SEXTA-FEIRA, FEVEREIRO 06, 2009
Por LEANDRO SILVA
Continuação dos posts abaixo:
1) "Idiotas úteis" e a doença mental
2) Mais sobre a doença mental
Uma coisa é certa e quem se colocar contra o argumento vai ter que se ver com o desenvolvimento de todas as crianças já nascidas nesse planeta. Crianças deixadas por própria conta não viram seres humanos adultos, educados, falantes, escreventes e pensantes. A assistência quase que full time é necessária para que uma criança humana cresça e se desenvolva no que podemos chamar um ser humano. Seja essa atenção dada pelos pais, ou contratados, seja por escolas ou avós, é inevitável que uma criança seja assistida em tempo integral. Esse fato inexorável da realidade nos trás conseqüências gigantescas. E nos deixa uma boa dose de margem para argumentar que: o ser humano é a-essencial.
Por a-essencial quero dizer que o ser humano não tem um conjunto de ações e maneiras de ser pré-programadas que se auto desenvolvem, como num leão ou num cão, que em menos de 15 minutos de nascidos já andam, procuram a teta da mãe e se viram, em grande parte, sozinhos. O ser humano precisa de um guia, para desenvolver as aptidões que estão latentes em seu “programa”. O ser é capaz de falar? Sim! Mas não sozinho. O ser é capaz de escrever? Sim! Mas não sozinho. E assim por diante. Friso bem essa parte, pois é fundamental para todo o desencadear das idéias que virão. Aceito o fato de que a criança torna-se mais plenamente humana quando educada, vamos ao que interessa.
O que representa a individualidade humana é o Ser. Compartilhamos todos essa característica tão fantástica de ser. Existimos. Mas ao existir somente nada muda e nada individualiza. O que nos torna únicos é nossa posição na existência, ou a manifestação do Ser no campo material como princípio de individuação. Assim eu sou eu e somente eu sou agora no meu lugar. Minha posição na existência diz quem sou eu. Creio que devemos levar em conta que a posição aqui não deve ser pensada somente em termos de referências espaciais quantitativas. Mas como referência primariamente qualitativa, e necessariamente quantitativa. Então é por eu ser um ser que persiste no tempo e sofre as modificações internas e externas nas quais eu sou influenciado e influencio ao mesmo tempo, que posso me chamar de Eu sem nenhum problema. Em adição a essa referência individual está o fato de eu me lembrar que eu sou eu. De nada adianta ser uma pedra, que é individual, mas não sabe que é nem se lembra que está sendo. Pela memória consciente sabemos que somos, e só somos porque persistimos no tempo como seres pontuais que influenciam e são influenciados ao mesmo tempo, ou seja temos consciência.
É a dupla, memória consciente e consciência da memória, que nos dá a capacidade de saber tudo o que foi dito anteriormente. Se achou difícil de entender tente se lembrar de como você ouve uma música. A primeira nota é tocada em um tempo totalmente diferente da última nota, as variações, cada uma delas, é independente das outras, a sequência é que faz a música, e a chamamos de música pois conseguimos guardar na memória desde a primeira nota até a última as unindo, na síntese intelectual, no que chamamos propriamente de uma música. A lembrança da sequência de notas tocadas de certa maneira com certa ênfase é que juntamos em um bloco só e ouvimos como uma música, e por fim temos a experiência total dela. Assim como a música só é capaz de existir pela memória, pela consciência da memória e a memória da consciência, que acontecem simultaneamente. Só podemos nos perceber como seres pelo mesmo processo. E é exatamente nesse ponto que diferimos dos outros animais, que não possuem a simultaneidade da memória consciente e da consciência da memória.
Alguns fanfarrões apressados poderão pensar que se é assim que a coisa se desenvolve podemos entrar num ciclo eterno que fica auto-retornando em si mesmo e prende a memória a si mesma enquanto temos consciência de algo ilusório, teríamos a consciência sempre das memórias e nunca de novas coisas. Mas para esses que adoram reduzir o ser humano, ou a mente, a um esquema torto só tenho que lembrar que somos dotados de uma capacidade infinita de conhecer o conhecimento que conhecemos. Assim temos consciência da memória ao lembrar que somos conscientes de nossa memória consciente. Podemos ser conscientes da nossa consciência, e ter consciência que somos conscientes da nossa consciência, ampliando o espectro a camadas impossíveis de qualquer limite. Fugindo assim das determinações positivistas que são a moda que ainda perdura em nossa sociedade.
Esse ponto requer uma explicação mais profunda. Temos o conjunto psico-físico, que envolve o nosso corpo e a nossa psiqué, ou mente, mas temos ainda o princípio de individuação. Esse é o nosso Ser próprio. Esse Ser que nos dá nosso intelecto caminha conjuntamente com a mente e o corpo. Temos assim um conjunto tríplice de: intelecto, mente e corpo. Quem nunca sentiu um impulso carnal, que se manifesta pela mente, e uma vontade oposta no intelecto, que nos diz, ou pergunta, se aquilo é bom ou não, não é humano. Essa dualidade do corpo-mente e intelecto é latente. Dessa maneira muitos são os que reduzem o indivíduo à sua mente, que é necessariamente ligada ao corpo e por isso constitui com ele um sistema. Mas isso de maneira alguma descreve o indivíduo totalmente. Assim temos o intelecto.
