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sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Uma geração sanguessuga

Por Olavo de Carvalho - 12/2/2009

Se querem saber por que a direita no Brasil é tão fraca, tão vacilante, perguntem a si próprios quantos liberais e conservadores, no seu círculo de conhecidos, têm alguma daquelas virtudes mínimas requeridas de um militante comunista

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Quando François-Noël Babeuf (1760-1797) fundou a primeira organização comunista de massas, ele fixou algumas regras para identificar os militantes capacitados e distingui-los dos oportunistas e aproveitadores. Essas regras foram absorvidas depois pela Primeira Internacional de Karl Marx e se tornaram parte integrante da tradição comunista. São até hoje um dos fatores essenciais que dão força e consistência ao movimento revolucionário. Filippo Buonarrotti, no livro que consagrou à epopéia babeufista, resume algumas delas.


Devoção aos princípios da organização e disposição de sacrificar a eles o interesse pessoal e os prazeres.


Coragem, desprezo pelo perigo e pelas dificuldades.


Paciência e perseverança.


Respeito pela hierarquia.


Inviolável respeito à palavra dada, à promessa e aos votos.


Nenhum desejo de brilhar, de dar impressão ou de se impor.


São normas de senso comum, sem as quais nenhuma organização pode prosperar, nenhum movimento político pode crescer, nenhum grupo humano pode avançar um passo sem tropeçar em dificuldades invencíveis e assistir, impotente, à vitória do inimigo perseverante, devotado, disciplinado e organizado.


Se o PT chegou aonde chegou, não foi pelos ardis maquiavélicos dos ladrões que o lideram. Foi graças ao esforço devotado de milhares de militantes anônimos que durante décadas ofereceram generosamente ao partido seu dinheiro e suas horas de trabalho, enfrentando toda sorte de riscos e dificuldades sem outra esperança senão a de que o socialismo petista pudesse dar a todos uma vida melhor.


Se querem saber por que a direita no Brasil é tão fraca, tão vacilante, tão incapaz de erguer a cabeça e enfrentar o adversário com algum sucesso, perguntem a si próprios quantos liberais e conservadores, no seu círculo de conhecidos, têm alguma daquelas virtudes mínimas requeridas de um militante comunista


Quantos aceitam sacrificar mesmo um pouco de suas ambições capitalistas do presente para assegurar que a democracia capitalista continue existindo no futuro? 


Quantos não tremem de pavor ante a mera possibilidade de ser, não digo assassinados, não digo surrados, não digo perseguidos, mas simplesmente xingados ou desprezados pelos esquerdistas? 


Quantos não evitam a companhia de seus correligionários mais corajosos, só para não ser rotulados de extremistas junto com eles, mesmo sabendo que o rótulo é injusto? 


Quantos entendem a diferença entre defender a liberdade de mercado e beneficiar-se dela deixando a outros menos beneficiados, ou não beneficiados de maneira alguma, o encargo de defendê-la?


Minha experiência, nesse sentido, foi bem decepcionante. Durante muitos anos fui praticamente o único, na grande mídia, a defender os valores que a esquerda odeia – pelo menos o único a defendê-los com alguma eficiência, erguendo a discussão para um plano de exigência intelectual e de franqueza verbal em que meus adversários sentiam falta de ar e preferiam abandonar a luta. Rompi a marteladas o manto de chumbo com que a ideologia dominante esmagava, ora sob insultos atemorizantes, ora sob afetações de desprezo olímpico, toda veleidade de oposição. Contra tudo e contra todos, abri um espaço. Quem veio ocupá-lo? Um exército de militantes, de combatentes, de homens valentes dispostos a honrar o exemplo do antecessor? Sim, vieram alguns com esse espírito, e muito me orgulho deles. Mas em geral o que vi foi uma horda de oportunistas esfomeados, que na atmosfera mais respirável que se abria não viam um horizonte de luta, mas um mercado, uma promessa de lucros fáceis, uma oportunidade de subir na vida sem fazer força.


As palavras conservadorismo, liberalismo, democracia, não atingiam os seus corações como um chamamento ao dever: afagavam seus ouvidos como um sussurro sedutor, rebrilhavam em seus olhos como cifrões esculpidos em ouro. Eles entravam em campo, decididos não a continuar o que eu havia começado, mas a explorá-lo em proveito próprio, vendendo logo a primeira colheita em vez de replantar as sementes. (Cavaleiro do Templo: acrescento que algumas destas pessoas não buscam, pelo menos não imediatamente, DINHEIRO. Buscam o COMANDO. Querem ser o chefe. Estes quando atingem seus objetivos sentam no trono e de lá pouco fazem. Juntam as pessoas, muitas vezes os melhores, e amarram as suas mãos, impede-os de fazer o que melhor sabem. Tem muito disto "entre nós" também. Mesmo dizendo-se contra a sociopatia, suas ações favorecem a mesma.)


Para isso, tinham de transmutar o fruto do meu trabalho em um produto menos ácido, mais palatavel, próprio a ser consumido como divertimento intelectual em vez servir de combustível e munição. Não vinham lutar ao meu lado, mas tentar ocupar o meu lugar o mais rápido possível, chutando para um canto o pioneiro incômodo e substituindo ao seu discurso exigente e implacável o estilo castrado e acomodatício dos oportunistas e dos sedutores.

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
"Para conseguir sua maturidade o homem necessita de um certo equilíbrio entre estas três coisas: talento, educação e experiência." (De civ Dei 11,25)
Cuidado com seus pensamentos: eles se transformam em palavras. Cuidado com suas palavras: elas se transformam em ação. Cuidado com suas ações: elas se transformam em hábitos. Cuidado com seus atos: eles moldam seu caráter.
Cuidado com seu caráter: ele controla seu destino.
A perversão da retórica, que falseia a lógica e os fatos para vencer o adversário em luta desleal, denomina-se erística. Se a retórica apenas simplifica e embeleza os argumentos para torná-los atraentes, a erística vai além: embeleza com falsos atrativos a falta de argumentos.
‎"O que me leva ao conservadorismo é a pesquisa e a investigação da realidade. Como eu não gosto de futebol, não gosto de pagode, não gosto de axé music, não gosto de carnaval, não fumo maconha e considero o PT ilegal, posso dizer que não me considero brasileiro - ao contrário da maioria desses estúpidos que conheço, que afirma ter orgulho disso". (José Octavio Dettmann)
" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".