamou de Praxeologia - ou a teoria geral da ação humana - a partir de duas fontes: a análise dedutiva, lógica e baseada no indivíduo, dos economistas clássicos e austríacos; e a filosofia da história da "Escola Alemã do Sudoeste" da virada do século XX, especialmente, tal como representada por Rickert, Dilthey, Windelband e por Max Weber, grande amigo de Mises. A praxeologia miseana fundamenta-se essencialmente no homem em ação: no ser humano concebido não como uma pedra ou um átomo que se "move" segundo leis físicas quantitativamente determinadas, mas como possuidor de propósitos, metas ou fins próprios que procura alcançar, bem como de idéias sobre como fazê-lo. Em suma, Mises afirma, em contraposição aos positivistas, o fato básico da consciência humana da mente do homem, que estabelece metas e busca alcança-las através da ação. A existência dessa ação é revelada tanto pela introspecção quanto pela observação dos seres humanos em suas atividades. Uma vez que os homens usam seu livre arbítrio para agir no mundo, o comportamento resultante jamais poderá ser codificado em "leis" históricas quantitativas. É, portanto, inútil e enganosa a tentativa dos economistas de chegar as leis estatísticas e correlações previsíveis para a atividade humana. Cada evento, cada ato na história humana é diverso e único, resultando da livre ação e interação das pessoas. Não pode haver, portanto, quaisquer previsões ou "testes" estatísticos de teoria econômica.

Se a praxeologia mostra que as ações humanas não podem ser encaixadas nos escaninhos das leis quantitativas, como pode haver então uma ciência econômica? Mises responde que a ciência econômica, enquanto ciência da ação humana , deve ser e é, de fato, muito diferente do modelo positivista da física. Pois, como mostraram os economistas clássicos e "austríacos", a economia pode basear-se de início num número bastante reduzido de axiomas evidentes e de validade geral, alcançáveis por meio da introspecção da própria natureza e essência da ação humana. Tendo-os alcançado, podemos derivar suas implicações lógicas como as verdades da ciência econômica. Por exemplo, o axioma fundamental da existência da própria ação humana: os indivíduos tem metas e agem para alcança-las, agem necessariamente ao longo do tempo, adotam escalas ordinais de preferência, e assim por diante.

Embora só traduzidas muito depois da Segunda Guerra Mundial, as idéias de Mises sobre metodologia foram introduzidas no mundo de língua inglesa, sob forma muito diluída, por seu aluno e então seguidor, o jovem economista inglês Lionel Robbins. Seu Essay of the Nature and Significance of Economic Science de 1932, em que o autor reconhece sua "dívida especial" para com Von Mises, foi, por muitos anos, reputado na Inglaterra e os EUA o mais importante trabalho sobre metodologia da ciência econômica. Mas, enfatizando o estudo da destinação de recursos escassos para fins alternativos como essência da ciência econômica, Robbins propunha uma forma demasiado simplificada e edulcorada da praxeologia. Faltava-lhe toda a profunda penetração de Mises na natureza do método dedutivo e nas diferenças entre a teoria econômica e a natureza da história humana. Em conseqüência - e permanecendo não traduzido o trabalho do próprio Mises nesse campo -, a obra de Robbins não foi suficiente para fazer frente à maré montante do positivismo.

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
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A perversão da retórica, que falseia a lógica e os fatos para vencer o adversário em luta desleal, denomina-se erística. Se a retórica apenas simplifica e embeleza os argumentos para torná-los atraentes, a erística vai além: embeleza com falsos atrativos a falta de argumentos.
‎"O que me leva ao conservadorismo é a pesquisa e a investigação da realidade. Como eu não gosto de futebol, não gosto de pagode, não gosto de axé music, não gosto de carnaval, não fumo maconha e considero o PT ilegal, posso dizer que não me considero brasileiro - ao contrário da maioria desses estúpidos que conheço, que afirma ter orgulho disso". (José Octavio Dettmann)
" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".