01/09/2010 às 19:01 \ Direto ao Ponto
Introduzo na poesia a palavra diárreia, não pela palavra fria, mas pelo que ela semeia, avisa Ferreira Gullar nos primeiros versos de A Bomba Suja. Reintroduza-se na política brasileira a palavra honestidade, antes que morra de vez o conjunto de valores que a palavra enfeixa. A honestidade parece tão incompatível com o mundo recriado pela Era Lula quanto parecia dissonante do universo da poesia a palavra evocada por Ferreira Gullar. Aparentemente deslocadas, perdidas, desconfortáveis, devem ser introduzidas bruscamente no ambiente hostil para torná-lo menos cafajeste.
A falsificação da assinatura de Verônica Serra na procuração entregue à Receita Federal é mais que outra agressão ultrajante ao Brasil honrado. É também a prova definitiva de que o vale-tudo eleitoreiro prolongou o degredo da honestidade e expandiu perturbadoramente a fronteira do atrevimento. Se os donos do poder debocham até da filha de um candidato à Presidência da República, é evidente que as instituições estão em frangalhos.
Ou o país reage agora ou a Constituição será substituída pelo manual do banditismo. O governo que se gaba de ter inventado a justiça social vai revogando os códigos que balizam a justiça sem adjetivos. O amor à verdade virou coisa de otário. Pode acabar reduzido a crime. Lula e Dilma Rousseff se declaram indignados não com a delinquência espantosa ou com o crime sem precedentes, o que deixa a dupla à beira de um ataque de nervos é o possível prejuízo eleitoral decorrente das queixas dos adversários.
A Secretaria da Receita Federal não é uma empresa privada, muito menos uma entidade autônoma. É um órgão da administração federal, subordinado ao Ministério da Fazenda. Ninguém é nomeado para o comando do Fisco sem o aval do chefe de governo. Conduzida por especialistas no assunto até a nomeação de Lina Vieira, a Receita foi primeiro aparelhada pelo PT e depois reduzida a acampamento de gatunos, achacadores, ladrões e extorsionários.
O escândalo não se limita ao mafuá de Mauá. O tumor localizado na Receita Federal cresce nos intestinos do Executivo e ameaça a sobrevivência do estado de direito. Antes que venha a metástase, os brasileiros decentes têm de reagir às ações criminosas com a indignação enfim exibida por José Serra. O chefe de família manifestou-se com a veemência que tem faltado ao chefe da oposição. A OAB, a ABI e outras siglas que viviam com a Bic na mão, sempre dispostas a engrossar até um abaixo-assinado contra o guarda da esquina, precisam recuperar a altivez e a voz.
É preciso silenciar imediatamente a conversa fiada do presidente da República, represar as infâmias despejadas pelo presidente do PT, rebater as mentiras desfiadas pela candidata a presidente. O histórico do caso de estupro fiscal informa que, a cada descoberta da imprensa, outro crime é cometido para ocultar os anteriores. O Ministério Público e o Poder Judiciário têm de provar que existem. Se não domarem os selvagens, por eles serão engolidos também.
O combate à corrupção ainda não conseguiu espaço na campanha eleitoral. A roubalheira já foi caso de polícia. Pode acabar promovida a case político. É hora de resgatar expressões que o cinismo endêmico baniu da linguagem dos palanques. A primeira da lista é a palavra honestidade.
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