O conjunto corpo-psiqué não passa do nosso ferramental básico, que vai ser utilizado pelos meios educacionais para se transformarem em alguma coisa. Quando falo em meios educacionais não confundam com esse raio de pedagogia que temos atualmente, falo simplesmente do fato da mãe ensinar o filho primeiramente a andar, depois a falar, e posteriormente a escrever. Sem contar os modos de se comportar e práticas sociais normais. Quando falo que a mãe “ensina” o filho a andar é mera força de expressão, pois a criança se arrasta e engatinha sozinha, assim como pronuncia sua primeira palavra por conta própria. Isso mostra que em grande parte temos certas pré-disposições, mas só florescem no seio da família, no contato com outros seres humanos. Parece que tudo isso que eu falo é tocar no óbvio, mas esquecemos completamente do óbvio. É característica intrínseca do óbvio passar despercebido. É óbvio que nós respiramos, mas praticamente não lembramos disso no dia a dia.
Tudo isso serve para ilustrar que ao longo do crescimento humano somos determinantemente dependentes e nessa dependência outra característica é muito importante para o bom desenvolvimento humano. A alimentação. Se nos alimentarmos de papelão diariamente durante nosso crescimento desde o nascimento é claro e óbvio que danos irreversíveis vão acontecer. Uma alimentação minimamente satisfatória deve ser administrada para um funcionamento saudável do corpo humano. A analogia fica bem clara quando falo que a mente também é assim. Quando alimentada com as formas mais obtusas de alimentos ela se torna deficiente e capenga, se afasta do intelecto (aqui não como operador racional dos pensamentos, mas como princípio de individuação próprio do ser humano). Não é surpresa que ao serem criados desde pequenos crendo que judeus eram a escória da humanidade a juventude hitlerista realmente acreditou nisso. Assim como as crianças Hutus que cresceram em meio ao genocídio de 1994 hoje em dia são militantes e revolucionários que vêem os Tutsis de maneira deformada. Ou seja, o modo como a mente vai se moldar depende totalmente das informações que lhe chegam. É bem difícil que uma mente que nunca viveu em um ambiente democrático saiba o que seja democracia, por mais que tome conhecimento teórico sobre a coisa. As teorias, informações abstratas, só possuem valor depois de certa medida de vivência mesma, mais ou menos é a passagem da mente para o intelecto, assim o fortalecendo. Assim podemos concluir que quanto melhor o nível de informações que chegam durante a formação de uma criança melhor. Se se deseja que a criança tenha uma mente aberta e ampla, dê-lhe informações amplas. Se se deseja que a criança seja ignorante nada lhe apresente. É uma lógica simples e cabal.
Mas isso não significa uma permissividade. Não é porque temos a capacidade de formarmos uma mente ampla que isso signifique que devemos pensar tudo, ou pensar qualquer coisa. Devemos ser capazes de ter um ferramental amplo. Esse ferramental, no caso o mental, é indispensável para a formação e qualificação do intelecto. Quando um ser humano não é estimulado a reforçar seu intelecto criamos seres passionais, emotivos, sensíveis a qualquer besteira, manipuláveis, fracos e infantis. Como o corpo físico obedece a certa lógica do mundo material para se desenvolver e agir, podemos falar também da lógica do intelecto. Quando esquecemos o intelecto criamos os andróides de Issac Asimov. Esses andróides, ou robôs, possuem mentes reativas que funcionam no mundo com certa capacidade de análise, movimento e ação. Mas eles por serem projetados tem em sua programação três leis básicas da robótica, leis criadas pelo próprio Isaac, que controlam seu “instinto”, são essas: 1) Um robô não pode ferir um ser humano ou, por omissão, permitir que um ser humano sofra algum mal; 2) Um robô deve obedecer as ordens que lhe sejam dadas por seres humanos, exceto nos casos em que tais ordens contrariem a Primeira Lei; 3) Um robô deve proteger sua própria existência desde que tal proteção não entre em conflito com a Primeira e Segunda Leis. Essas três leis regem os cérebros dos robôs e a maioria das histórias do livro Eu, Robô giram em torno de problemas lógicos causados por situações várias em que robôs entram em conflito interno por não conseguirem se livra das contradições da sua programação. Nesse ponto o filme estrelado por Will Smith, com o mesmo nome do livro, aplica cabalmente a lógica de Issac no computador central que controla todos os outros robôs em um link por satélite. A beleza do filme está em acompanhar de forma coerente e precisa a lógica dos contos do autor. Nesse filme o criador do robô central prevendo, pela lógica imputada na central robótica, que seria um caos e perigo para os seres humanos cria um outro tipo de robô. Que será o protagonista da aventura. Esse outro robô difere determinantemente dos outros por um único fator. Quando previu o desastre total o criador dos robôs só consegue quebrar a sequência lógica de movimentos programados ao inserir outro cérebro no andróide. Esse outro cérebro é encarregado de avaliar as situações em que as três leis valem e ter autonomia de pensamento em relação à lógica estrita de ação do primeiro cérebro. Dessa maneira essa era a única saída possível para quebrar a corrente de acontecimentos apocalípticos que estavam em curso.
Esse filme ilustra muito bem a condição humana. E o desenvolvimento do segundo cérebro é a nossa natureza mais básica. O que inquieta muitos é que nosso segundo “cérebro” não tem natureza física, mas somente sutil. Nosso intelecto, nosso Eu que “habita” o corpo material, não é visível. Essa qualidade do ser humano é ignorada na quase totalidade dos casos da ciência e das especulações intelectuais.
