LUCIANO AYAN
Quando falamos em “debate”, costumamos pensar em dois palestrantes em um palanque, com a presença de um mediador. Elementos como uma introdução de 10 minutos, a réplica do outro debatedor, e uma tréplica do primeiro são comuns.
Isso é o que chamo de debate formal. Você provavelmente já viu isso nos embates entre William Lane Craig e Christopher Hitchens, ou até contra Sam Harris. Assim como já viu em qualquer debate político na época das eleições.
Entretanto, essa é apenas uma forma de debate.
Defino aqui o debate de uma forma mais ampliada: qualquer situação onde exista conflito de ideias.
Assim, um debate não precisa ser formal. Não precisa ter mediador. Também não precisa de duas partes atuando AO MESMO TEMPO.
Esperem aí, muita calma nesta hora… Um debate não precisa de duas partes? Eu não disse isso. Disse que um debate não precisa de duas partes opostas atuando AO MESMO TEMPO.
Vamos então exercer minha visão ampliada de debate. E, nesta visão, o debate está ocorrendo praticamente a todo momento em que opiniões, idéias, argumentos e propagandas são externalizados a partir de pessoas.
Vejamos como essa noção funciona.
Imagine o mago James Randi chamando um paranormal para o palco. Esse paranormal seria alguém com alegados poderes paranormais. No palco, o paranormal é desmascarado. Randi sai eufórico, vitorioso.
Temos aí um debate, onde foi dito “paranormais são farsantes”. E, com a derrota pública do paranormal, a outra parte do debate saiu perdendo.
Um outro exemplo: um esquerdista lança um vídeo na Internet dizendo que cuspir em militares é uma boa ideia. Se militares lançam um vídeo rebatendo essa ideia, sugerindo o processo dos esquerdistas que defendem a apologia ao ódio, temos então a outra parte do debate finalmente soltando a sua voz.
Quer dizer, o debate está acontecendo a praticamente todo o momento. E envolve muito mais que pessoas, mas conjuntos de idéias.
E o que isso muda em relação à definição tradicional de debate? Muita coisa, especialmente a questão da responsabilidade.
Hoje em dia vemos algumas pessoas dizendo “Que coisa, esse fórum virou uma arena onde querem a vitória a qualquer custo, e não ‘buscar a verdade’. Portanto não participo mais”.
Na verdade, esta pessoa continua participando do debate, apenas com a diferença de que sua participação envolve o silêncio.
Assim, não há diferença técnica entre alguém que pertence a um grupo ofendido em um vídeo no Orkut e alguém que vai a um debate acadêmico e usa o seu tempo para ficar em silêncio, enquanto a outra parte o detona.
Sei que alguns não gostarão dessa minha definição, mas ela é coerente com a realidade dos fatos.
Por exemplo, imagine uma mãe que vê uma filha ser estuprada continuamente por um pai pedófilo. Ela não é culpada? Na verdade, ela tem parcela de culpa pois sua omissão foi útil para este pai estuprar a filha.
Podemos, é claro, discutir o nível de punição, ou apenas repreensão moral, a responsáveis por omissão, mas o fato é que responsáveis são sempre responsáveis.
Enfim, em uma época onde a Internet conectou a todos, os debates ocorrem a todo momento, e pessoas que optam pelo silêncio estão na verdade participando do debate com o seu silêncio, e então ajudando a dar vitória ao grupo oponente.
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