Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro concede Medalha Tiradentes a Olavo de Carvalho. Aqui.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

De volta ao lar, de volta à realidade

 

GOSPEL+

Avatar de Edson CamargoPor Edson Camargo em 18 de setembro de 2012

De volta ao lar, de volta à realidade

É sempre interessante ter contato com as lições de quem dedicou muito tempo estudando uma determinada teoria e se tornou capaz de explicá-la e analisá-la em seus detalhes. Coisa distinta, porém, é conhecer o testemunho de  alguém que manteve um contato não apenas “técnico” e distante com esta teoria, conjunto de convicções ou ideologia, mas que fez ou faz destes enunciados o norte para sua vida, neles busca respostas às questões existenciais mais profundas, e com eles determina seu padrão de conduta, suas respostas a situações diversas e seus objetivos maiores. Diz mais sobre um conjunto de convicções quem as vive com intensidade, quem mergulha sua alma naquilo que professa.

Por isso os relatos de pessoas que passaram por reviravoltas na dimensão intelectual e espiritual de suas biografias  é algo enriquecedor, sendo inúmeros os exemplos na história da ideias, da filosofia e da teologia. As melhores mentes sempre estiveram em busca de respostas. Para elas, ampliar a visão e a consciência sempre foi um dever moral. O relativismo só satisfaz aos frívolos. Grandes mentes sempre almejam respostas  no mínimo satisfatórias para suas indagações.

Em tempos de agitação revolucionária como os nossos, no qual os males da revolução cultural arquitetada pela Nova Esquerda, como todo o seu ódio aos valores cristãos, já se fazem sentir em todo o Ocidente, um testemunho como o de Mary Pride, autora do livro ‘De Volta ao Lar – Do Feminismo à Realidade’, da editora Edições Cristãs ganha importância e merece ser conhecido. Mary Pride, ex-feminista radical, descreve na obra todos os ardis do feminismo, do aborto ao lesbianismo, dos sofismas do planejamento familiar ao neopaganismo inerente ao movimento. Denuncia setores da igreja que negaram doutrinas bíblicas sobre a família e trata de toda a tragédia social e cultural que a nova e falaciosa visão sobre a mulher trouxe: os milhares de divórcios, a matança de milhares de bebês ainda no ventre das mães, as intervenções abusivas do Estado sobre a família e os relacionamentos, a manipulação descarada na educação das crianças, sempre ameaçando a autoridade dos pais, e a forma sutil como as teses do movimento influenciaram os cristãos, que, de forma passiva e progressiva, passaram a sofrer exatamente com as mesmas consequências.

Mas o mérito de Mary Pride vai além. Ela não apenas abandonou uma tese falsa que promove a barbárie para fins revolucionários, nem se permitiu apenas a alertar pessoas cristãs do problema com base em seu testemunho pessoal. Ela propõe uma volta radical para o padrão bíblico que certamente pode ser tido como radical num contexto em que impera o cristianismo “self-service” e aquela  fé “light” estúpida que morre de medo de se passar por “fundamentalista”.  A Sra. Pride não se furta de afirmar com todas as letras que milhares de mulheres cristãs, ao começarem a relativizar as doutrinas bíblicas sobre a família, dão seu primeiro passo rumo à apostasia e às suas respectivas tragédias existenciais. Contra isso, faz de cada capítulo de sua obra uma explanação da instrução bíblica do apóstolo Paulo a Tito, líder da igreja primitiva em Creta:

Semelhantemente, ensine as mulheres mais velhas a serem reverentes na sua maneira de viver, a não serem caluniadoras nem escravizadas a muito vinho, mas a serem capazes de ensinar o que é bom. Assim, poderão orientar as mulheres mais jovens a amarem seus maridos e seus filhos, a serem prudentes e puras, a estarem ocupadas em casa [literalmente, trabalhadoras no lar], e a serem bondosas e sujeitas a seus maridos, a fim de que a palavra de Deus não seja difamada.
(Tito 2.3-5)

Mary Pride acredita piamente no valor dessa diretriz, e o livro tem trechos brilhantes ao mostrar os inúmeros benefícios de um trabalho ativo no lar, contra a alternativa do emprego fora de casa, tão valorizado entra as filhas da revolução cultural, cada vez mais carentes, politicamente corretas e desprovidas de outros talentos.