Se queremos educar nossos filhos para que tenham autonomia intelectual, não é possível que primeiro não saibamos o que significa. Recorramos ao sábio Mário Ferreira dos Santos para nos esclarecer: “A intelectualidade é a função que capta semelhanças e diferenças. Chama-se intuição intelectual a intuição quando capta semelhanças e diferenças. (Intelecto vem de inter e lec. Inter significa entre, e lec é um radical que significa tomar, captar. Daí temos: ler, que vem de legere, eleger, de e-lec, tirar para fora, separar; assim coleccionar,seleccionar). É por meio da intelectualidade, que o ser humano põe ordem ao caos dos acontecimentos, dos factos, que formam o existir.” Cabe esclarecer que o existir também engloba o próprio ser. Sem força intelectual ele não consegue sequer saber o que se passa com ele. E não podemos negar que a consciência e a memória são qualidades do intelecto.
Atualmente criamos nossos filhos para serem completos des-intelectualizados, e isso não é no sentido de intelectual como aquele ser pensador, reflexivo ou recluso e dedicado aos estudos. Mas no sentido de que as situações e os fatos mais imbecis são devidamente ignorados, mal-interpretados, distorcidos etc. Criamos um exército de seres tão fracos intelectualmente que não conseguem fazer os links mais pueris entre causa e conseqüência, entre atores ativos e receptores passivos, entre determinantes fixas e as variáveis, ou seja, nada que ouse passar pela visão clara e objetiva (no sentido mais amplo) da realidade consegue ser intuído. Todo o processo da existência é deformado ou mal interpretado pelas mentes infantis que temos hoje. As mentes infantis estão tanto nas crianças, nos adolescentes e até nos adultos. Cada vez mais infantilizados, fracos, débeis e pueris os seres humanos perdem qualquer capacidade de realização, transformação, auto-controle e interação com o mundo. Resultando no ápice da idiotização quando vemos hoje pais recorrendo a juízes, pois não conseguem controlar seus filhos.
É característico das mentes infantis acreditarem em tudo que dizem para elas, ou pelo menos acreditar em tudo que certas figuras de autoridade lhe dizem, secas de informação e carentes de autoconsciência reflexiva elas passam a maior parte do tempo concordando ou discordando. Não existe realidade para uma criança e sim apenas a construção de um mundo etéreo. É característico das mentes infantis bradarem por tudo que desejam, sem qualquer filtro mental. A mente infantil é aquela que age indiscriminadamente. Toda a culpa pelos seus atos é automaticamente impugnada aos pais. Não é coincidência que em nossos tempos de bilhões de mentes infantilizadas as relações tenham sempre que ser regulamentadas e regidas por um poder de autoridade. Hoje temos a conjunção das mentes infantis com as três leis de Asimov. Se sair daquela programação dá curto e tudo pára. E é justamente o que acontece ao nosso redor. Quando todos os jornais dão palavras de ordem, fazem todas as análise que serão repetidas pelas bocas populares, montam um séquito de pseudo-autoridades científicas para dizer a cada hora o que deve ou não deve fazer, dão dicas e pitacos de como cuidar da saúde, como cuidar da casa, como cuidar dos filhos, dos cães, da natureza, combater a discriminação etc., não podem concluir nada além daquilo que mostra o discurso típico de um pai para o filho.
Essa carência intelectual é notável e se dá justamente na parte da consciência e da memória. Atingidas full time com novas visões da realidade, cada vez mais contraditórias, essas pessoas por não possuírem as mais básicas ferramentas mentais são capazes de defender dois discursos simultaneamente sem saber que eles são obviamente contraditórios. São capazes das atrocidades lógicas, mentais, físicas e concretas mais díspares.
É substancial que as características que contribuem para o equilíbrio intelectual, e seu crescimento, não são materiais. O intelecto por ser uma função sutil não é regido pelas determinações espaço-temporais. O corpo humano se desenvolve ao longo do tempo, ele vai-se tornando cada vez mais humano na medida em que se transforma. Esse tipo de transformação é quantitativa. Por ser assim, determina certas afetividades e sensibilidades próprias dos corpos. Como um corpo extenso qualquer que é definido pela sua disposição quantitativa, que termina por determinar também algumas de suas propriedades qualitativas, assim o corpo humano também o é. Nesse mesmo campo podemos esclarecer que o corpo humano se torna pleno quando suas partes quantitativas se tornam de tal ou qual modo. Mas o desenvolvimento do intelecto não corresponde a essa relação descrita. O intelecto por ser puramente qualitativo não “cresce”. Ele, por participar da qualidade, se torna mais intelectual ou menos intelectual. Aqui a analogia é como o branco que é mais branco na medida em que se aprimora na brancura. O tempo e o espaço não interferem nesse processo. Desse modo é risível achar que por estar em uma escola assistindo aulas durante boa parte da sua vida um indivíduo irá automaticamente qualificar seu intelecto.
As mudanças qualitativas do intelecto só se dão no âmbito da determinação individual. O papel do estudante é aprender, mas para tal é preciso querer aprender. Interessar-se pelo conteúdo e buscá-lo ativamente. Esse processo é fundamental para o desenvolvimento do intelecto como capacidade de síntese e divisão da realidade. Em grande parte isso se dá através da linguagem. A fala e a escrita contribuem ativamente para tal desdobrar das capacidades intelectuais. Por isso a tão buscada erradicação do analfabetismo. Essa questão é ainda mais profunda quando constatamos que não é o domínio da técnica de leitura e escrita que desenvolve o intelecto, mas como essas técnicas serão utilizadas. Como disse mais acima o conjunto corpo-psiqué é uma ferramenta que deverá se desenvolver, quem usa essa ferramenta é o indivíduo como Ser. Assim o aprendizado da leitura e da escrita são ferramentas que precisarão de um foco em sua utilização. Martelar um prego pequeno com uma marreta gigantesca é o uso descabido da ferramenta para o fim que lhe é próprio. Pensando nesse caminho qualquer tipo de matéria escolar só é necessária quando o indivíduo sente que aquele conhecimento lhe falta. A busca da completude do intelecto só pode ser buscada individualmente.
