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sexta-feira, 12 de março de 2010

A mídia brasileira sabe o que anda fazendo? Para cada uma das duas respostas possíveis (sim ou não), qual seria a pior?

No Espírito Santo a situação prisional é uma calamidade, Elio Gaspari escreveu no GLOBO sobre o assunto mas a mídia jornalística capixaba, leia-se os dois jornais impressos de maior circulação, não publicaram o artigo nem citação ao mesmo ou ao seu conteúdo, mesmo a coluna deste jornalista sendo replicada toda quinta e domingo no jornal regional mais lido do Espírito Santo. O artigo do Elio Gaspari no Globo saiu no domingo. 

Na mesma semana saiu na Rede Record uma matéria televisiva mostrando o gigantesco problema, que vai levar o Governo do Estado (Paulo Hartung – PMDB/ES) a ter que explicar-se na ONU.

Uma tentativa de explicação não deste jornal, o mais lido do estado, mas de outro, gerou esta discussão abaixo que deveria ser analisada sob todos os aspectos possíveis e durante o tempo que for necessário para chegarmos a uma conclusão pois perguntas temos aos montes.  

Os autores dos dois últimos artigos deram o tom, brando porém ao meu ver. Uma pergunta baseada nestes deve ser feita à mídia capixaba e nacional, pois omissão de fatos é tradicional:

- A mídia brasileira sabe o que anda fazendo?
- Para cada uma das duas respostas possíveis (sim ou não), qual seria a pior?


Vamos aos artigos citados:


Enviado por Ricardo Noblat 
7.3.2010 - 10h18m

DEU EM O GLOBO


As masmorras de Hartung aparecerão na ONU


De Elio Gaspari:

Na segunda-feira, dia 15, o governador Paulo Hartung (PMDB-ES) tem um encontro marcado com o infortúnio. Depois de anos de negaças, o caso das "masmorras capixabas" será discutido em Genebra, num painel paralelo à reunião do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas.

Hartung tem 52 anos, um diploma de economista e a biografia de um novo tipo de político. Esteve entre os reorganizadores do movimento estudantil no ocaso da ditadura. Filiou-se ao PSDB, ocupou uma diretoria do BNDES, elegeu-se deputado estadual, federal e senador.

Na reunião de Genebra estará disponível um "Dossiê sobre a situação prisional do Espírito Santo". Tem umas 30 páginas e oito fotografias que ficarão cravadas na história da administração de Hartung. Elas mostram os corpos esquartejados de três presos. Um, numa lata. Outro em caixas e uma cabeça dentro de um saco de plástico.

Todos esses crimes ocorreram durante sua administração. Desde a denúncia da fervura de presos no Uzbequistão o mundo não vê coisa parecida.

As "masmorras capixabas" são antigas, mas a denúncia teve que ser levada à ONU porque as organizações de defesa dos direitos humanos não conseguem providências do governo do Espírito Santo, nem do governo de eventos de Nosso Guia.

Sérgio Salomão Checaira, presidente do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, demitiu-se em agosto do ano passado porque não teve apoio do Ministério da Justiça para reverter o quadro das prisões de Hartung.

Há um mês, uma comitiva que visitava o presídio feminino de Tucum (630 presas numa instituição onde há 150 vagas) foi convidada a deixar o prédio. Se quisessem, poderiam conversar com as prisioneiras pelas janelas.

O Espírito Santo tem sete mil presos espalhados em 26 cadeias, com uma superlotação de 1.800 pessoas. Há detentos guardados em contêineres sem banheiro (equipamento apelidado de "micro-onda"). Celas projetadas para 36 presos são ocupadas por 235 desgraçados. Alguns deles ficam algemados pelos pés em salas e corredores.

Os governantes tendem a achar que os problemas vêm de seus antecessores, que as soluções demoram e que, em certos casos, não há a o que fazer. Esquecem-se que têm biografias.
Aviso: é barra muito, muito pesada.



http://gazetaonline.globo.com/_conteudo/2010/03/611105-a+superlotacao+dos+presidios+e+a+imprensa.html


A superlotação dos presídios e a imprensa

10/03/2010 - 12h00 ( - )

O jornal A Gazeta publica nesta quarta-feira um artigo do editor executivo, André Hees, sobre a crise nos presídios e a cobertura da imprensa local. Confira a íntegra do texto. 