Sobre isso, vale citar um trecho da obra:

Creio que a esposa que trabalha no lar é a mulher da Nova Renascença. O homem da Renascença, se você se recorda, tinha interesse em tudo. Leonardo da Vinci, por exemplo, foi um grande pintor, um matemático esplêndido, um anatomista e um filósofo. O mundo dos negócios de hoje diminui nossas oportunidades de realização, de modo que só podemos nos dedicar a uma estreita especialização. A especializaçãoo não é má; é parte da divisão de trabalho que Deus instituiu no jardim do Éden. Mas precisa de um contrapeso, que o lar fornece. No lar a mulher tem oportunidades de tentar fazer tudo o que lhe interesse: preparar produtos de laboratório, escrever um livro, etc. Devo dizer pessoalmente que meus interesses e talentos aumentaram dez vezes mais desde que deixei meu emprego de engenheira e comecei a trabalhar no lar, e parece que vão continuar a se expandir no futuro. Na força de trabalho lá fora, eu nunca teria oportunidades de adotar interesses tão diferentes como educação, arquitetura, economia, caligrafia, poesia, composição literária, design de roupas, teoria e prática da horticultura, ensino de piano, etc., tudo ao mesmo tempo. Mas no lar estou me ampliando quase sem limite. Cada novo interesse leva a outro, e pela primeira vez em minha vida tenho mais projetos interessantes e úteis do que posso fazer.

Dentre seus interesses, a engenheira e teóloga citou a educação, sem deixar de tratar, em nenhum momento, como artes específicas cada uma das típicas tarefas domésticas que causam asco à nossa geração de almofadinhas egoístas. Mary Pride é uma adepta e entusiasta da escolarização em casa.  Seu site  sobre o tema ( http://www.home-school.com) traz muito material e recursos a respeito. A Constituição de 88 roubou esse direito milenar e de várias culturas da população brasileira, que ficou de vez refém da incompetência autoritária do MEC, e os resultados estão aí. Universidades com quase 40% de analfabetos funcionais, a glamurização da estupidez na mídia de massa e no debate político, cenas semanais de selvageria entre adolescentes em escolas públicas e privadas em todo o Brasil, farsantes como Paulo Freire elevados à condição de mestres da educação. Sem falar no kit-gay liberado e no Monteiro Lobato criminalizado. Como brasileiros, pouco podemos falar contra o método de escolarização defendido pela autora, exatamente o mesmo pelo qual foram educadas pessoas como Claude Monet, Wolfgang Amadeus Mozart, Abraham Lincoln , Alexander Graham Bell, Jonathan Edwards, Winston Churchill, C.S. Lewis, Léon Tolstoy e tantos outros ainda hoje, como a pequena pintora cristã Akiane Kramarik.

‘De Volta ao Lar’ evidencia o quanto nossa sociedade, e não só os cristãos, tem perdido por trocar os princípios que forjaram a civilização cristã, ainda que nem sempre de forma integral, pelo arremedo de cosmovisão baseado nas teses da modernidade: agnosticismo, materialismo, sensualismo, subjetivismo, o endeusamento da “razão” iluminista –  que não passa de um racionalismo amputado – , as ideologias coletivistas assassinas como o socialismo, e suas sub-ideologias auxiliares, como o feminismo, o gayzismo, o ecofascismo, entre outras. Meu sincero desejo é que obras como a da presbiteriana Mary Pride, que infelizmente foi rejeitada por tantas das grandes editoras evangélicas no país – dominadas por progressistas, vale sempre ressaltar -, tenham cada vez mais visibilidade.

(Imagem: Mary Beale, auto-retrado, 1632–1699)

Compartilhar

"As opiniões ditas pelos colunistas são de inteira e única responsabilidade dos mesmos, as mesmas não representam a opinião do Gospel+ e demais colaboradores."

Avatar de Edson Camargo

Por Edson Camargo
Jornalista e músico, é editor-executivo do site de opinião e análise de conteúdo midiático "Mídia Sem Máscara". Estudioso da filosofia, com ênfase nas áreas de teoria do conhecimento, história das idéias e filosofia política, é um amante dos grandes temas da teologia e um entusiasta da educação clássica.

Nenhum comentário:

wibiya widget

A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
"Para conseguir sua maturidade o homem necessita de um certo equilíbrio entre estas três coisas: talento, educação e experiência." (De civ Dei 11,25)
Cuidado com seus pensamentos: eles se transformam em palavras. Cuidado com suas palavras: elas se transformam em ação. Cuidado com suas ações: elas se transformam em hábitos. Cuidado com seus atos: eles moldam seu caráter.
Cuidado com seu caráter: ele controla seu destino.
A perversão da retórica, que falseia a lógica e os fatos para vencer o adversário em luta desleal, denomina-se erística. Se a retórica apenas simplifica e embeleza os argumentos para torná-los atraentes, a erística vai além: embeleza com falsos atrativos a falta de argumentos.
‎"O que me leva ao conservadorismo é a pesquisa e a investigação da realidade. Como eu não gosto de futebol, não gosto de pagode, não gosto de axé music, não gosto de carnaval, não fumo maconha e considero o PT ilegal, posso dizer que não me considero brasileiro - ao contrário da maioria desses estúpidos que conheço, que afirma ter orgulho disso". (José Octavio Dettmann)
" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".