Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro concede Medalha Tiradentes a Olavo de Carvalho. Aqui.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

O PREÇO DO CORPORATIVISMO

PERCIVAL PUGGINA

Percival Puggina

02/02/2009

O discurso da “sociedade igualitária” veste, com o manto da falsa justiça, uma proposta totalitária e injusta. Ela implica o Estado que não convive com a diversidade natural existente entre os seres humanos, que desrespeita suas vocações e que se permite discernir sobre a adequação dos anseios de cada um. Tal realidade, de fato, só pode acontecer quando o aparelho estatal açambarca o conjunto das atividades sociais como a Educação, a Cultura e a Economia; proscreve toda divergência política; e restringe a religiosidade. A história do século 20 fornece trágicos exemplos do que acabo de descrever. Trata-se de coisa provada. 

Uma certa desigualdade é inerente à liberdade. Num ambiente no qual se preserve a liberdade dos indivíduos, sempre haverá desigualdade porque são diferentes os empenhos, as capacidades, as vocações e as aspirações. No entanto, qualquer análise da sociedade brasileira apontará nela um nível de desigualdade absolutamente incompatível com o mínimo senso de respeito à dignidade humana. Somam-se para produzi-la razões históricas, culturais e políticas, mas já tivemos tempo de sobra para que a política superasse as causas históricas e culturais da constrangedora miséria nacional. O Brasil tem gravíssimos problemas político-institucionais que a sociedade reprova nos efeitos sem atentar para as causas. 

O corporativismo é um desses males, a agir como câncer instalado em órgãos vitais do aparelho de Estado, que deveria prover muitos dos instrumentos da justiça social. No entanto, ali onde está o dinheiro público, aparentemente sem dono, pertencente a todos sem ser de ninguém em particular, agem as corporações buscando se apropriar do quanto podem, em regalias de toda ordem, a começar pelas financeiras. A proximidade do poder decisório é a chave de acesso aos privilégios. Basta contemplar a disparidade de tratamento entre as carreiras funcionais ou os desníveis na remuneração de aposentadoria entre os trabalhadores do setor público e o setor privado, ou ainda a distribuição de incentivos para tais ou quais atividades, para compreender que há uma estreita relação entre a desigualdade e as mobilizações corporativas. 

Não estou descrevendo novidade alguma porque, como disse, falo dos efeitos e estes todo mundo vê. O que talvez represente novidade para muitos leitores é o fato de que a capacidade de ação do corporativismo se potencializa através do sistema proporcional de representação parlamentar. Se o corporativismo é um mal com raízes históricas, jamais poderíamos, após um século de República, persistir adotando um sistema de eleição parlamentar que estimula a organização, para fins eleitorais, dos grupos de interesse constituídos na sociedade. Estimulamos o que deveríamos inibir. Em época de eleição, a primeira providência de tais grupos, com imediato reflexo nos partidos, é tratar dessa representação. “Quem vai cuidar de nós?” indaga-se nas corporações. “Quem será nosso candidato por tal ou qual grupo?” interroga-se nos partidos. 

É por esse viés que se formam as grandes e efetivas bancadas existentes no Congresso Nacional – algumas das “frentes parlamentares” e as muitas bancadas disto ou daquilo que lá operam. Interesses e mais interesses. No entanto, a própria natureza da deliberação parlamentar implica o confronto de opiniões e não a negociação de interesses. Um deputado não deveria ser escolhido para representar vontades nem agenciar conveniências, mas para representar opiniões e critérios de juízo para as inúmeras decisões sobre as quais deverá incidir seu voto. Enquanto não tratarmos esse câncer com altas doses de quimioterapia de boa ciência política, o Brasil continuará clamando contra a injustiça e cruzando os braços em relação àquilo que lhe dá causa. 

2 comentários:

Anônimo disse...

Templario:
Nós sequer saimos da Idade Média, ainda nos somos guiados conforme os Estamento Portugueses. Essa quimioterapia que vc fala é a Revolução, não ditaduras. Essas as tivemos suficientemente. Mas nada mudou. Não é ocupar os cargos. Isso qualquer boçal pode fazê-lo, letrado ou não. É mudar estruturas de administração, mexer no bolo que se concentra 75% na mão do Rei. Mas os Estamentos nos consideram a todos incapazes para gerir nossas proprias vidas. Mudança já.

Cavaleiro do Templo disse...

Olá Rubin

Devemos ter muito cuidado com mudanças já também, elas podem conter a revolução dentro de si. Veja este artigo: http://cavaleirodotemplo.blogspot.com/2009/01/bruno-garschagen-entrevista-olavo-de.html.

Não sou contra mudanças, muito pelo contrário. Elas (creio eu) devem seguir um curso firme e correto durante muitos anos e sempre. Nada que se mude "da noite para o dia" poder ter suas consequências previstas.

Grande abraço

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
"Para conseguir sua maturidade o homem necessita de um certo equilíbrio entre estas três coisas: talento, educação e experiência." (De civ Dei 11,25)
Cuidado com seus pensamentos: eles se transformam em palavras. Cuidado com suas palavras: elas se transformam em ação. Cuidado com suas ações: elas se transformam em hábitos. Cuidado com seus atos: eles moldam seu caráter.
Cuidado com seu caráter: ele controla seu destino.
A perversão da retórica, que falseia a lógica e os fatos para vencer o adversário em luta desleal, denomina-se erística. Se a retórica apenas simplifica e embeleza os argumentos para torná-los atraentes, a erística vai além: embeleza com falsos atrativos a falta de argumentos.
‎"O que me leva ao conservadorismo é a pesquisa e a investigação da realidade. Como eu não gosto de futebol, não gosto de pagode, não gosto de axé music, não gosto de carnaval, não fumo maconha e considero o PT ilegal, posso dizer que não me considero brasileiro - ao contrário da maioria desses estúpidos que conheço, que afirma ter orgulho disso". (José Octavio Dettmann)
" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".