| 17 DEZEMBRO 2009
COBERTURA - CONFECOM
Na loucura da Segunda Realidade percebe-se método, a racionalidade do mal operando. A máscara democrática cai à simples observação. Na verdade, todo o circo não passa de uma dinâmica de grupo controlada pela qual o partido exerce seu poder despótico.
Ter presenciado os trabalhos da Confecom, tirante o lado absolutamente enfadonho e repetitivo, foi rico para observar um acabado exercício de mergulho na Segunda Realidade, sem qualquer âncora com a realidade factual. A Segunda Realidade foi descoberta por Cervantes e o personagem Dom Quixote narra com requintes literários essa alucinação típica dos tempos modernos. O reino da Segunda Realidade é o reino dos revolucionários, dos jacobinos empenhados em moldar a realidade a seus preconceitos.
O primeiro sintoma dessa loucura é o formato da Conferência. Os coordenadores e os delegados se comportam como se estivessem em regime de uma assembléia constituinte. Os delegados se revezam ao microfone como se estivessem em uma câmara de deputados, elaborando textos com força de lei. Daí porque são tão ciosos da representatividade dos delegados, a ponto de segregarem os observadores fora do recinto de votação. Ontem uma pessoa tentou entrar no recinto exclusivo dos delegados e, descoberta, foi expulsa com grande escândalo, escoltada por seguranças.
O exercício da Confecom é um simulacro de sovietização, como se esse formato pudesse sobrepor e substituir o Poder Legislativo. Uma perfeita alucinação, como se vê. O eixo é sempre modificar o marco legal e se apropriar, de alguma forma, de uma fração dos impostos. E também usar o poder de polícia estatal contra o empresariado, tido e havido como inimigo da chamada "sociedade civil organizada", ou seja, eles mesmos, os militantes esquerdistas. Não escondem sua fé na estatização e no uso do poder de Estado contra os empresários. Não escondem que, se puderem, elevam a carga tributária até o limite do sufoco econômico da iniciativa privada.
O democratismo é outra dimensão do conclave sovietizado. A exaltação da diferenciação por sexos (gêneros), por raças e por região não esconde a deliberada vontade de dividir a sociedade em segmentos antagonizados artificialmente. Uma loucura perigosa.
Nas manifestações em que os delegados da Febratel e da Abra tomaram posição pró-mercado ficou claro que estes são peixes fora d'água, estreantes em assembléias leninistas. Mal sabem que esse tipo de assembléia historicamente tem sido chamado para o exercício de campeonato de radicalismos contra a economia de mercado e contra a sociedade aberta. Para os que estão existencialmente mergulhados na Segunda Realidade o socialismo é a meta a ser alcançada e a economia de mercado uma estrutura a ser destruída.
A Confecom é uma assembléia de homens-massa. Uma perfeita alucinação coletiva, uma coleção de ações estúpidas. Ela só não mergulha em entropia inconclusiva porque, por detrás da aparente autonomia dos delegados, operam os agentes do partido. Estes impõem suas decisões e sua disciplina, sendo um exemplo cabal a decisão de manter a proporcionalidade das propostas, como queria o segmento empresarial. Portanto, na loucura da Segunda Realidade percebe-se método, a racionalidade do mal operando. A máscara democrática cai à simples observação. Na verdade, todo o circo não passa de uma dinâmica de grupo controlada pela qual o partido exerce seu poder despótico.
O segmento empresarial está aqui simplesmente porque o partido entendeu ser tático dividir os empresários, aproveitando-se do ódio que todos comungam para com a Rede Globo. Eu me pergunto se os supostos ganhos que possam advir da reconstrução do marco legal compensa, para os empresários, a destruição das defesas do livre mercado e da sociedade aberta. Essa gente dos movimentos sociais não tem nenhuma contemplação para com seus inimigos de classe. Tático ou não, o que querem afinal é radicalmente contrário aos interesses mais estratégicos da Febratel e da Abra. No recinto percebe-se a tensão permanente existente entre os militantes esquerdistas e os delegados das empresas privadas. Os delegados do segmento empresarial ficaram apropriadamente confinados à ala direita de quem entra no auditório.
Nada de bom pode emergir da Segunda Realidade que não o delírio deletério da loucura. Pactuar com loucos é suicídio. (Enquanto escrevo este artigo a platéia entoa, a plenos pulmões; "Não não não à privatização". Será talvez o grande recado dos agentes sovietes aos novos sócios da Telebrasil e da Abra).