Quando a educação era ministrada na reclusão da residência essa necessidade era premente. Envolvido diretamente no contexto da vida que vivia a mente que era educada dava sentido para aquele aprendizado. Quando este é dissociado da vida privada, ou pelo menos erigido como modelo educacional nacional, o indivíduo não percebe mais essa integração. Qualquer tipo de aprendizado pressupõe uma posição daquele que ensina. Seja por achar que a educação é necessária ao desenvolvimento do indivíduo, seja por questões práticas de gerência dos negócios da família, ou ainda pelo fomento do conhecimento como forma de integração pessoal, a educação passada diretamente pelo próximo não distanciava das questões morais e dos valores ali contidos. Em tempos que a educação era um privilégio da aristocracia, ela era vista como forma de melhorar o indivíduo para a vida que iria ter e não tinha qualquer papel pedagógico universal dos direitos à educação de hoje. Quando possuímos um exército de professores que nada mais querem que apenas ganhar seu salário, esse ensino não passa de mera formalidade, ou necessidade de mercado. Não podemos esquecer que a maioria das pessoas não necessita diretamente de um conhecimento aprofundado em história, geografia, química, biologia, física etc. O que antigamente era ensinado aos indivíduos eram matérias muito mais básicas e necessárias. Não é tão estranho que antigamente um político era jusfilósofo, entendia de medicina e flertava com outras áreas. Tudo isso aprendido de maneira autodidata. Quando você priva o intelecto das matérias básicas de sua formação relega o indivíduo a uma prisão, na qual ele é incapaz de se conhecer, conhecer o mundo ou saber o mínimo para avaliar qualquer tipo de conhecimento que seja.
Isso caracteriza o ataque direto à consciência e à memória. Esquecendo da consciência, do intelecto em última instância, e sobrecarregando a memória com informações que não possuem nenhum nexo lógico, que fomentam a desestruturação dos valores tradicionais ao desvincular o aprendizado do crescimento moral, abrindo espaço para a doutrinação ideológica antes mesmo do aprendizado das ferramentas de análise do indivíduo e pregando conceitos deturpados a nossa educação atual não faz mais nada que desequilibrar mentalmente os alunos e tornar suas mentes débeis e deformadas. Não é estranho que o aprendizado das gerações sucessivas desde a década de 1950 decaiu a níveis alarmantes. A dissociação do desenvolvimento do sujeito de seu aprendizado trouxe malefícios enormes ao quadro da sociedade mundial.
Se ainda temos expoentes nos níveis técnicos, no campo da aplicação estrita de conhecimentos técnicos, no campo humano a desordem é generalizada. Quando o conhecimento universal e tradicional é extinto sendo substituído pela permissiva militância e o informacionismo descabido é exatamente isso que acontece. Criamos gerações inteiras de zumbis, ou de idiotas-úteis, que nada mais fazem que sobreviver sem qualquer sentido em suas vidas. Perdendo toda noção do que seja um ser humano autônomo e íntegro essas mesmas gerações deformadas nunca poderão passar as próximas gerações o tipo de conhecimento que fomentará o intelecto, causando uma notável infantilização das mentes.
Quando se esgotam as energias da mente com informações a serem seguidas, e não se ensinam as ferramentas intelectuais de análise e decisão que tornam as existências autônomas, só podemos concluir que isso causa uma estafa mental absoluta no indivíduo. A capacidade intelectual de síntese e separação se esvai no mundo das possibilidades e nunca vêm a se tornar concreta. Quando a capacidade de perceber o campo dialético da existência não existe, e com isso tornando a capacidade de análise de qualquer situação concreta inexistente, o indivíduo, já de muletas mentais, é manipulável em qualquer nível pela ação constante do condicionamento mental perpetrado pelas mídias. Não é difícil vermos cidadão fazendo cara feia para um fumante que está a meia distância quando ao mesmo tempo não acham horrível a fumaça negra de carros, caminhões e vans. É só por essa i-lógica que podemos estabelecer que o resfriamento de boa parte do mundo é devido ao aquecimento global causado pelo homem. Ou pensamentos do tipo “rouba, mas faz”. Quando as capcidades de interação com um mundo complexo e articulado para desestruturar a mente do cidadão não estão presentes, esse mesmo mundo parece um emaranhado indecifrável de causas e conseqüências, onde o cidadão se vê como se numa selva sem bússola.
Quando falei mais acima que a dupla, consciência da memória e a memória consciente, faz o ser do ser humano mais humano, não foi à toa. Tudo o que descrevi só abre o caminho para que os seres ignorem suas capacidades intelectuais mais básicas e tratem o mundo como uma selva, na qual o único tipo de avaliação que pode existir é “gosto” ou “não gosto”, ou “concordo” ou “não concordo”. Mentes infantis são incapazes de perceber o mundo conscientemente. Assim é fácil ver a maioria das pessoas falando que “não concordo com seu ponto de vista” quando na verdade nada foi opinado, mas simplesmente descrito. É notável no caso de Barack Obama. Quando descrito como criminoso, a primeira coisa que fazem é “não concordar com a opinião”, como se fosse realmente uma opinião e não uma descrição literal do sujeito. A in-capacidade de ver o mundo de forma natural e saudável só pode acontecer pela total perversão da mente humana. E é isso que chamei de doença mental.