 
Os presídios


A crise no sistema carcerário do Espírito Santo, com superlotação e uso de contêineres e celas metálicas, tem provocado reações de diversos leitores nos últimos dias, por meio de e-mails, telefonemas e manifestações na internet, nas redes sociais e em blogs. Algumas manifestações generalizaram a crítica à cobertura da imprensa local, como se ela fosse um bloco uniforme. Isso faz lembrar a crítica recorrente ao "complô da mídia e das elites", feita por certos segmentos políticos. 

Ignoram os autores desse tipo de crítica que os veículos de imprensa são concorrentes: disputam leitores, telespectadores, anunciantes, mercados. A cobrança sobre a crise nos presídios ganhou fôlego depois que foi abordada pelo jornalista Elio Gaspari, em sua coluna no Globo e na Folha de S. Paulo. Isso deu vazão à falsa tese de que certos fatos só ganham destaque na imprensa nacional. A GAZETA, como se sabe, não é o jornal local que publica a coluna no Espírito Santo. Mas a atuação da Rede Gazeta entrou na linha de tiro, apesar de termos feito uma cobertura correta sobre esse tema desde o início.

O drama nos presídios, com execuções, rebeliões e reféns, sempre foi alvo de nosso trabalho, mesmo antes das visitas e vistorias de ONGs e conselhos nacionais, incluindo o Conselho Nacional de Justiça e o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária.

Ainda no início da administração Paulo Hartung, no seu primeiro mandato, o juiz da Vara de Execuções Penais, Carlos Eduardo Lemos, era uma fonte sempre presente em nossas apurações. Ele apontava os abusos no sistema carcerário, dando visibilidade ao problema. Seu setor acabou passando por uma reorganização interna e ele foi deslocado da função. 

No relatório sobre a visita aos presídios do Espírito Santo, de 27 de abril do ano passado, o então presidente do Conselho Nacional de Política Criminal, um órgão ligado ao Ministério da Justiça, Sérgio Salomão Shecaira, nas suas conclusões, propõe o seguinte: "Expedição de ofício ao Tribunal de Justiça e ao Procurador Geral de Justiça do Espírito Santo para que tomem providências sobre o descumprimento de ordem judicial quanto à interdição das celas denominadas de forno micro-ondas, conforme denunciado pelo jornal A Gazeta..." Ou seja, o relatório tomou por base uma denúncia da Gazeta. 

O caso só ganhou maior repercussão no país depois de matérias do repórter André Junqueira, da TV Gazeta, que foram veiculadas no Jornal Nacional, há cerca de um ano. A TV Gazeta também emplacou reportagens no Jornal Hoje, no Bom Dia Brasil e até no programa da Ana Maria Braga. "Com direito a um pito dela ao vivo no governador", lembra Junqueira. Tivemos ainda ampla cobertura no Gazeta Online e na Rádio CBN, também com inserções em rede nacional.

A editora de Dia a Dia do jornal, Cintia Alves, durante a produção de uma reportagem veiculada ontem, contou a publicação de mais de 20 manchetes internas ao longo do ano passado. Daria uma média de uma manchete a cada duas semanas sobre superlotação, contêineres e micro-ondas. Algumas iam além do factual e buscavam a interpretação: "Por que as cadeias chegaram a este ponto". Esta, de 28 de maio do ano passado, listava algumas questões: lentidão da Justiça, falta de defensores públicos e de penas alternativas.

A crise é grave, claro, mas, além dos fatos jornalísticos, ela ganha também perspectiva eleitoral. É notória a exploração política que alguns fazem sobre o assunto. É o jogo jogado: é natural que os adversários do governo batam no seu ponto mais fraco, a segurança, os presídios, o alto índice de homicídios, que está na casa dos 2 mil por ano. 

O governo tem apresentado seus argumentos: investiu em presídios mais de R$ 380 milhões nos últimos três anos, deve abrir mais de 5 mil vagas e contratar agentes e defensores públicos, cumprindo o acordo com o CNJ. O padrão de comparação com governos passados pode não ser dos mais difíceis, dado o fracasso de antecessores, mas este é, de fato, o primeiro governo desde 1991 que conseguiu reorganizar a máquina e recuperar a capacidade de investimentos, inclusive em prisões. A situação nos presídios realmente é um horror, mas seria injusto, do ponto de vista histórico e jornalístico, não reconhecer os avanços. O jogo eleitoral é outro papo.

