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segunda-feira, 13 de julho de 2009

As palavras do Papa

Fonte: MÍDIA SEM MÁSCARA
NIVALDO CORDEIRO | 09 JULHO 2009
ARTIGOS - RELIGIÃO

Penso que o Papa aqui caiu em uma armadilha política sem retorno. Engajou a Igreja de Cristo em um projeto suicida. Uma forma de governo mundial, qualquer que seja ela, só existirá em prejuízo da pessoa humana, apartando os poderes públicos dos indivíduos em carne e osso. A grande falácia é que a crise poderia ser superada por uma forma de governo assim. Ao contrário. A crise aconteceu precisamente porque os governos nacionais se agigantaram na ânsia fáustica e blasfema de abolir o risco existencial, contra a vontade expressa de Deus.


Li com tristeza a nova encíclica do Papa Bento XVI (Caritas in Veritate), por dois motivos principais. Primeiro, porque eu esperava uma palavra nova sobre os tremendos acontecimentos dos nossos tempos, e não falo apenas da crise econômica tão saliente que vivemos. E, segundo, pelas concessões que o Santo Padre fez às teses mais caras do esquerdismo mundial. Nunca esperei ver a assinatura do Cardeal Ratzinger em um documento que desse tanta ênfase ao politicamente correto e ao economicamente errado.

Certo, o Papa é o Vigário de Cristo, não o ministro da Economia nomeado por Deus na terra. Por isso mesmo um documento de valor teológico não deveria se esparramar de forma descuidada pela temática econômica, sociológica e política como está feito. Já no endereçamento aparece a palavra "desenvolvimento", que me levou a pensar que o Papa trataria do caráter espiritual do termo. O texto usou a palavra, isso sim, na expressão consagrada pela literatura econômica desenvolvimentista que grassou mundo a partir de meados do século passado. Esses autores foram verdadeiros engenheiros sociais que quiseram fazer do Estado a alavanca para incrementar o crescimento econômico artificial. Associado a esse desenvolvimentismo vemos, no texto, o uso de propostas como a reforma agrária, algo não apenas anacrônico em termos econômicos, visto que a economia agrícola é aquela que mais se tem beneficiado de economias de escala e de novas e sofisticadas tecnologias, para o bem de toda a humanidade. Bem sabemos que no Brasil essa proposta está associada a uma visão revolucionária, que tem como fim último destruir a ordem como está, pondo no seu lugar alguma forma de socialismo. Onde se prega a reforma agrária prega-se a violência da revolução social.

Para meu grande espanto foi usado no texto a expressão "justiça social", esse pleonasmo que está na boca de todos os partidos de esquerda do mundo. Não creio que Sua Santidade ignore isso. Por que o fez? Não faço idéia. Sei que a burocracia da Igreja, especialmente aquela fortalecida pelo Concílio Vaticano II, inoculou no texto esse vírus trágico da verborragia dos militantes políticos que fazem do Foro Social Mundial sua caixa de ressonância.

Eu queria ouvir uma palavra sobre a crise econômica mundial, uma análise justa e factual do que se passa. E a crise mundial é, sobretudo, a crise nos EUA. Por exemplo, a bancarrota da General Motors Corporation, fato de majoritária importância. Qual a grande lição a se tirar daqui? Que uma empresa capitalista não pode ficar sem um dono controlador ou mesmo uma família de controladores. A família é ela mesma a célula principal da economia, é o elemento estruturador da ordem. A GM naufragou porque seus novos donos são os sindicalistas que lhe impuseram condições de remuneração e benefícios incompatíveis com a economia de mercado, mostrando o quão nefastos podem vir a ser os sindicatos de trabalhadores, que desconectam os direitos das obrigações e ignoram que o consumidor não está disposto a pagar privilégios de ninguém, nem mesmo de sindicalistas. Essa lição deveria ter alertado o Papa que, no entanto, faz o seu oposto no texto, dando endosso incondicional da Igreja para que os sindicatos ampliem e prevaleçam na sua lógica tradicional. A primeira grande lição da crise é que a economia deve ser vista pelo ângulo dos consumidores, e não dos produtores, sejam os acionistas, os executivos ou os empregados e seus representantes sindicalistas.