1) "Idiotas úteis" e a doença mental
2) Mais sobre a doença mental
Uma coisa é certa e quem se colocar contra o argumento vai ter que se ver com o desenvolvimento de todas as crianças já nascidas nesse planeta. Crianças deixadas por própria conta não viram seres humanos adultos, educados, falantes, escreventes e pensantes. A assistência quase que full time é necessária para que uma criança humana cresça e se desenvolva no que podemos chamar um ser humano. Seja essa atenção dada pelos pais, ou contratados, seja por escolas ou avós, é inevitável que uma criança seja assistida em tempo integral. Esse fato inexorável da realidade nos trás conseqüências gigantescas. E nos deixa uma boa dose de margem para argumentar que: o ser humano é a-essencial.
Por a-essencial quero dizer que o ser humano não tem um conjunto de ações e maneiras de ser pré-programadas que se auto desenvolvem, como num leão ou num cão, que em menos de 15 minutos de nascidos já andam, procuram a teta da mãe e se viram, em grande parte, sozinhos. O ser humano precisa de um guia, para desenvolver as aptidões que estão latentes em seu “programa”. O ser é capaz de falar? Sim! Mas não sozinho. O ser é capaz de escrever? Sim! Mas não sozinho. E assim por diante. Friso bem essa parte, pois é fundamental para todo o desencadear das idéias que virão. Aceito o fato de que a criança torna-se mais plenamente humana quando educada, vamos ao que interessa.
O que representa a individualidade humana é o Ser. Compartilhamos todos essa característica tão fantástica de ser. Existimos. Mas ao existir somente nada muda e nada individualiza. O que nos torna únicos é nossa posição na existência, ou a manifestação do Ser no campo material como princípio de individuação. Assim eu sou eu e somente eu sou agora no meu lugar. Minha posição na existência diz quem sou eu. Creio que devemos levar em conta que a posição aqui não deve ser pensada somente em termos de referências espaciais quantitativas. Mas como referência primariamente qualitativa, e necessariamente quantitativa. Então é por eu ser um ser que persiste no tempo e sofre as modificações internas e externas nas quais eu sou influenciado e influencio ao mesmo tempo, que posso me chamar de Eu sem nenhum problema. Em adição a essa referência individual está o fato de eu me lembrar que eu sou eu. De nada adianta ser uma pedra, que é individual, mas não sabe que é nem se lembra que está sendo. Pela memória consciente sabemos que somos, e só somos porque persistimos no tempo como seres pontuais que influenciam e são influenciados ao mesmo tempo, ou seja temos consciência.
É a dupla, memória consciente e consciência da memória, que nos dá a capacidade de saber tudo o que foi dito anteriormente. Se achou difícil de entender tente se lembrar de como você ouve uma música. A primeira nota é tocada em um tempo totalmente diferente da última nota, as variações, cada uma delas, é independente das outras, a sequência é que faz a música, e a chamamos de música pois conseguimos guardar na memória desde a primeira nota até a última as unindo, na síntese intelectual, no que chamamos propriamente de uma música. A lembrança da sequência de notas tocadas de certa maneira com certa ênfase é que juntamos em um bloco só e ouvimos como uma música, e por fim temos a experiência total dela. Assim como a música só é capaz de existir pela memória, pela consciência da memória e a memória da consciência, que acontecem simultaneamente. Só podemos nos perceber como seres pelo mesmo processo. E é exatamente nesse ponto que diferimos dos outros animais, que não possuem a simultaneidade da memória consciente e da consciência da memória.
Alguns fanfarrões apressados poderão pensar que se é assim que a coisa se desenvolve podemos entrar num ciclo eterno que fica auto-retornando em si mesmo e prende a memória a si mesma enquanto temos consciência de algo ilusório, teríamos a consciência sempre das memórias e nunca de novas coisas. Mas para esses que adoram reduzir o ser humano, ou a mente, a um esquema torto só tenho que lembrar que somos dotados de uma capacidade infinita de conhecer o conhecimento que conhecemos. Assim temos consciência da memória ao lembrar que somos conscientes de nossa memória consciente. Podemos ser conscientes da nossa consciência, e ter consciência que somos conscientes da nossa consciência, ampliando o espectro a camadas impossíveis de qualquer limite. Fugindo assim das determinações positivistas que são a moda que ainda perdura em nossa sociedade.
Esse ponto requer uma explicação mais profunda. Temos o conjunto psico-físico, que envolve o nosso corpo e a nossa psiqué, ou mente, mas temos ainda o princípio de individuação. Esse é o nosso Ser próprio. Esse Ser que nos dá nosso intelecto caminha conjuntamente com a mente e o corpo. Temos assim um conjunto tríplice de: intelecto, mente e corpo. Quem nunca sentiu um impulso carnal, que se manifesta pela mente, e uma vontade oposta no intelecto, que nos diz, ou pergunta, se aquilo é bom ou não, não é humano. Essa dualidade do corpo-mente e intelecto é latente. Dessa maneira muitos são os que reduzem o indivíduo à sua mente, que é necessariamente ligada ao corpo e por isso constitui com ele um sistema. Mas isso de maneira alguma descreve o indivíduo totalmente. Assim temos o intelecto.