De todo modo, a manifestação dos leitores, por e-mails ou redes sociais, é legítima, embora nem sempre precisa, como se vê. Esse diálogo enriquece a produção jornalística e mostra como a internet pode ser aliada da mídia tradicional, e da imprensa escrita, em particular. Esse tipo de controle social, o do leitor, é o melhor que pode existir.

André Hees é jornalista e editor executivo de A GAZETA
ahees@redegazeta.com.br

Outros artigos


O site Comunique-se também abordou a cobertura da imprensa capixaba sobre a situação dos presos e a coluna Elio Gaspari, que abordou o assunto no último domingo. Confira no site.
 
Nesta quarta-feira, o blog de notícias Jornalismo das Américas também traz um artigo sobre o assunto. Veja.




http://www.sindijornalistases.org.br/index.php?option=com_content&task=view&id=377&Itemid=51&Itemid=2

Padre Xavier critica editorial de A Gazeta e a mídia capixaba

Leia, na íntegra, a carta de Padre Xavier, militante dos Direitos Humanos, enviada ao editor executivo de A Gazeta, André Hess, como resposta ao editorial de ontem do jornal, dia 10/03, intitulado “A superlotação dos presídios e a imprensa”. Apenas um fragmento do texto foi publicado na sessão "Opinião do leitor" de A Gazeta desta quinta-feira.

Carta, na íntegra, de Padre Xavier:

“Prezado André,

Li e reli com muita atenção a matéria que você publicou no jornal A Gazeta do dia de hoje a respeito do sistema penitenciário. Adianto que sou assinante do jornal e faço da leitura do mesmo o meu primeiro ato do dia.

Confesso que fiquei perplexo a respeito de alguns trechos de sua matéria.

Em primeiro lugar, quero solidarizar com os bons profissionais da imprensa. Concordo com você em relação às acusações genéricas. Reconheço que em várias oportunidades o jornal se colocou à disposição dos militantes de Direitos Humanos para divulgar denúncias sobre violações de direito dentro das unidades prisionais. Eu, inclusive, várias vezes foi entrevistado sobre este assunto. O mesmo aconteceu em outros veículos da Rede Gazeta, como a CBN, Rádio Globo ES, Gazeta AM, TV Gazeta e Notícia Agora. Mas, ao mesmo tempo,  constatei que, em algumas oportunidades, o interesse da imprensa local para estes temas só se deu a partir do momento em que determinadas notícias eram noticiadas antes fora do Estado. É notório que os meios de comunicação local recebem grandes investimentos por parte do poder público par a serviços de propaganda. Isso deixa certa dúvida nos leitores quanto à liberdade dos mesmos, pois, normalmente, na lógica do mercado, nenhum prestador de serviços fala mal de seu cliente. Nas relações comerciais vale a máxima que "O cliente tem sempre razão". Não acha que esta dúvida seja legítima?
Quanto à possibilidade de exploração política dos fatos por parte da oposição, argumento este pontuado pelas autoridades e defendido por você, quero pontuar alguns elementos:

Primeiro: independentemente da exploração política, as violações existiram e continuam existindo. Falo como testemunha ocular que está presente semanalmente no sistema e que, por morar e trabalhar em bairros periféricos, tem a oportunidade de levantar informações, inclusive por parte dos agentes públicos que trabalham nas unidades e que têm medo de se manifestar publicamente.

Segundo: a exploração política não é o objetivo dos militantes de DH, pois, exceto raríssimas exceções, ninguém de nós visa cargo político e tenta tirar proveito dessa situação. A motivação de nossa luta é a defesa da vida e da dignidade humana. Também porque você está careca de saber que "preso" e “menor” não dão dividendos políticos e eleitorais visto que existe uma verdadeira campanha de criminalização dos defensores de DH que são tachados de “defensores de bandidos". Garanto a você que, se dessem votos, teríamos um monte de políticos ao nosso lado, fazendo coro conosco. Seria louco quem achar que vai ganhar a eleição defendendo os direitos humanos dos presos.

