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quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

OS NÚMEROS MENTIROSOS NO PALANQUE QUE CELEBROU A MORTE DA LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL

REINALDO AZEVEDO
Quarta-feira, Fevereiro 11, 2009

Ser adversário político de Lula é uma tarefa perigosa. E não é de hoje, não. Seu sucesso mais visível na política partidária propriamente dita se dá a partir de 2002. Mas, antes disso, o PT ajudou a enlamear muitas reputações — algumas foram destruídas. E, como já escrevi aqui outro dia, a legenda também pode funcionar como lavanderia de biografias: basta que o interessado preste vassalagem ao soberano. Antes ainda, no meio sindical, um decreto não-escrito de Lula tinha o poder de demonizar pessoas. Cito um caso: Joaquinzão, considerado o “pelego” histórico do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo. O homem foi liquidado pelo petismo. Era flor que se cheirasse? Acho que não. Morreu pobre, esquecido e meio maluco num asilo — males que jamais acometerão petistas da máquina sindical. Ou quaisquer outros.

Lembram-se que postei aqui um filme do YouTube em que dois discursos de Lula são recortados? Em 2000, ele esculhamba a família Sarney. Em 2006, ele a santifica. E parece impressionantemente sincero nas duas vezes. Lula é um adversário perigoso porque é o chefe inconteste da maior máquina partidária jamais havida no país, com seus múltiplos tentáculos, e porque sabe atacar bem abaixo da linha da verdade. E o faz com aquele misto de aparente indignação e pia sinceridade.

Ontem, na pajelança em que se começou a celebrar a morte da Lei de Responsabilidade Fiscal, o alvo, claro!, foi o governo tucano de São Paulo — obviamente, mirava em José Serra. Lula lançou ao vento números mentirosos sobre o analfabetismo em São Paulo. Absurdamente mentirosos. Lembremo-nos do caso. Reproduzo um trecho em vermelho da reportagem do Estadão On Line:

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou o Encontro Nacional dos Novos Prefeitos e Prefeitas, em Brasília, para atacar o governo do Estado de São Paulo. Em discurso de improviso, Lula disse que o Estado apresenta números elevados de analfabetismo. A crítica do presidente causou constrangimento ao prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), aliado do governador José Serra (PSDB). "Pasme, caia de costas, Kassab. No Estado de São Paulo nós temos 10% de analfabetos. É o Estado mais rico da federação", disse. "Você não sabe, e eu também não sabia", afirmou o presidente.

Viram? Mas não é só. Lula também sugere que essa é a realidade porque o governo de São Paulo não coopera com o governo federal. Prossegue o Estadão On Line:

Em seu discurso, Lula disse que não adianta o ministro da Educação criar programas de alfabetização se não houve um pacto entre o governo federal e os Estados. O presidente afirmou ainda que as regiões com os mais altos índices de analfabetismo são Norte e Nordeste. Só no Norte, disse, o índice de analfabetismo chega a 19%. Ele cobrou dos prefeitos maior empenho para colocar em prática ações federais de redução do analfabetismo.

Pois bem, leitor. Há o que diz Lula, e há a verdade. E a verdade é bem diferente do que diz Lula. E quem o sustenta? Eu? Peço que vocês acreditem ou em mim ou em Lula? Não. Os dados que seguem são do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Segundo o Pnad 2007 (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), estes são os índices de analfabetismo em alguns estados das pessoas com 15 anos ou mais:

DF - 3,7%
RJ - 4,3%
SC - 4,4%
SP - 4,6%
RS - 5,0%
PR - 6,6%
MG – 8,9%
RMSP: 3,8% (Região Metropolitana de São Paulo)

Creio que o índice não chegue a 10% nem que se incluam os “analfabetos” de zero a cinco anos... Vejam a evolução dos números ao longo dos anos em São Paulo:

Ano - Taxa de Analfabetismo
1970 - 19,1
1980 -13,9
1991 -10,2
1995- 7,7
1996 - 7,3
1997 - 6,8
1998 - 6,6
1999 - 6,2
2000 - 6,6
2001 - 6,0
2002 - 5,9
2003 - 5,4
2004 - 5,5
2005 - 5,4
2006 - 5,0
2007 - 4,6
Fonte: IBGE - Censos Demográficos (decenais) e PNAD's

Os dados mentirosos de Lula foram, depois, vejam só, corrigidos por outra mentira, esta do Planalto. Na transcrição, ele aparece dizendo que São Paulo tem 10% dos analfabetos de todo o país. Se a intenção tivesse sido essa, por que o "Pasme, caia de costas, Kassab", como se isso fosse um grande escândalo? O Estado tem 22% da população brasileira.

Lula, ontem, estava da pá virada, conforme deixei claro no post “Ataque de boçalidade” (às 19h05), em que tratou a imprensa aos chutes. Por quê? Ora, porque ela relatou, desta feita, o que Lula anda fazendo. Ah, sim: na transcrição de sua fala, o Planalto maquiou a fala do Apedeuta. É como se Lula tivesse dito que o estado de São Paulo tem 10% dos analfabetos do Brasil.

Não, não estou demonizando a política. Ao contrário, se há alguém que não cai no truque fácil de, vamos dizer, “ilegalizar” a política, este alguém sou eu. Observem que jamais trato distribuição de cargos entre aliados como “fisiologismo”, por exemplo. Acho isso um vício da cobertura política. Afinal, é com aliados que se governa mesmo no mundo inteiro — eles têm é de ser competentes. Assim, é compreensível que o presidente faça propaganda de seu governo. Mas há coisas que não lhe são lícitas. E, definitivamente, não é lícito mentir sobre dados, fazendo alusão indireta a um possível adversário político nas próximas eleições. Especialmente num evento pensado sob medida para beneficiar a provável candidata oficial. Especialmente numa cerimônia em que se começou a celebrar a morte da Lei de Responsabilidade Fiscal, como já deixei claro aqui.


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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
"Para conseguir sua maturidade o homem necessita de um certo equilíbrio entre estas três coisas: talento, educação e experiência." (De civ Dei 11,25)
Cuidado com seus pensamentos: eles se transformam em palavras. Cuidado com suas palavras: elas se transformam em ação. Cuidado com suas ações: elas se transformam em hábitos. Cuidado com seus atos: eles moldam seu caráter.
Cuidado com seu caráter: ele controla seu destino.
A perversão da retórica, que falseia a lógica e os fatos para vencer o adversário em luta desleal, denomina-se erística. Se a retórica apenas simplifica e embeleza os argumentos para torná-los atraentes, a erística vai além: embeleza com falsos atrativos a falta de argumentos.
‎"O que me leva ao conservadorismo é a pesquisa e a investigação da realidade. Como eu não gosto de futebol, não gosto de pagode, não gosto de axé music, não gosto de carnaval, não fumo maconha e considero o PT ilegal, posso dizer que não me considero brasileiro - ao contrário da maioria desses estúpidos que conheço, que afirma ter orgulho disso". (José Octavio Dettmann)
" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".