Quando em 13 de agosto de 1961 os “vopos” (guardas comunistas da Alemanha) começaram o levantar o Muro de Berlim, erigiram um monumento ao declínio do poder persuasório (ou “poder totalitário”?) e de liderança (impositiva) do comunismo.
Lenine tinha previsto que a revolução bolchevique “não se manteria no poder nem se desenvolveria, se não fosse protegida, apoiada e seguida por outras revoluções em países mais desenvolvidos”.
Para ele, os sovietes constituíam um dos lados de uma ogiva que devia ser completada pelo outro lado, isto é, pelo comunismo no Ocidente. Sem um dos lados, a revolução mundial que ele pregava não atingiria sua finalidade.
A necessidade era tão grande que Lenine engajou-se em revoluções no exterior, antes mesmo de garantir o controle da Rússia. Mas elas faliram sem exceção. (incrementando a miséria, fazendo-o decidir pela Nova Política Econômica, admitindo um banco dos Rotschild e tomando empréstimos para o Estado soviético falido).
Crise do comunismo internacional
Ao mesmo tempo, na própria Rússia surgiram resistências de envergadura.
Por causa delas, Lenine teve que fechar as comunas auto-governadas, internar os “intelectuais” na Sibéria, alistar criminosos comuns na KGB (polícia política) como braço armado da revolução popular, e desencadeou um terrorismo de massa que matou milhões.
A utopia da igualdade plena sem Estado nem autoridades ficou para depois, e a nova ordem não se definiu ainda “comunista”, mas apenas “socialista”.
Lenine e seus sequazes nunca desistiram da revolução mundial, embora amargando fracassos e metamorfoses. Mas as “revoluções em países mais desenvolvidos” demoraram, porque o comunismo revelava-se cada vez mais incapaz de convencer e manipular as massas operárias.
Para piorar a situação, o regime soviético se decompunha, apesar dos sucessivos expurgos, sendo difícil manter o discurso das sucessivas Internacionais Comunistas que reuniam os novos PCs filiados sob estreita vigilância e financiados pelo Estado Soviético, que mantinha agentes da KGB no mundo inteiro.
O Muro de Berlim e o malogro da persuasão comunista
No fim da II Guerra Mundial, os acordos de Yalta entregaram à URSS metade de Europa. Porém os povos escravizados revoltaram-se: exemplos típicos dessa rebelião ocorreram em Berlim (1953), na Polônia e Hungria (1956). Mais de dois milhões de alemães fugiram pelas fronteiras ainda abertas.
Tais acontecimentos constituíram um plebiscito incessante, atestando a recusa popular do paraíso operário. Internamente e para uso da propaganda no ocidente, Stalin declarou “o comunismo num só país”, mas as Internacionais continuaram, como os expurgos que afastaram Trotsky, perseguido e assassinado por um agente de Stalin, mais tarde recebido como assessor da revolução cubana.
O Muro e seu prolongamento — a Cortina de Ferro — contiveram aquela sangria desmoralizante. Mas o sistema comunista (desaparecia?)deperecia na miséria, na paralisia e num crescente descompasso técnico e (dívida econômica) econômico com o Ocidente.
Os fracassos das guerrilhas na América Latina, a frustração do “eurocomunismo” e a vergonhosa derrota no Afeganistão foram episódios finais da agonia dos sovietes.
Nessa fase terminal, tomou corpo a idéia de salvar a chama comunista, com a tentativa de (estrategicamente, fingindo sacrificar) sacrificar o esclerosado regime dos sovietes e dar um “salto para frente” para imergir na utopia.
“Autogestão”: a Rússia tenta a aventura
Em artigo para a “Folha de S. Paulo” em 23-11-1969, com larga antecipação, Plinio Corrêa de Oliveira previu as fases da manobra:
“Consistiria na implantação de um regime federativo entre as duas Alemanhas, gradualmente homogeneizadas: a Alemanha Ocidental se bolchevizaria um tanto e a Oriental se ‘capitalizaria’ outro tanto. Bem se vê que, se isso der certo em escala alemã, poderia ser aplicado em escala européia: uma federação continental incluindo a Rússia, por sua vez ‘homogeneizada’. Seria, segundo os simplórios... ou os velhacos, o meio de evitar a guerra. Com a semicomunistização da Alemanha e da Europa, quem lucra velhacamente, senão os que querem conduzir a Alemanha e a Europa à comunistização completa?”.
Para essa homogeneização era indispensável que o capitalismo privado e o capitalismo de Estado convergissem num novo sistema, que se apresentaria como um meio termo — nem comunista, nem capitalista. (Mas o meio termo carecia de liberdades democráticas, direitos e garantias individuais inconcebíveis para os marxista ortodoxos.)
Qual? Em
“O objetivo supremo do Estado soviético é edificar a sociedade comunista sem classes, na qual se desenvolverá a autogestão social comunista”. Na Rússia, o PC encarregar-se-ia da transformação.
Mas, e no Ocidente? Para a nova fase, aplicavam-se na Europa o que hoje se aplica nas Américas. Instrumentavam-se as teorias de Antonio Gramsci: desmoralização cultural, drogas, sexo, música, imagens, infiltração nas religiões, era de aquário, licenciosidade atingindo todas as camadas da sociedade, com o fim de desfigurar a cultura e crenças do ocidente cristão. Aqui nasce a Teologia da Libertação, “o reino dos céus na terra”.
