A DOENÇA BRASILEIRA
André Frantz
O uso da linguagem brasileira transfigurou-se na glamourização da padronização da macaquice, na insanidade da pretensão do vazio, na idiotice do falar por falar. Hoje, tudo o que é dito e escrito no Brasil não apenas carece da mais mínima lógica lastreada na concretude dos fatos do mundo, mas chega ao ponto das extrapolações e contradições mais absurdamente hiperbólicas, as quais conseguem inverter a compreensão do sentido da totalidade do cosmos. É uma coisa impressionantemente monstruosa! O maldizente vulgar, que é quase tudo o que se tem no Brasil hoje, não percebe que o que ele está dizendo contraria a possibilidade de ele estar dizendo o que está dizendo no mesmo instante em que diz o que está dizendo, and so on. O país não pode estar em outro lugar que não a unidade de tratamento intensivo do hospício mais horripilante. As almas brasileiras só podem estar acorrentadas nos últimos porões do inferno. Um horror!
Eu entendo que essa hiperenfermidade aterrorizante é a representação da essência da maldade geral que impera no Brasil. Vejo nesses abusos atentatórios, um reflexo muito nítido daquilo que fundamenta e sustenta o fracasso nacional em todos os campos da existência humana: a confusão. A confusão é o combustível de máxima octanagem do mal, e o “amor” por aquela é a essência deste. Não há o que seja mais desprezível e repugnante do que o orgulho da insanidade escalar. A maldade de Banânia funciona exatamente assim: ela é indireta, porém, poderosa! É a maldade exercida soberbamente por aquele que tem a absoluta certeza de que está praticando o mais puro bem. É a lógica invertida luiciferiana, que, encontrando terreno fértil nas mentes preguiçosas e confusas daqueles que se acostumaram com o sabor amargo da desgraça perpétua, acaba se transmutando na noção mesma de bem, no axioma estruturante de todas as leis de convívio social.
Longe de atenuar a responsabilidade subjetiva pela perenidade da loucura objetiva nacional, o mal disseminado sem intenção é tão devastador quanto aquele que é feito conscientemente. Pior ainda: a falta de intencionalidade e a incapacidade para identificá-lo podem servir como ingredientes importantes que o tornam ainda mais nocivo. No instante em que a consciência moral atua de forma invertida, com os pólos trocados, o senso da realidade é corrompido e a mente passa a trabalhar e a se movimentar dentro de uma estrutura lógica de um mundo de fantasias. O indivíduo acaba por criar justificativas e mais justificativas interiores para fazer um “bem” criado por ele mesmo, algo que seguidamente espelha nada mais do que os seus próprios interesses e conveniências. Como ele evidentemente acaba não fazendo o bem, começa a ficar culpado e, não compreendendo o que deu errado da primeira vez, tenta corrigir o bem que não conseguiu atingir com mais tentativas de fantasias de bem. Enfim, ele acaba injetando ácido no paciente grave pensando que é antibiótico. Isso é uma espécie de neurose da alma que cria novas noções de bem e mal, de verdadeiro e falso, de certo e errado, fato que, em instância final, alimentará sempre o crescimento do mal.
Não é preciso ser um santo para compreender um pouco sobre as origens dessa desgraça nacional. Um sistema com tamanho estrago generalizado nada mais é do que a resultante de um somatório de unidades problemáticas e relações deficientes. O Brasil é um sistema formado por unidades e partes que não prestam. É um país composto por pessoas profundamente confusas, incapazes de prestar ajuda mínima a elas mesmas. A elite tupiniquim, que é o coração do sistema, em seus mais variados aspectos, representa, ao mesmo tempo, a cristalização e a fonte do intenso e extenso fracasso geral da nação continental sul-americana. Todo o universo da elite contemporânea brasileira, representada por intelectuais, acadêmicos, empresários, políticos, banqueiros, jornalistas, etc. virou a representação máxima do refúgio dos pseudo-homens castrados, os quais, locupletando-se conspirativamente com suas fraquezas de caráter, entraram em consenso para a manutenção ad aeternum da progressividade de sua patologia moral crônica. Se a elite está gravemente doente, a sociedade já está praticamente morta.