Da mesma forma, essa crise mostrou que as organizações do chamado Terceiro Setor são uma fraude, uma enganação que só servem mesmo para a difusão de valores contrários à fé cristã. Não há caminho econômico alternativo ao capitalismo, ao império da propriedade privada e das relações do livre mercado. Essa crise chegou para colocar um ponto final na aventura dos engenheiros sociais que quiseram criar uma sociedade artificialmente "justa", à custa da prática da injustiça com aqueles que produzem valor. Justiça particularizada é a injustiça ela mesma.

Mas o que verdadeiramente me deixou insatisfeito foi a exortação a uma temível forma de governo mundial patrocinada pela ONU. Nas suas palavras: "Perante o crescimento incessante da interdependência mundial, sente-se imenso - mesmo no meio de uma recessão igualmente mundial - a urgência de uma reforma quer da Organização das Nações Unidas quer da arquitectura económica e financeira internacional, para que seja possível uma real concretização do conceito de família de nações". De igual modo sente-se a urgência de encontrar formas inovadoras para actuar o princípio da responsabilidade de proteger e para atribuir também às nações mais pobres uma voz eficaz nas decisões comuns. Isto revela-se necessário precisamente no âmbito de um ordenamento político, jurídico e económico que incremente e guie a colaboração internacional para o desenvolvimento solidário de todos os povos. Para o governo da economia mundial, para sanar as economias atingidas pela crise de modo a prevenir o agravamento da mesma e em consequência maiores desequilíbrios, para realizar um oportuno e integral desarmamento, a segurança alimentar e a paz, para garantir a salvaguarda do ambiente e para regulamentar os fluxos migratórios urge a presença de uma verdadeira Autoridade política mundial, delineada já pelo meu predecessor, o Beato João XXIII."

Penso que o Papa aqui caiu em uma armadilha política sem retorno. Engajou a Igreja de Cristo em um projeto suicida. Uma forma de governo mundial, qualquer que seja ela, só existirá em prejuízo da pessoa humana, apartando os poderes públicos dos indivíduos em carne e osso. A grande falácia é que a crise poderia ser superada por uma forma de governo assim. Ao contrário. A crise aconteceu precisamente porque os governos nacionais se agigantaram na ânsia fáustica e blasfema de abolir o risco existencial, contra a vontade expressa de Deus. Nenhum governo tem esse poder, menos ainda uma governo mundial, e o Homem precisa ganhar o pão de cada dia com o suor de seu próprio rosto. Os governos atuais, nos quatros cantos da terra, nada mais fazem do que pilhar seus povos em grande escala, conforme podemos medir pelo tamanho da carga tributária que tem sido cobrada, gerando privilégios nauseantes para os detentores do poder político e seus associados, em prejuízo dos pagadores de impostos. Não há aqui qualquer caridade, qualquer coisa que remeta a Deus. Há mesmo é o reino da injustiça.

A experiência da União Européia, tão próxima ao Vaticano, ensina-nos o significado de um governo central que se sobrepõe a outros. Criou-se uma burocracia cara e parasita sobreposta às burocracias nacionais, pouco acrescentando de bem-estar na vida das pessoas, mas obrigando a uma significativa elevação de custos. Uma experiência dessas, levada à escala mundial, será o primeiro passo para a instalação de uma ditadura mundial, um colosso que só pode emergir em prejuízo dos valores cristãos, da própria liberdade que é da essência do cristianismo. Estamos aqui diante da realização inusitada da Terceira Tentação de Cristo. Ora, o próprio Cristo a rejeitou e sabia por que o fazia: o monstro Estatal tem sido, desde sempre o instrumento para a ação nefasta dos inimigos do Povo de Deus.

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
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" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".