Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro concede Medalha Tiradentes a Olavo de Carvalho. Aqui.

sábado, 29 de novembro de 2008

O relativismo, o egoísmo e a ministra

PERSPECTIVAS

moral-relativismEm conversa com uma pessoa muito mais nova do que eu, veio à baila a reivindicação de adopção de crianças por duplas de homossexuais. “Cada um sabe de si”, disse ela, “as opiniões são relativas e ninguém tem o direito de criticar os gays por quererem adoptar crianças”.


Logo a seguir, mudando de assunto, a minha interlocutora professora passou a criticar a ministra da educação. Naturalmente que quando criticamos as opções da ministra não podemos destacá-as das opções do ser humano que é a ministra; as políticas adoptadas pela ministra são consentidas pela pessoa que ela é. Por isso, é impossível dissociar uma pessoa das suas ideias e comportamentos.


“Se adoptamos uma posição relativista perante tudo o que acontece ao nosso redor” ― retorqui — “perdemos o direito moral de criticar quem quer que seja”. Ela riu-se, amarelada, pediu desculpa que estava atrasada, e “deu às de vila Diogo”. Quando não se têm argumentos “dá-se corda aos sapatos”.

É preciso dizer que um relativista não é um revolucionário: é antes alguém que se deixa instrumentalizar pela mente revolucionária que não é relativista, mas antes inverte o sentido da ética e da moral cristãs.


  • Aquela jovem relativista está impossibilitada de criticar o comportamento e as ideias da ministra. O relativismo torna impossível a crítica ao comportamento e às ideias que ditam o comportamento das outras pessoas, na medida em que se acredita na ideia de que a moralidade é uma questão de definição pessoal.
  • Na medida em que aquela jovem é relativista, ela não pode acreditar que o “mal” existe. Para que uma jovem relativista seja coerente, o Holocausto foi uma opção dos nazis com a qual podemos até concordar ou não no nosso íntimo, mas não temos o direito de criticar os responsáveis pelo Holocausto.
  • Os conceitos de “culpa” e de “recompensa moral” não existem para a jovem relativista, na medida em que não existe uma bitola moral através da qual ela possa fazer juízos de valor. Quando a jovem critica a ministra fá-lo por um egoísmo incrustado e não porque tenha alguma noção da existência de “culpa” da ministra. Na ausência de absolutos morais, a culpa não existe senão quando alguém belisca os nossos interesses, isto é, o relativista recusa sempre a culpa e reclama sistematicamente a recompensa moral, porque o relativista é essencialmente um egoísta inveterado.
  • Aquela jovem não tem o direito de dizer que a ministra é justa ou injusta. Para uma relativista, a justiça não pode existir porque não existe culpa. A ausência de culpa moral passa a contaminar a própria Lei ordinária de uma sociedade (o Direito Positivo), e o Democídio surge como consequência dessa contaminação. Na sequência da ausência de culpa moral, surge o divórcio socretino “sem culpa” ― e aqui temos um exemplo de como o relativismo moral contamina o Direito. Passo a passo, e por via do relativismo moral como instrumento de acção política, toda a influência da moral cristã do nosso Direito Positivo vai sendo substituída por um Direito subjectivo que só serve (ainda mais do que já acontece) as elites e os poderosos.
  • Aquela jovem está impedida, pela sua própria natureza, de evoluir do ponto de vista moral. A vida dela é como a água estagnada num charco, água que não corre e, por isso, não aproveita ninguém. Sem objectivos morais, ela constrói o seu mundo solitário e egoísta dissociado da sociedade em que vive.
  • Uma relativista não consegue discutir a Moral. Por isso é que a jovem fugiu à conversa. Para a relativista, a discussão sobre os méritos e deméritos nunca se faz de uma forma abstracta e impessoal. Quando a jovem critica a ministra, critica-a por razões pessoais e não porque não concorde, de uma forma abstracta, impessoal e generalizada, com o comportamento e ideias que caracterizam a ministra como poderiam caracterizar outra pessoa qualquer ― isto é, se o mesmo comportamento incongruente e teimoso no erro da ministra fosse adoptado pelo vizinho da jovem, esta já não o criticaria porque não mexeria com a vida dela. Na medida em que a moral relativista é subjectiva, a jovem relativista vive em silêncio, ignorando o mundo em seu redor, a não ser que lhe pisem os calos.
  • A jovem relativista não pode ser tolerante. Passa muitas vezes a ideia errada de que a “tolerância” é uma característica do relativismo moral ― isto é, pretende-se fazer passar a ideia de que “a moral é individual” e por isso, embora toleremos os pontos-de-vista dos outros, não temos o direito de julgar comportamentos e atitudes.
    Contudo, este princípio relativista que define a “tolerância” cai numa contradição insanável: se não existem regras morais universais, não pode existir uma regra que exija a “tolerância” como um princípio moral ― a própria obrigação moral de ser “tolerante” viola as regras morais do relativismo. Se não existem absolutos morais, não faz sentido nenhum ser tolerante.
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    A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
    "Para conseguir sua maturidade o homem necessita de um certo equilíbrio entre estas três coisas: talento, educação e experiência." (De civ Dei 11,25)
    Cuidado com seus pensamentos: eles se transformam em palavras. Cuidado com suas palavras: elas se transformam em ação. Cuidado com suas ações: elas se transformam em hábitos. Cuidado com seus atos: eles moldam seu caráter.
    Cuidado com seu caráter: ele controla seu destino.
    A perversão da retórica, que falseia a lógica e os fatos para vencer o adversário em luta desleal, denomina-se erística. Se a retórica apenas simplifica e embeleza os argumentos para torná-los atraentes, a erística vai além: embeleza com falsos atrativos a falta de argumentos.
    ‎"O que me leva ao conservadorismo é a pesquisa e a investigação da realidade. Como eu não gosto de futebol, não gosto de pagode, não gosto de axé music, não gosto de carnaval, não fumo maconha e considero o PT ilegal, posso dizer que não me considero brasileiro - ao contrário da maioria desses estúpidos que conheço, que afirma ter orgulho disso". (José Octavio Dettmann)
    " Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".