A elite intelectual de um país funciona como um capitão de navio. Podemos, da mesma forma, fazer uma analogia com uma locomotiva que puxa um trem muito grande e pesado. Se a elite está doente, temos um capitão incapacitado ou uma locomotiva desgovernada. Exatamente como o barqueiro, a morte, ela conduzirá as almas pelo caminho do sofrimento que leva ao dead end, à morte agonizante da inteligência.
O estado de coisas é por demais sério. Creio não ser possível uma compreensão mínima acerca do tamanho do problema que vivemos no Brasil, abstendo-nos de uma análise lastreada numa observação bem mais profunda da mentalidade tortuosa do brasileiro, ou seja, sem trilhar os caminhos espinhosos da análise dos fundamentos doentios subjetivos que invariavelmente levam à autodestruição das consciências individuais.
Entretanto, isto é um assunto imensamente vasto e de profundas complexidades, que requereria o desenvolvimento de uma obra específica para tentar elucidá-lo, o que não é a minha pretensão no presente momento, por fugir de minhas possibilidades momentâneas. Por hora, limito-me às humildes contribuições através de exposições breves, esporádicas e muito superficiais, para ajudar nas tentativas de compreensão daquilo que vejo como sendo um problema de gravidade e complexidade bárbaras, e que, impressionantemente, não está sendo objeto de atenção mínima.
O que precisamos perceber com a máxima urgência no momento, é que as graves anomalias políticas e sociais vividas no Brasil, representadas pelo totalitarismo revolucionário petista, pelos 50 mil homicídios anuais, etc. etc. são detalhes conseqüentes, embora gravíssimos, de uma anomalia muito complexa que começa e ganha força dentro de cada um de nós. Precisamos mudar o eixo do deslocamento de energia e começar a entender o problema real para saná-lo.
No momento atual, é imperativo elevar o nível das discussões às esferas das responsabilidades superiores do plano moral, caso queiramos, efetivamente, alterar o destino sombrio de nosso trem desgovernado. Para que isto seja possível, a existência da vontade de aprimoramento pessoal deve ser identificada e ouvida antes de tudo. Ninguém ajuda outrem sem antes ter ajudado a si mesmo. O mesmo vale tanto para um capitão de time de futebol, quanto para as lideranças de uma nação continental. A punição da própria carne, o aperfeiçoamento pessoal do intelecto e o hábito permanente da autocorreção são prerrogativas pétreas absolutamente imprescindíveis para a possibilidade de qualquer juízo alheio, ou de qualquer proposição que vise à correção ou ajuste de algum problema real do mundo externo.
O primeiro passo para o enfrentamento do mal é, sabendo que ele existe, a busca pela recuperação individual da própria autoconsciência, do intelecto, da alma. Sem isso, não seremos minimamente capazes de distinguir entre a normalidade e a anormalidade, o que quer dizer que será inteiramente impossível diagnosticar corretamente qualquer problema e prescrever tratamentos eficazes. O ponto zero é uma opção pura e simples, é a escolha, a decisão interna para fazer o que deve ser feito. Só compreende a si mesmo aquele que realmente quer. A vontade para a busca do autoconhecimento deve substituir o desejo infantil de exposições públicas deletérias. A vontade, por sua vez, deve se harmonizar com a sinceridade. E isto só é possível quando optamos pela subordinação à verdade, pela decisão de cessão à realidade e de submissão ao princípio da prova real. A docilidade frente à necessidade verdadeira das coisas advém da inquietação moral que se nutre da sinceridade. E a busca contínua pelo senso da verdade através da sinceridade é o que, em última instância, restaura o intelecto e ilumina a vida. A batalha é esta! O resto vem naturalmente e sem maiores esforços.
Se não optarmos pela luta contra a confusão do mal, de forma muito confusa estaremos nos sentenciando à morte agonizante, resultado de uma briga sangrenta de foices entre cegos confusos que acham que o bem é o mal e vice-versa.
O autor é Administrador de Empresas e aluno do Seminário de Filosofia Online do professor Olavo de Carvalho. É natural de Porto Alegre, Rio Grande do Sul.
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