MÍDIA SEM MÁSCARA
ESCRITO POR PLINIO APULEYO MENDOZA | 07 FEVEREIRO 2012
INTERNACIONAL - AMÉRICA LATINA
Estaremos assistindo à queda total da Justiça colombiana?
Como chamar de outra maneira? Refiro-me, é claro, à delirante sentença dos magistrados do Tribunal Superior de Bogotá, Fernando Pareja e Alberto Perdomo, sentença que não só ratifica, sem uma só prova, a condenação a trinta anos de prisão ao Cel Plazas Vega, senão que ordena ao Exército da Colômbia, em um ato público que teria lugar na Praça de Bolívar, a pedir perdão por delitos na retomada do Palácio da Justiça. Para estes dois adiantados apóstolos do Socialismo do Século XXI, o Exército é o verdadeiro culpado pelo ocorrido lá.
Vejamos o espetáculo que nos desenharam. Desde as sacadas da Prefeitura que olham para a Praça de Bolívar, dois antigos dirigentes do M-19, o prefeito Gustavo Petro e seu Secretário de Governo, Antonio Navarro Wolf, olham, comprazidos, este ato de pública contrição militar, talvez em companhia de Holmann Morris. Em compensação, o coronel Mejía Gutiérrez, que quando era sub-tenente e recebeu três tiros na retomada do Palácio, deve pedir perdão. Os bons, os heróis de ontem, são os maus de hoje e vice-versa.
Porém, o delírio dos dois magistrados vai mais longe. Agora o ex-presidente Belisario Betancur e ministros de seu governo, como Jaime Castro e Noemí Sanín, devem se preparar para prestar contas ante a Corte Penal Internacional (CPI), seguramente por delitos de lesa-humanidade. Não importa se a CPI só possa intervir em fatos ocorridos na Colômbia a partir do ano de 2002. Os dois magistrados ignoram estes detalhes.
Ignoram, também, ou passam por cima, que desde o mês de junho do ano passado não ficou em pé uma só prova válida contra o Coronel Plazas Vega. Quem disse isso? Seu advogado Jaime Granados? Fernando Londoño, Salud Hernández, eu mesmo? Não, alguém mais incontrovertível: o magistrado Hermens Darío Lara, a quem foi confiado o estudo do caso Plazas. Sem preconceito algum, este magistrado debruçou-se durante um ano e quatro meses nas 42.465 páginas do processo e, ao final de tão encarniçado trabalho apresentou uma sentença absolutória de 541 páginas. Pôde comprovar que os testemunhos de Gámez Mazuera e de Tirso Sáenz, dois personagens com um farto prontuário de delitos, eram falsos, e que Edgar Villamizar nunca assinou o depoimento que com o nome de Édgar Villarreal havia servido de base para a condenação de Plazas. Com efeito, Villamizar depôs ante o Procurador o que já sabíamos: que durante os eventos do Palácio da Justiça ele encontrava-se em Granada (Meta). Lara pôde comprovar também que no real desaparecimento da guerrilheira Irma Franco, Plazas Vega não teve vinculação alguma. Comprometido em uma ação militar, nada teve a ver com os que eram conduzidos à Casa del Florero.
O magistrado Lara imaginava tudo, menos que seus dois colegas, que deviam subscrever o estudo realizado por ele, lhe negassem seu voto e aparecessem com uma sentença condenando Plazas como “co-autor mediato de um concurso homogêneo de delitos de desaparecimento forçado” (já não mais de onze pessoas senão de duas). De modo que com lágrimas nos olhos, segundo me contaram, Lara não teve mais remédio que pôr sua consciência a salvo de tão feroz atropelo com um salvamento de voto.
Igual escrúpulo moveu o Procurador Alejandro Ordóñez a interpor de imediato um recurso de cassação contra a sentença. Estaremos assistindo à queda total de nossa Justiça? Espero que não. Figuras honestas na Corte Suprema de Justiça acabarão medindo esse delírium trémens dos magistrados Pareja e Poveda, que hoje querem pôr de joelhos não só o Coronel Luis Alfonso Plazas Vega, senão a todo o Exército colombiano.
Tradução: Graça Salgueiro
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