O conjunto corpo-psiqué não passa do nosso ferramental básico, que vai ser utilizado pelos meios educacionais para se transformarem em alguma coisa. Quando falo em meios educacionais não confundam com esse raio de pedagogia que temos atualmente, falo simplesmente do fato da mãe ensinar o filho primeiramente a andar, depois a falar, e posteriormente a escrever. Sem contar os modos de se comportar e práticas sociais normais. Quando falo que a mãe “ensina” o filho a andar é mera força de expressão, pois a criança se arrasta e engatinha sozinha, assim como pronuncia sua primeira palavra por conta própria. Isso mostra que em grande parte temos certas pré-disposições, mas só florescem no seio da família, no contato com outros seres humanos. Parece que tudo isso que eu falo é tocar no óbvio, mas esquecemos completamente do óbvio. É característica intrínseca do óbvio passar despercebido. É óbvio que nós respiramos, mas praticamente não lembramos disso no dia a dia.
Tudo isso serve para ilustrar que ao longo do crescimento humano somos determinantemente dependentes e nessa dependência outra característica é muito importante para o bom desenvolvimento humano. A alimentação. Se nos alimentarmos de papelão diariamente durante nosso crescimento desde o nascimento é claro e óbvio que danos irreversíveis vão acontecer. Uma alimentação minimamente satisfatória deve ser administrada para um funcionamento saudável do corpo humano. A analogia fica bem clara quando falo que a mente também é assim. Quando alimentada com as formas mais obtusas de alimentos ela se torna deficiente e capenga, se afasta do intelecto (aqui não como operador racional dos pensamentos, mas como princípio de individuação próprio do ser humano). Não é surpresa que ao serem criados desde pequenos crendo que judeus eram a escória da humanidade a juventude hitlerista realmente acreditou nisso. Assim como as crianças Hutus que cresceram em meio ao genocídio de 1994 hoje em dia são militantes e revolucionários que vêem os Tutsis de maneira deformada. Ou seja, o modo como a mente vai se moldar depende totalmente das informações que lhe chegam. É bem difícil que uma mente que nunca viveu em um ambiente democrático saiba o que seja democracia, por mais que tome conhecimento teórico sobre a coisa. As teorias, informações abstratas, só possuem valor depois de certa medida de vivência mesma, mais ou menos é a passagem da mente para o intelecto, assim o fortalecendo. Assim podemos concluir que quanto melhor o nível de informações que chegam durante a formação de uma criança melhor. Se se deseja que a criança tenha uma mente aberta e ampla, dê-lhe informações amplas. Se se deseja que a criança seja ignorante nada lhe apresente. É uma lógica simples e cabal.
Mas isso não significa uma permissividade. Não é porque temos a capacidade de formarmos uma mente ampla que isso signifique que devemos pensar tudo, ou pensar qualquer coisa. Devemos ser capazes de ter um ferramental amplo. Esse ferramental, no caso o mental, é indispensável para a formação e qualificação do intelecto. Quando um ser humano não é estimulado a reforçar seu intelecto criamos seres passionais, emotivos, sensíveis a qualquer besteira, manipuláveis, fracos e infantis. Como o corpo físico obedece a certa lógica do mundo material para se desenvolver e agir, podemos falar também da lógica do intelecto. Quando esquecemos o intelecto criamos os andróides de Issac Asimov. Esses andróides, ou robôs, possuem mentes reativas que funcionam no mundo com certa capacidade de análise, movimento e ação. Mas eles por serem projetados tem em sua programação três leis básicas da robótica, leis criadas pelo próprio Isaac, que controlam seu “instinto”, são essas: 1) Um robô não pode ferir um ser humano ou, por omissão, permitir que um ser humano sofra algum mal; 2) Um robô deve obedecer as ordens que lhe sejam dadas por seres humanos, exceto nos casos em que tais ordens contrariem a Primeira Lei; 3) Um robô deve proteger sua própria existência desde que tal proteção não entre em conflito com a Primeira e Segunda Leis. Essas três leis regem os cérebros dos robôs e a maioria das histórias do livro Eu, Robô giram em torno de problemas lógicos causados por situações várias em que robôs entram em conflito interno por não conseguirem se livra das contradições da sua programação. Nesse ponto o filme estrelado por Will Smith, com o mesmo nome do livro, aplica cabalmente a lógica de Issac no computador central que controla todos os outros robôs em um link por satélite. A beleza do filme está em acompanhar de forma coerente e precisa a lógica dos contos do autor. Nesse filme o criador do robô central prevendo, pela lógica imputada na central robótica, que seria um caos e perigo para os seres humanos cria um outro tipo de robô. Que será o protagonista da aventura. Esse outro robô difere determinantemente dos outros por um único fator. Quando previu o desastre total o criador dos robôs só consegue quebrar a sequência lógica de movimentos programados ao inserir outro cérebro no andróide. Esse outro cérebro é encarregado de avaliar as situações em que as três leis valem e ter autonomia de pensamento em relação à lógica estrita de ação do primeiro cérebro. Dessa maneira essa era a única saída possível para quebrar a corrente de acontecimentos apocalípticos que estavam em curso.
Esse filme ilustra muito bem a condição humana. E o desenvolvimento do segundo cérebro é a nossa natureza mais básica. O que inquieta muitos é que nosso segundo “cérebro” não tem natureza física, mas somente sutil. Nosso intelecto, nosso Eu que “habita” o corpo material, não é visível. Essa qualidade do ser humano é ignorada na quase totalidade dos casos da ciência e das especulações intelectuais.
