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quarta-feira, 28 de abril de 2010

Falha de S. Paulo

DIÁRIO DO COMÉRCIO

Uma falha na Folha de S. Paulo fez três vítimas à queima-roupa: a verdade, os leitores e o Diário do Comércio e seu Publisher, a Associação Comercial de São Paulo.

Moisés Rabinovici
 - 25/4/2010 - 23h12


Uma falha na Folha de S. Paulo fez três vítimas à queima-roupa: a verdade, os leitores e nós – o Diário do Comércio (DC) e seu Publisher, a Associação Comercial de São Paulo (ACSP).

O alerta da falha soou no meu celular, na quinta-feira, 22. Era o repórter Diógenes Campanha, da página de Mônica Bergamo, na Folha Ilustrada. Ele falava comigo e talvez com mais alguém a seu lado, ou noutra linha, ao mesmo tempo. Mas acabamos nos entendendo: ele queria discutir um erro no texto publicado no DC sobre a última pesquisa Ibope que encomendamos, feita em abril, e distribuída no feriado de Tiradentes, quarta-feira, aos principais jornais, TVs, rádios, sites e blogs, por cortesia da ACSP.

Ok, é para estas ocasiões que existe o lamentável Erramos, nos jornais. Nosso repórter, distraidamente, e sem má-fé, tomou alguns dados da pesquisa Ibope/DC de fevereiro como se fossem os apurados em abril, e os cravou na tabulação final à questão "espontânea" sobre quem será o próximo presidente, feita a 2002 entrevistados. Esses números confundidos estão longe de ser o foco e o denominador somados para antecipar o próximo presidente.

Os portais do DC e da ACSP na web não reproduziram o engano. Os dados corretos foram para o ar já no primeiro post, e lá permaneceram, e ainda continuam, numa prova de que a teoria ilustrada da conspiração não passa mesmo disso – uma teoria, ou torcida, ou distorção.

A FSP pediu, e recebeu, por e-mail, a íntegra, com 86 páginas da pesquisa Ibope/ACSP-DC, mas não a publicou. Nenhuma linha, nada! Pode ser que tenha se contentado com os resultados gerais vazados, não se sabe como, para a jornalista Renata Lo Prete, do Painel da Folha: ela furou toda a imprensa, inclusive o próprio DC, um dia antes. Também pode ser que só o Datafolha mereça crédito e espaço na FSP – até porque é sua exclusividade.

Na Veja desta semana atribui-se ao Datafolha uma crítica ao Ibope, que "faz prognósticos eleitorais em vez de diagnósticos". Mas o Datafolha é acusado por outro instituto de pesquisa de usar as páginas da FSP para atacar os concorrentes.

Diógenes iluminou o nosso pequeno erro, e eu lhe agradeci a chance de nos corrigirmos. A retificação saiu no dia seguinte. Ao repórter, para não restarem dúvidas, mandamos a cópia em PDF da pesquisa de abril, contendo um retrospecto de fevereiro e março, embora seu jornal já a tivesse, e desprezado. Foi a forma cortês de lhe dizer: veja, aí, o erro ficou circunscrito ao DC, e numa das últimas frases de uma reportagem de página inteira.

Confesso que senti vergonha de ser jornalista – e tenho mais de 45 anos de profissão bem vividos – ao ler na Bergamo, na sexta-feira,23, a insinuação venenosa, irresponsável, de que manipulamos os dados da pesquisa. E eis qual seria o motivo: a ACSP, "que controla o jornal, tem como vice-presidentes o prefeito Gilberto Kassab (DEM-SP), Guilherme Afif Domingos (DEM-SP) e Jorge Bornhausen (DEM-SC). Os três apoiam Serra à Presidência".

Quanto tempo dedicado a Diógenes – e para nada! Não o convenceu o nosso repórter, arrasado pelo erro cometido, negar a suspeita de que errou premeditadamente. Ele escreveu o que bem quis – e aí, sim, com a premeditação que nos imputava: a sua denúncia tendenciosa, não comprovada e insustentável.

Incrível como a leviandade se alastrou através de blogueiros, navegando no agitado mar da internet. Atracou até em portos internacionais.

Ah!, os tempos em que Ben Bradlee ensinava no Washington Post: "O fundamento do jornalismo é buscar a verdade e contá-la". Saudade dos manuais em que aprendíamos: "O patrimônio de um repórter é o seu nome"; e "não se deve escrever uma única palavra de que não se esteja seguro, nem divulgar uma só informação da qual não se tenha certeza absoluta".