3 comentários:
Olá... conheci o seu blog hoje e dei uma lida aqui por cima, e eu só gostaria de fazer uma observação...
Primeiramente eu não gosto nem um pouco do comunismo também, mas eu acho meio nada a ver chamar o Obama ou a elite de comunistas, ou falar que querem um governo comunista, sabe?
Mas é uma questão de nomeclatura... só acho errado chamar de comunista porque acho que o nome que melhor define isso não é comunismo, e sim corporativismo (chamar de comunismo de certa forma é distorcer um pouco a realidade, é uma generalização desnecessária pelo fato de que podemos fazer uma definição mais direta), e essas corporações que estão aí dominando não se originaram do comunismo, e sim do próprio capitalismo... e ah, assim como eu não gosto do comunismo, também não gosto do capitalismo, não sou revolucionário e nem reacionário, mas pra mim o comunismo ta morto (apesar de estar se revirando no caixão), eu me ponho contra os dois, comunismo e capitalismo, mas o capitalismo neoliberal coporativista é aquilo que incomoda agora, se isso acabar e virasse um comunismo chinês ou algo do tipo, eu me levantaria contra isso da mesma maneira... eu me considero alguém que tenta usar a sensatez, eu não defendo nenhum dos lados dessa dualidade (comunismo vs capitalismo) e a única luta que eu acho que vale a pena entrar é a luta em prol da liberdade, contra essa elite tirânica corporativista da 'nova ordem mundial'!
Portanto eu acho que seu conceito de 'revolução' talvez esteja meio distorcido... detesto quando vejo pessoas que sempre que pensam em revolução lembram de socialismo ou comunismo, como se TODAS revoluções fossem guiadas por esses ideais, o que não é verdade... podem haver novas revoluções no futuro, e talvez por algo que realmente valha a pena, não através de doutrinação, sem condicionamento em massa... uma revolução na maneira de viver a vida e enxergar as pessoas em volta, sei lá... eu não sou religioso e não acredito em evolução espiritual, mas acredito na evolução cultural da humanidade... eu acredito que um dia ainda nós poderemos ser livres, e talvez não seja algo eterno... mas talvez a humanidade ainda viva uma época melhor do que todo o nosso passado... as coisas tendém a piorar, e podem piorar, mas podem melhorar também... só depende de nós.
Abraço
Dave, tudo bem?
Sobre Revolução, peço que faça o seguinte exercício mental: tente imaginar TUDO que poderia acontecer em um mudança bastante simples, praticamente sem importância para a sociedade, qual seja você mudando de bairro, indo morar em uma outra casa em outro bairro.
Mesmo que fique muitos anos escrevendo tudo que te passar pela cabeça que poderia acontecer desde o início do projeto, tenho certeza que nem eu, nem você e nem outras pessoas poderíamos imaginar tudo que viria a acontecer durante a mudança de fato.
Quero te levar a pensar que nenhuma mudança brusca como uma mudança na sociedade inteira poderia ter todas as suas consequências previstas. Sendo assim, não se pode sequer afirmar que, por melhor que sejam as intenções, que esta mudança, esta revolução, resultaria em melhoria para todos. E invariavelmente as mudanças trazem melhorias para os revolucionários apenas ou no mínimo melhorias para estes e, muito depois, para outros, se houverem.
Desta forma, ninguém deveria "levantar" esta bola nunca, jamais, pois os riscos são demasiadamente grandes e as revoluções documentadas sempre levaram a uma sociedade pior, no mínimo a milhares de mortes, destruição e miséria.
Tenho discos do Megadeth, gosto da banda.
Abraços
Cavaleiro do Templo
Opa, legal! valeu pela resposta :)
Megadeth é muito foda! "If there's a new way... I'll be the first in line!" (Peace Sells hehehehe)
Entendi bem seu ponto de vista e concordo, mas queria esclarecer que quando eu me referi a 'novas revoluções', eu quis dizer na verdade 'revoluções culturais', mas não me expressei direito, eu quis me referir a algo como o 'Renascimento' sabe? uma revolução de consciência, não de luta armada, tomada de poder e tentativa forçada de modificar tudo.
Mas acho que nós devemos impedir evoluções "naturais" negativas, como essa da globalização que estamos vivenciando nesse momento, por isso temos realmente quer ser 'reacionários' (termo que os comunistas odeiam hehehe).
Eu espero que as pessoas não fiquem sentadas e tenham coragem e peito pra resistir e reagir contra tudo isso que está sendo imposto...
Outro abraço
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