Se queremos educar nossos filhos para que tenham autonomia intelectual, não é possível que primeiro não saibamos o que significa. Recorramos ao sábio Mário Ferreira dos Santos para nos esclarecer: “A intelectualidade é a função que capta semelhanças e diferenças. Chama-se intuição intelectual a intuição quando capta semelhanças e diferenças. (Intelecto vem de inter e lec. Inter significa entre, e lec é um radical que significa tomar, captar. Daí temos: ler, que vem de legere, eleger, de e-lec, tirar para fora, separar; assim coleccionar,seleccionar). É por meio da intelectualidade, que o ser humano põe ordem ao caos dos acontecimentos, dos factos, que formam o existir.” Cabe esclarecer que o existir também engloba o próprio ser. Sem força intelectual ele não consegue sequer saber o que se passa com ele. E não podemos negar que a consciência e a memória são qualidades do intelecto.
Atualmente criamos nossos filhos para serem completos des-intelectualizados, e isso não é no sentido de intelectual como aquele ser pensador, reflexivo ou recluso e dedicado aos estudos. Mas no sentido de que as situações e os fatos mais imbecis são devidamente ignorados, mal-interpretados, distorcidos etc. Criamos um exército de seres tão fracos intelectualmente que não conseguem fazer os links mais pueris entre causa e conseqüência, entre atores ativos e receptores passivos, entre determinantes fixas e as variáveis, ou seja, nada que ouse passar pela visão clara e objetiva (no sentido mais amplo) da realidade consegue ser intuído. Todo o processo da existência é deformado ou mal interpretado pelas mentes infantis que temos hoje. As mentes infantis estão tanto nas crianças, nos adolescentes e até nos adultos. Cada vez mais infantilizados, fracos, débeis e pueris os seres humanos perdem qualquer capacidade de realização, transformação, auto-controle e interação com o mundo. Resultando no ápice da idiotização quando vemos hoje pais recorrendo a juízes, pois não conseguem controlar seus filhos.
É característico das mentes infantis acreditarem em tudo que dizem para elas, ou pelo menos acreditar em tudo que certas figuras de autoridade lhe dizem, secas de informação e carentes de autoconsciência reflexiva elas passam a maior parte do tempo concordando ou discordando. Não existe realidade para uma criança e sim apenas a construção de um mundo etéreo. É característico das mentes infantis bradarem por tudo que desejam, sem qualquer filtro mental. A mente infantil é aquela que age indiscriminadamente. Toda a culpa pelos seus atos é automaticamente impugnada aos pais. Não é coincidência que em nossos tempos de bilhões de mentes infantilizadas as relações tenham sempre que ser regulamentadas e regidas por um poder de autoridade. Hoje temos a conjunção das mentes infantis com as três leis de Asimov. Se sair daquela programação dá curto e tudo pára. E é justamente o que acontece ao nosso redor. Quando todos os jornais dão palavras de ordem, fazem todas as análise que serão repetidas pelas bocas populares, montam um séquito de pseudo-autoridades científicas para dizer a cada hora o que deve ou não deve fazer, dão dicas e pitacos de como cuidar da saúde, como cuidar da casa, como cuidar dos filhos, dos cães, da natureza, combater a discriminação etc., não podem concluir nada além daquilo que mostra o discurso típico de um pai para o filho.
Essa carência intelectual é notável e se dá justamente na parte da consciência e da memória. Atingidas full time com novas visões da realidade, cada vez mais contraditórias, essas pessoas por não possuírem as mais básicas ferramentas mentais são capazes de defender dois discursos simultaneamente sem saber que eles são obviamente contraditórios. São capazes das atrocidades lógicas, mentais, físicas e concretas mais díspares.
É substancial que as características que contribuem para o equilíbrio intelectual, e seu crescimento, não são materiais. O intelecto por ser uma função sutil não é regido pelas determinações espaço-temporais. O corpo humano se desenvolve ao longo do tempo, ele vai-se tornando cada vez mais humano na medida em que se transforma. Esse tipo de transformação é quantitativa. Por ser assim, determina certas afetividades e sensibilidades próprias dos corpos. Como um corpo extenso qualquer que é definido pela sua disposição quantitativa, que termina por determinar também algumas de suas propriedades qualitativas, assim o corpo humano também o é. Nesse mesmo campo podemos esclarecer que o corpo humano se torna pleno quando suas partes quantitativas se tornam de tal ou qual modo. Mas o desenvolvimento do intelecto não corresponde a essa relação descrita. O intelecto por ser puramente qualitativo não “cresce”. Ele, por participar da qualidade, se torna mais intelectual ou menos intelectual. Aqui a analogia é como o branco que é mais branco na medida em que se aprimora na brancura. O tempo e o espaço não interferem nesse processo. Desse modo é risível achar que por estar em uma escola assistindo aulas durante boa parte da sua vida um indivíduo irá automaticamente qualificar seu intelecto.
As mudanças qualitativas do intelecto só se dão no âmbito da determinação individual. O papel do estudante é aprender, mas para tal é preciso querer aprender. Interessar-se pelo conteúdo e buscá-lo ativamente. Esse processo é fundamental para o desenvolvimento do intelecto como capacidade de síntese e divisão da realidade. Em grande parte isso se dá através da linguagem. A fala e a escrita contribuem ativamente para tal desdobrar das capacidades intelectuais. Por isso a tão buscada erradicação do analfabetismo. Essa questão é ainda mais profunda quando constatamos que não é o domínio da técnica de leitura e escrita que desenvolve o intelecto, mas como essas técnicas serão utilizadas. Como disse mais acima o conjunto corpo-psiqué é uma ferramenta que deverá se desenvolver, quem usa essa ferramenta é o indivíduo como Ser. Assim o aprendizado da leitura e da escrita são ferramentas que precisarão de um foco em sua utilização. Martelar um prego pequeno com uma marreta gigantesca é o uso descabido da ferramenta para o fim que lhe é próprio. Pensando nesse caminho qualquer tipo de matéria escolar só é necessária quando o indivíduo sente que aquele conhecimento lhe falta. A busca da completude do intelecto só pode ser buscada individualmente.