Hoje, aí está a Falha de S. Paulo de que somos vítimas: o objeto da notícia não é mais o fato, mas o que dele se diz. Vivamos de versões! Sigamos o mestre Lula, a metamorfose ambulante nacional. A realidade passou a interessar menos do que a sua interpretação.

O fato: a pesquisa Ibope/ACSP-DC. A notícia: o erro de redação sobre ela, sabidamente involuntário, corriqueiro em todos os jornais. A maioria da imprensa vota, em épocas eleitorais, nas páginas de Opinião. Mas alguns textos deste nosso inquisidor, a FSP, exalam o inconfundível odor de sectarismo cego. Até quando o assunto é enchente em São Paulo.

A jornalista Mônica Bergamo acha que beneficiamos o prefeito Kassab, um dos vice-presidentes da ACSP? Ora, mande Diógenes pesquisar em nossas edições. À época da campanha Cidade Limpa fomos à Justiça contra ele, em defesa de associados prejudicados e contra milhares de demissões que acabaram ocorrendo. Será que a ACSP, que se pretende uma entidade de classe apartidária, precisa da bênção do PT para manter seu distanciamento político? Além de divulgar pesquisas eleitorais, já uma tradição, sempre trouxemos, para debater com nossos associados, em reuniões abertas à imprensa, todos os candidatos políticos, TODOS.

A meus companheiros de profissão quero acrescentar: nunca trabalhei num jornal com tanta liberdade como no DC. Aqui me pedem, no máximo, o trivial, como a cobertura que todos os jornais fazem da própria ACSP, uma fonte importante de notícias econômicas. Às vezes, alguém oferece o que seria mais apropriado a um house organ, ou cobrimos alguma visita importante para um texto legenda. Qual redação não recebe pedidos assim?

Comecei no DC na presidência de Guilherme Afif Domingos, há sete anos. Demolidor de tabus, acabou com proibições de origens perdidas no tempo, ou assuntos intocáveis. Ótimo pauteiro, numa órbita que não passa pela política, criou o Impostômetro e os Feirões de Imposto, derrubou a MP 232, foi ao Conar contra propaganda enganosa do governo... Um inovador incansável. Jamais usou o jornal para fins políticos, nem quando o Datafolha lhe deu 14% dos votos contra 43% do senador Eduardo Suplicy (PT), em 27 de setembro de 2006.  O resultado foi... 47,8% dos votos a 43,7%. Se o Datafolha acertasse as últimas pesquisas, os então indecisos, numa reviravolta, poderiam decidir, e Afif seria hoje senador.

A gestão do atual presidente Alencar Burti reforçou o zelo pela isenção política. Ele é extremamente cuidadoso em manter o equilíbrio centrado, como uma gangorra com dois pesos iguais em cada ponta. Com ele o DC desenvolveu o Museu da Corrupção que, em seis meses de vida, ganhou o Prêmio Esso de Melhor Contribuição à Imprensa de 2009, e completou agora um ano, com cerca de 700 mil page views/mês. Só miopia para não enxergar nada além de uma trinca do DEM na ACSP.

Feito o estrago, cometida a injustiça – e daí? A FSP, sempre preocupada com o outro lado, está se revelando lerda quando se torna, ela própria, o outro lado. A carta de esclarecimento que mandei na sexta-feira para o Painel dos Leitores não saiu no sábado. E nem no domingo. Sairá nesta segunda? A ver... Por enquanto, a Falha age como quem atropela e foge sem socorrer a vítima.

O veneno de Diógenes Campanha circula impune como viral pela internet, destruindo reputações, equiparando erro comum em qualquer jornal à manipulação criminosa de pesquisa eleitoral, numa confusão que atinge o próprio Ibope. Pena se vier a estancar um serviço cidadão que a ACSP compartilhava de boa vontade com a opinião pública. As vítimas somos os (e) leitores e nós, e a verdade, sempre a primeira a morrer.
  

Moisés Rabinovici é diretor do Diário do Comércio.
Suas opiniões neste artigo são pessoais e não refletem o pensamento e as posições da ACSP.

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
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‎"O que me leva ao conservadorismo é a pesquisa e a investigação da realidade. Como eu não gosto de futebol, não gosto de pagode, não gosto de axé music, não gosto de carnaval, não fumo maconha e considero o PT ilegal, posso dizer que não me considero brasileiro - ao contrário da maioria desses estúpidos que conheço, que afirma ter orgulho disso". (José Octavio Dettmann)
" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".