Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro concede Medalha Tiradentes a Olavo de Carvalho. Aqui.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

MUNDO DESCONHECIDO

VIVERDENOVO
QUINTA-FEIRA, 17 DE FEVEREIRO DE 2011

Por Arlindo Montenegro

À minha Amiga Lua.

Chega uma idade cronológica, variável, acima dos 60 ou 70, em que a gente parece já ter visto e ouvido tudo, experimentado de todos os sabores, exceto aqueles considerados asquerosos, por razões diversas. A idade em que a gente parece ter sentido todas as mágoas sem sentido, aquelas que são decorrentes de relacionamentos normais, correntes e humanos, previsíveis ou não, mas sempre presentes, diga-o a literatura universal.

As tolerâncias e intolerâncias se cristalizam e podemos, olimpicamente, dizer diretamente o que pensamos, declarar amores e objeções, saborear mingau de aveia e afagar bichos sem temor a mordidas. As agressões persistentes são sempre atos humanos, irracionais, desta raça nobre hábil na comunicação, no sentido da página das escrituras que discorrem sobre a torre de Babel.

Chega um dia em que a gente pode contemplar, como vendo um filme antigo, revivendo algumas emoções similares, o conflito entre pessoas próximas ou distantes, sem o desejo de intervir, tipo juiz ou conselheiro. Chega a hora de aposentar aquele ser interior arrogante, que simula saber o que é melhor para os outros e para cada um. Esta tendência que parecia incontrolável de julgar os atos alheios, brilha como escudo de proteção dos próprios medos.

O mais novo da família está logo ali. Brinca com um jogo eletrônico que ativa seus reflexos, amplia a visão periférica e exercita o julgamento rápido de situações, que ultrapassa à medida que mata mais personagens no seu caminho. É bem assim que se resume a história da humanidade: resiste quem mata mais. Mortes físicas, crimes continuados contra o físico, contra o espírito, contra os direitos jurídicos, extermínio de mentes e possitilidades.

Uma sucessão indigesta e repetitiva. E no entanto, a beleza e o amor resiste. Estes sentimentos singelos parecem ser os únicos dignos de atenção. Já pensou? Sinais de beleza até nas coisas mais grotescas ou a manifestação da essência contemplativa? No mais é mesmo a beleza desta teimosia que é a vida tão presente e plena de energia, perpassando todas as formas, mesmo as que parecem estáticas, a mesma energia que move outras formas nesta passagem.

Chega um momento em que cessa o impulso para estes jogos humanos e a visão revela que os mesmos filhos disputam não sei que, reproduzindo no recôndito do lar, as disputas do espaço exterior onde cada um parece mais ansioso para ocupar o espaço de poder, de controle das situações, jogando contra a mesma natureza e seu eterno movimento. Quanta pretensão!

Este é o meu momento de poder, enquanto o gato se aninha sobre a mesa ao lado do copo de cristal, único exemplar de uma coleção que serviu aos brindes de tantas pessoas risonhas e crentes em deuses e ideologias diferentes, sem ao menos ouvir a voz do Deus interior, desafiando valores universais permanentes, inconsciente da própria capacidade, da propria missão humana percebida apenas como possibilidade remota e inalcançável.

Melhor juntar-se à tribo e sair dançando, correndo em busca de novas conquistas, sem ao menos pensar em conquistar a paz interior. É o que fazem todos que vivem seu momento. Este é o meu momento de descansar à sombra vigorosa da árvore da paz interior. Deitar-se apreciando as luzes brincando com o vento entre as folhas da copa onde as memórias estão descritas.

Lá ao longe, por onde passei, a gente continua embevecida falando línguas diferentes, usando trajes negros ou coloridos, ouvindo as últimas notícias sennnsaacionaaaiss!! Os mesmos discursos, os mesmos apelos religiosos que conduzem à salvação, seguindo as mesmas diretrizes, multiplicando os mesmos ritos no amor e na guerra. Sem tempo para conhecer o mundo interior.

Olho as folhas que guardam as imagens de rostos e sons de vozes gentís, tanta gente, tantos nomes sonoros ou soturnos, tantas idéias e ideais bondosos e vem à recordação do mundo que se desenhava, do que poderia vir a ser, mas foi impedido quando brotava. As mortes, as guerras, a separação da família, os rigores do frio e do calor extremo, as paixões, a vida em si, desenhou caprichosamente e espalhou enigmas pelo caminho, mudando a direção.

Nada a reparar. Nenhuma culpa pelos crimes cometidos no caminho da sobrevivência. Apenas as marcas, algumas bem profundas, como ficam dos golpes de machado no tronco que resistiu. Igual e diferente de outras marcas que cada pessoa vai juntando vida afora. Todas cicratizadas, algumas ainda guardando a memória da dor. Como a memória das chuvas, ventos, geadas e as floradas quando o sol expunha a vida afirmativa.

Chega o momento de olhar docemente para os olhos das pessoas, sabendo que vão cruzar caminhos que já conhecemos, vão repetir gestos e palavras, vão estender a mão, acariciar, espancar, empunhar armas físicas e mentais. Vão conhecer o gosto e o grito das emoções de odio e amor. Vão praticar ou desprezar a caridade. Vão viver com mais medo paralizante ou mais ação construtiva-destrutiva. Vão louvar ou vão fingir veneração a um Deus. Vão rir, chorar, dançar e dormir. Um dia, dormir sem acordar para a vida que segue.

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
"Para conseguir sua maturidade o homem necessita de um certo equilíbrio entre estas três coisas: talento, educação e experiência." (De civ Dei 11,25)
Cuidado com seus pensamentos: eles se transformam em palavras. Cuidado com suas palavras: elas se transformam em ação. Cuidado com suas ações: elas se transformam em hábitos. Cuidado com seus atos: eles moldam seu caráter.
Cuidado com seu caráter: ele controla seu destino.
A perversão da retórica, que falseia a lógica e os fatos para vencer o adversário em luta desleal, denomina-se erística. Se a retórica apenas simplifica e embeleza os argumentos para torná-los atraentes, a erística vai além: embeleza com falsos atrativos a falta de argumentos.
‎"O que me leva ao conservadorismo é a pesquisa e a investigação da realidade. Como eu não gosto de futebol, não gosto de pagode, não gosto de axé music, não gosto de carnaval, não fumo maconha e considero o PT ilegal, posso dizer que não me considero brasileiro - ao contrário da maioria desses estúpidos que conheço, que afirma ter orgulho disso". (José Octavio Dettmann)
" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".