Autogestão à francesa: tentativa e malogro
Foi a vez, então, do presidente socialista francês François Mitterrand, eleito em 1981. Ele apresentou a nova fórmula da autogestão, envolvida nos charmes e no prestígio que o mundo ainda reconhecia à França.
O plano, pouco depois de lançado, foi retirado precipitadamente e de um modo que só se entende bem à luz do manifesto-denúncia de autoria do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira – “O Socialismo Autogestionário: Em vista do comunismo, barreira ou cabeça de ponte?”. Mais de 33 milhões de exemplares foram publicados no mundo, e a autogestão à francesa foi abortada.
“Perestroika” de Gorbachev: última tentativa
O socialismo russo encontrava-se num processo de desagregação. Em desespero de causa, o secretário geral do PC da URSS, Mikhail Gorbachev, tentou relançar a manobra apoiado no seu “carisma”.
Ele promoveu, como último cartucho, a “perestroika” ou “reforma” do socialismo, convidando o capitalismo privado a fazer outro tanto e prometendo que, dando curso a essa convergência, ficaria afastado para sempre o pesadelo de uma guerra nuclear mundial.
No cerne da “perestroika” estava a autogestão. Se o Ocidente caísse na lábia do “carismático” Gorbachev, o líder do Kremlin podia esperar que o urso russo levasse a melhor; e o mundo, dentro de algum tempo poderia, entrar numa fase de comunismo universal que beirasse a utopia.
Porque, como observou o ex-presidente tcheco Vaclav Havel, um dos personagens centrais daquela época, “Gorbachev não queria acabar com o comunismo ou contribuir para a desintegração da União Soviética”.
Cai o Muro e falha a manobra russa
O lance simbólico dessa convergência deveria acontecer em Berlim com a queda do Muro. Depois viria por etapas a unificação das duas Alemanhas e da Europa desde o Atlântico até os Urais.
Porém, com o processo em pleno desenvolvimento, o “carisma” do chefe soviético esvaeceu-se abruptamente. Ele reprimiu de modo sangrento a revolta do povo lituano que desejava a independência.
O Prof. Plinio promoveu um abaixo-assinado com as TFPs dos cinco continentes, tendo estas obtido mais de cinco milhões de assinaturas em apoio à independência da Lituânia.
A campanha alertou a opinião pública mundial contra os verdadeiros intuitos do chefe supremo do Kremlin e precipitou o esvaecimento de sua “magia”.
O Ocidente então recusou o cântico de sereia do líder soviético. Gorbachev caiu e a Rússia afundou na confusão. O Muro entrementes havia sido derrubado, os países da Europa do Leste subtraíram-se do jugo soviético.
O império da estrela vermelha desfez-se, e sua degringolada acabou extinguindo “a chama dos projetos revolucionários”. Vinte anos depois, Putin, um agente da KGB, esforça-se para recuperar as imensas perdas sofridas pela ex-URSS.
E para as Américas, a partir de Cuba e com a ajuda do líder operário Lula da Silva, inaugura-se o Foro de São Paulo, continuidade da Internacional Socialista e das organizações guerrilheiras criadas em Cuba, a Conferência Tricontinental e a Organização Latino Americana de Solidariedade (OLAS), hoje praticada por Chávez, Evo Morales, Correa, o mesmo Luis Inácio, que protegem o último reduto guerrilheiro, as Farc colombianas, controladoras da fabricação e do tráfico de cocaína.
E é a mesma Rússia (democrática?) quem financia armas, promove exercícios navais e implanta bases na Venezuela e na Bolívia. Com que finalidade?
Obama e regimes populistas: última esperança?
No 20º aniversário da queda do Muro de Berlim, o próprio Gorbachev lembrou aquele plano num encontro com o ex-presidente George H. Bush (pai) e o ex-chanceler alemão Helmut Kohl, os três personagens-chaves de 1989. Gorbachev disse ao ex-presidente americano: “Meu amigo Bush, os Estados Unidos também precisam de uma perestroika”.
E acrescentou: “Os EUA estão maduros para a mudança. As pessoas estão esperando pelo presidente Barack Obama”.
De fato, duas décadas após a queda do ignominioso Muro, Obama encarna as derradeiras esperanças das esquerdas comunistas e socialistas para abalar o capitalismo ocidental, e tem a seu lado os regimes populistas latino-americanos.
Mas este plano enfrenta sérias oposições na opinião pública. Basta considerar a perda de prestígio de Obama e a heróica resistência da pequena Honduras ao processo de “chavização”.
O Muro ruiu e a utopia socialista ficou sem fôlego. É na luta pelo domínio dos EUA e da América Latina que se jogam os lances principais que poderão decidir o futuro da luta entre o comunismo e o anticomunismo.
A esperança é que o povo norte americano faça valer a diretiva de seus fundadores. E que as Américas pouco a pouco afastem a violência, as drogas e a corrupção intrínseca dos governantes ligados ao Foro de São Paulo e à Cuba dos irmãos Castro.
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