Quando a educação era ministrada na reclusão da residência essa necessidade era premente. Envolvido diretamente no contexto da vida que vivia a mente que era educada dava sentido para aquele aprendizado. Quando este é dissociado da vida privada, ou pelo menos erigido como modelo educacional nacional, o indivíduo não percebe mais essa integração. Qualquer tipo de aprendizado pressupõe uma posição daquele que ensina. Seja por achar que a educação é necessária ao desenvolvimento do indivíduo, seja por questões práticas de gerência dos negócios da família, ou ainda pelo fomento do conhecimento como forma de integração pessoal, a educação passada diretamente pelo próximo não distanciava das questões morais e dos valores ali contidos. Em tempos que a educação era um privilégio da aristocracia, ela era vista como forma de melhorar o indivíduo para a vida que iria ter e não tinha qualquer papel pedagógico universal dos direitos à educação de hoje. Quando possuímos um exército de professores que nada mais querem que apenas ganhar seu salário, esse ensino não passa de mera formalidade, ou necessidade de mercado. Não podemos esquecer que a maioria das pessoas não necessita diretamente de um conhecimento aprofundado em história, geografia, química, biologia, física etc. O que antigamente era ensinado aos indivíduos eram matérias muito mais básicas e necessárias. Não é tão estranho que antigamente um político era jusfilósofo, entendia de medicina e flertava com outras áreas. Tudo isso aprendido de maneira autodidata. Quando você priva o intelecto das matérias básicas de sua formação relega o indivíduo a uma prisão, na qual ele é incapaz de se conhecer, conhecer o mundo ou saber o mínimo para avaliar qualquer tipo de conhecimento que seja.
Isso caracteriza o ataque direto à consciência e à memória. Esquecendo da consciência, do intelecto em última instância, e sobrecarregando a memória com informações que não possuem nenhum nexo lógico, que fomentam a desestruturação dos valores tradicionais ao desvincular o aprendizado do crescimento moral, abrindo espaço para a doutrinação ideológica antes mesmo do aprendizado das ferramentas de análise do indivíduo e pregando conceitos deturpados a nossa educação atual não faz mais nada que desequilibrar mentalmente os alunos e tornar suas mentes débeis e deformadas. Não é estranho que o aprendizado das gerações sucessivas desde a década de 1950 decaiu a níveis alarmantes. A dissociação do desenvolvimento do sujeito de seu aprendizado trouxe malefícios enormes ao quadro da sociedade mundial.
Se ainda temos expoentes nos níveis técnicos, no campo da aplicação estrita de conhecimentos técnicos, no campo humano a desordem é generalizada. Quando o conhecimento universal e tradicional é extinto sendo substituído pela permissiva militância e o informacionismo descabido é exatamente isso que acontece. Criamos gerações inteiras de zumbis, ou de idiotas-úteis, que nada mais fazem que sobreviver sem qualquer sentido em suas vidas. Perdendo toda noção do que seja um ser humano autônomo e íntegro essas mesmas gerações deformadas nunca poderão passar as próximas gerações o tipo de conhecimento que fomentará o intelecto, causando uma notável infantilização das mentes.
Quando se esgotam as energias da mente com informações a serem seguidas, e não se ensinam as ferramentas intelectuais de análise e decisão que tornam as existências autônomas, só podemos concluir que isso causa uma estafa mental absoluta no indivíduo. A capacidade intelectual de síntese e separação se esvai no mundo das possibilidades e nunca vêm a se tornar concreta. Quando a capacidade de perceber o campo dialético da existência não existe, e com isso tornando a capacidade de análise de qualquer situação concreta inexistente, o indivíduo, já de muletas mentais, é manipulável em qualquer nível pela ação constante do condicionamento mental perpetrado pelas mídias. Não é difícil vermos cidadão fazendo cara feia para um fumante que está a meia distância quando ao mesmo tempo não acham horrível a fumaça negra de carros, caminhões e vans. É só por essa i-lógica que podemos estabelecer que o resfriamento de boa parte do mundo é devido ao aquecimento global causado pelo homem. Ou pensamentos do tipo “rouba, mas faz”. Quando as capcidades de interação com um mundo complexo e articulado para desestruturar a mente do cidadão não estão presentes, esse mesmo mundo parece um emaranhado indecifrável de causas e conseqüências, onde o cidadão se vê como se numa selva sem bússola.
Quando falei mais acima que a dupla, consciência da memória e a memória consciente, faz o ser do ser humano mais humano, não foi à toa. Tudo o que descrevi só abre o caminho para que os seres ignorem suas capacidades intelectuais mais básicas e tratem o mundo como uma selva, na qual o único tipo de avaliação que pode existir é “gosto” ou “não gosto”, ou “concordo” ou “não concordo”. Mentes infantis são incapazes de perceber o mundo conscientemente. Assim é fácil ver a maioria das pessoas falando que “não concordo com seu ponto de vista” quando na verdade nada foi opinado, mas simplesmente descrito. É notável no caso de Barack Obama. Quando descrito como criminoso, a primeira coisa que fazem é “não concordar com a opinião”, como se fosse realmente uma opinião e não uma descrição literal do sujeito. A in-capacidade de ver o mundo de forma natural e saudável só pode acontecer pela total perversão da mente humana. E é isso que chamei de doença mental.
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