Terceiro: A Gazeta e os outros meios de comunicação local continuamente reproduzem cadernos e inserções publicitárias onde o Governo divulga as "Boas obras" que realiza. Neste caso você não acha que há exploração política de tudo isso em vista da reeleição ou da conquista de outro mandato em outros âmbitos? Porque se levanta a suspeita da exploração político-eleitoreira somente na hora em que se apontam os problemas e não quando são divulgados os “avanços”. Quanto se trata de divulgar os “bons resultados” pode-se usar, inclusive, o dinheiro público, até para fazer “propaganda enganosa”, para propaganda eleitoral antecipada, para promoção pessoal etc. Pelo contrário, quando se trata de divulgar os desafios aí o coro se levanta para apontar a tese da exploração política. A diferença que os detentores do poder têm dinheiro para comprar inteiras páginas, inclusive de A Gazeta, para falar de si mesmo, daquilo que fazem, das obras que realizam. Nós não temos esta possibilidade. A única alternativa para mostrar aquilo que efetivamente está acontecendo na vida do dia-a-dia é contar somente com a consciência ética daqueles profissionais (inclusive de A Gazeta) e os meios de comunicação que ainda acreditam no serviço público da imprensa, dando voz, sobretudo para quem não tem voz.

São mais de dez anos que atuo nesta área aqui no ES. Desde 1986 no Brasil. Foram inúmeras as tentativas por nossa parte de conversar com o poder público, mas exceto algumas exceções, não encontramos respostas. É por isso que buscamos "repetidores externos" de maior potência para dizer o que efetivamente está acontecendo no Estado.
Se nós fôssemos sabotadores do Governo, como somos definidos, deveríamos estar todo dia na porta da Gazeta para denunciar o que presenciamos nas unidades de saúde, nos hospitais públicos, no sistema penitenciário... onde,  o tempo todo, acontecem situações de desrespeito com a vida e a dignidade dos mais pobres.

Por último quero questionar o que o Governo vem amplamente divulgando: “Os fatos relatados se referem ao passado". As imagens divulgadas em rede nacional por uma emissora brasileira foram produzidas no Estado no segundo semestre do ano passado. Será que o segundo semestre de 2009 é já passado remoto? Os relatórios que estão sendo produzidos foram redigidos a partir de visitas realizadas nestes dias. Já visitamos as unidades novas que o Governo construiu. Já dissemos que, do ponto de vista arquitetônico, são boas, mas do ponto de vista da aplicação da Lei de Execução Penal e do Estatuto são um fracasso. Você sabia que no dia 28 de fevereiro de 2010, em inspeção com uma Juíza da Infância e da Adolescência da Grande Vitória, apreendemos no Despertar 1, modulo da UNIS  de Cariacica, atrás do armário dos monitores,  três porretes que, segundo relato dos adolescentes, seriam utilizados por agentes públicos para espancar os adolescentes? Você sabia que na mesma UNIS no dia 08 de fevereiro deste ano, um adolescente se enrolou em três colchões e se deu fogo por não agüentar mais a “opressão” (sic) dentro da unidade?
Você sabia que na UNIS há vários adolescentes feridos por causa de brigas entre eles que aconteceram durante este ano?  Você viu as imagens publicadas no site do Século Diário de ontem referentes a setembro de 2009, quando, numa unidade nova, agentes atiram balas de borrachas contra presos nus colocados no pátio sem nenhuma reação por parte deles?
Gostaria que você visitasse as unidades novas e conversasse com os presos para ver como disciplina é confundida com maus tratos  e humilhações. Se quiser, posso continuar a ladainha, mas vou parar por aí. Será que somos nós que fazemos oposição ao Governo ou é a própria incompetência da máquina em resolver o problema que faz o jogo contra?  Estimo o seu trabalho e o dos outros profissionais de A Gazeta, mas pena que você optou somente em defender o Governo do Estado e não foi capaz de dizer nenhuma palavra de apoio aos militantes de DH que trabalham, sem opções eleitoreiras, para o bem da população e a serviço da verdade. No lugar de sublinhar o risco da exploração política dos fatos, deveria prevalecer a indignação diante das violações dos direitos humanos. Gostaria que este meu texto ocupasse o mesmo lugar de destaque que ocupou o seu, inclusive (estranhamente) na gazetaonline. De qualquer maneira, vou divulgá-lo na rede como forma alternativa de fazer ouvir a nossa voz”.

