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terça-feira, 6 de outubro de 2009

Guerra civil ainda encabulada, por Paulo Brossard*

Fonte: ZERO HORA
21 de setembro de 2009

Faz algum tempo, em entrevista à Bandeirantes, em São Paulo, a uma pergunta dos entrevistadores respondi que não fazia previsões, embora alimentasse apreensões, o que levou um deles a indagar se me referia ao MST; “também” foi a resposta; “então há outros?”. E, diante da resposta afirmativa, perguntou se podia mencioná-los, ao que aditei, exemplificativamente, sistema hospitalar, penitenciário, policial, a favelização das grandes cidades e suas ligações com o tráfico, entre outros. Os dias se passaram e, infelizmente, as minhas apreensões não foram infirmadas. Estou a lembrar-me do fato acompanhando notícias recentes daqui e de longe. Ao que se diz, 16 ônibus empregados no transporte coletivo foram incendiados na capital da Bahia, nove postos policiais militares destruídos, 10 mortes e 20 presos. Por quê? Em reação a medidas comuns da administração no sentido de transferir condenados, em razão de tráfico de drogas, de uma prisão para outra de maior segurança; este fato, até então curial, teria motivado a reação violenta e as ameaças difundidas resultaram na solidariedade de pessoas ligadas ao mesmo ofício, umas condenadas, outras não.

Os fatos foram largamente divulgados. E, qualquer que seja o nome que se der a eles, a inegável realidade é que a nação presencia o conflito rude e aberto entre entidades sem face e o poder público, com a singularidade delas armam-se contra o Estado, cuja ação, até ontem havida como normal, é questionada em termos belicosos. A autoridade timorata, de um lado, de outro uma entidade sem existência legal, usando a linguagem das armas. Até onde sei, trata-se de uma modalidade de guerra civil. Ou será exagero meu?

Fato semelhante foi bosquejado pelo MST, que, para significar sua divergência com o governo, projetou invadir propriedades “produtivas”. Mês passado, a mesma entidade anunciou movimento de âmbito nacional de invasões e no dia e na hora marcados, exibindo seu poder e sua disciplina militar, realizou a tarefa anunciada em 10 Estados, metade do Brasil; o Ministério da Fazenda e prédios públicos foram os preferidos. O novo plano é refinado. Não alega que as invasões serão em terras ditas “improdutivas”, mas, às claras, em propriedades “produtivas”. É o requinte. Em geral as propriedades invadidas são produtivas e algumas modelarmente produtivas, como as destinadas a aprimoramento seletivo de espécies vegetais, selvagemente destruídas, agora, para proclamar o dogma de que a ilicitude não tem limites, a insolência chega ao ponto de afiançar que as invasões visarão às propriedades “produtivas”. Sempre me chamou a atenção o rigor técnico, senão científico, do movimento desde o início, quando começou alterando o dicionário, chamando de “ocupação pacífica” o que a lei denominava “esbulho” ou “invasão”. Graças a essa “camuflagem”, invadiu o que quis sem dizer que invadia; usou outro nome. Agora, quando a invasão já não assusta ninguém, tão familiar se tornou ou, a entidade que, faz anos, promove invasões, chega ao requinte de afirmar, à face do Estado, que atingirá as propriedades “produtivas”, seguindo a regra de dois passos à frente e um passo para trás.

Dizem os jornais da semana finda que nenhuma reparação tiveram as muitas vítimas de invasões que têm se sucedido e, por isso mesmo, têm se repetido monotonamente, porque entre o invasor e o invadido o poder público não consegue distinguir um do outro. Ora, faz mais de século, escreveu Rui Barbosa que “cada atentado que se tolera à desordem, é um novo alimento que se lhe ministra. A fera não se desafaz de devorar, devorando. Nas presas menores se lhe aguça o apetite das maiores. Não reagindo em defesa dos particulares, o poder abandona a da Sociedade”.

Agora se diz que as repartições invadidas pelo MST foram depredadas e roubados instrumentos seus, que o Incra pretende identificar os invasores ligados à terra e os alheios a ela. Não sei se o fará ou se poderá proceder à discriminação. Se o fizer, ainda que tardiamente, será um começo. Ou continuará a não ver o que entra pelos olhos de um cego. Fico por aqui. Sinalando a gravidade de situações a que chegamos, nada menos que uma guerra civil encabulada ou mascarada para praticar a coisa sem dar-lhe o nome.

*JURISTA, MINISTRO APOSENTADO DO STF

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
"Para conseguir sua maturidade o homem necessita de um certo equilíbrio entre estas três coisas: talento, educação e experiência." (De civ Dei 11,25)
Cuidado com seus pensamentos: eles se transformam em palavras. Cuidado com suas palavras: elas se transformam em ação. Cuidado com suas ações: elas se transformam em hábitos. Cuidado com seus atos: eles moldam seu caráter.
Cuidado com seu caráter: ele controla seu destino.
A perversão da retórica, que falseia a lógica e os fatos para vencer o adversário em luta desleal, denomina-se erística. Se a retórica apenas simplifica e embeleza os argumentos para torná-los atraentes, a erística vai além: embeleza com falsos atrativos a falta de argumentos.
‎"O que me leva ao conservadorismo é a pesquisa e a investigação da realidade. Como eu não gosto de futebol, não gosto de pagode, não gosto de axé music, não gosto de carnaval, não fumo maconha e considero o PT ilegal, posso dizer que não me considero brasileiro - ao contrário da maioria desses estúpidos que conheço, que afirma ter orgulho disso". (José Octavio Dettmann)
" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".