Saudações Fraternas

 Pe. Xavier (padre Saverio Paolillo)



Ira social


11/03/2010 - 23h04 ( - )

Antonio Marcus Machado



O artigo publicado pelo competente jornalista André Hees, que o assinou como Editor-Executivo de A GAZETA, agrava a já insustentável situação do Governo do Estado. Quando recorda com detalhes que esse fato havia sido intensamente noticiado e lembra que um juiz enfaticamente já o denunciava e recriminava, pedindo soluções ou providencias imediatas, deixa o Governo sem o álibi do desconhecimento ou conhecimento superficial da situação.
 

André Hees parece ter ampliado a incidência do artigo de Elio Gaspari, atingindo as autoridades públicas. No mínimo houve omissão e no máximo pouca dedicação aos fatos inaceitáveis. O argumento hessiano de utilização política do fato é incoerente com sua própria argumentação, pois o próprio jornal que dirige foi um contundente veículo de informação, sem, naturalmente, ter conotação política. 

Não veio da Assembleia Legislativa ou da Câmara Federal a denúncia pública nacional. Ou mesmo de algum já existente candidato ao governo. Veio de um jornalista e de uma emissora de televisão. Estariam eles a serviço da política? Isso seria desmerecer a própria classe. Tanto jornalista quanto política. 

O texto do André está muito bem escrito, como lhe é de praxe, mas, democraticamente, permite essa minha percepção. Perdeu o foco dos direitos humanos. Mirou na defesa do jornal para o qual trabalha, minimizou as denúncias como se fossem artimanhas políticas e ainda viu avanços na política prisional estadual.

Continuo sendo seu leitor e admirador, mas, pelo respeito que lhe tenho, não pude evitar esses comentários e espero que ele os receba com a dignidade que o caracteriza. É um de nossos melhores jornalistas. 

O que me preocupa mais, como formador de opinião e professor, é perceber a ira social. Quero dizer com isso que tenho encontrado, tanto de baixa quanto de alta escolaridade, pessoas que ainda acham que os presos recebem o que merecem. Deveria ser pior ainda. São animais mesmo. Não foram poucas as pessoas "de bem" que me disseram ou que eu ouvi assim se expressarem: "Bem feito! Quem mandou roubar, seqüestrar... Tem que ser tratados assim mesmo". A ira, o ódio estampado nas faces de cidadãos frustrados com as políticas públicas. A vingança escorrendo em forma de palavras. A descrença no aparato legal e o sabor da justiça bárbara, pessoal. 

A sociedade não pode caminhar nesse sentido. Isso é retroceder em termos de conquistas sociais. É uma desumanização. Hoje soube que existem alunos tendo aula em contêineres e que houve um protesto em determinado município da Grande Vitória. Que artigo escreveremos agora? Será assim que entraremos para a história não oficial? Melhor lutar pelo contrário. 

O meu amigo Adilson Vilaça hoje lembrou uma passagem de Sobral Pinto como defensor de Prestes. Levado à audiência o juiz perguntou ao nobre jurista se vinha fazer a defesa de um comunista. Ele disse: "Não, venho defender um animal de 1,65 metros de altura, cor branca e cabelos ralos, jogado em uma masmorra, no porão de um local púbico, como se bestial fosse". Sobral Pinto exigiu ao governo a aplicação do artigo 14 da Lei de Proteção aos Animais ao prisioneiro, fato bastante inusitado. Já se passaram 70 anos, mas Sobral faz falta. 

Antonio Marcus Machado é economista e professor universitário. 

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
"Para conseguir sua maturidade o homem necessita de um certo equilíbrio entre estas três coisas: talento, educação e experiência." (De civ Dei 11,25)
Cuidado com seus pensamentos: eles se transformam em palavras. Cuidado com suas palavras: elas se transformam em ação. Cuidado com suas ações: elas se transformam em hábitos. Cuidado com seus atos: eles moldam seu caráter.
Cuidado com seu caráter: ele controla seu destino.
A perversão da retórica, que falseia a lógica e os fatos para vencer o adversário em luta desleal, denomina-se erística. Se a retórica apenas simplifica e embeleza os argumentos para torná-los atraentes, a erística vai além: embeleza com falsos atrativos a falta de argumentos.
‎"O que me leva ao conservadorismo é a pesquisa e a investigação da realidade. Como eu não gosto de futebol, não gosto de pagode, não gosto de axé music, não gosto de carnaval, não fumo maconha e considero o PT ilegal, posso dizer que não me considero brasileiro - ao contrário da maioria desses estúpidos que conheço, que afirma ter orgulho disso". (José Octavio Dettmann)
" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".