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terça-feira, 25 de novembro de 2008

E agora, social-democratas e conservadores?

Por e-mail (sic)

O jornal Folha de São Paulo convidou o vice-presidente do IL, Roberto Fendt, a escrever "em resposta" ao artigo provocativo de Marcos Nobre "E agora, liberais?" publicado na seção 'Tendências e Debates'. E o convite foi aceito.

 

 

TENDÊNCIAS/DEBATES

 

 

E agora, social-democratas e conservadores?

ROBERTO FENDT

 

"As críticas não se dirigem aos liberais. A crise foi gerida pela parceria de um presidente conservador com um Congresso social-democrata"

 

NAS ÚLTIMAS semanas, com o recrudescimento da crise financeira, os liberais brasileiros viraram saco de pancadas de todos os descontentes com o que supõem ser os males do liberalismo.

 

Nesta mesma Folha perguntou-se que figurino vai usar agora quem toca o bumbo do liberalismo econômico no Brasil ("E agora, liberais?", 30/9, pág. A2).

 

Muitos liberais ficaram indignados com essa e outras críticas semelhantes. A esses aconselho moderação e tolerância; porque não se trata de má vontade e menos ainda de má-fé dos críticos. Trata-se, na verdade, de um profundo equívoco semântico.

 

Aqueles que atribuem os males do mundo aos liberais americanos, que nos teriam metido nesse imbróglio financeiro, ignoram dois fatos. O último presidente liberal americano foi John Quincy Adams, cujo mandato durou de 1825 a 1829. Também liberais foram os primeiros presidentes americanos -George Washington (1789-1797), John Adams (1797-1801) e Thomas Jefferson (1801-1809)-, mas não o foi o antecessor de Quincy Adams, James Monroe (1817-1825).

 

Desde então, os Estados Unidos foram presididos por políticos de todos os matizes, menos liberais.

 

Mais recentemente, uma onda conservadora sucedeu aos social-democratas Franklin Delano Roosevelt e Bill Clinton. O expoente dessa corrente é George W. Bush. A eles devemos a crise. O candidato liberal na corrida presidencial dos EUA deste ano foi Ronald Ernest Paul -Ron Paul, como é mais conhecido-, deputado federal pelo Texas. O perfil político de Paul já diz tudo: é constitucionalista, libertário e se opõe às intervenções militares dos Estados Unidos no Iraque e no Afeganistão. Em 1988, concorreu à Presidência pelo Partido Libertário Americano. Por seu perfil, jamais empolgou o eleitorado americano, dividido que está entre social-democratas e conservadores.

 

Já os liberais brasileiros estão fora do circuito dos diversos matizes da social-democracia que nos governa desde pelo menos 1994, aí incluída a atual administração.

 

Quanto à crise, os liberais brasileiros se opõem a qualquer plano de "salvamento" dos bancos e demais instituições financeiras, preocupando-se, sim, com os recursos dos cidadãos comuns depositados e investidos nessas instituições.

 

Preocupam-se também com crises sistêmicas, pois sempre sobram para a gente. Sofremos as conseqüências das crises sistêmicas de 1929 e 1931, das cadernetas de poupança americanas ("savings and loans") da década de 1980 e sofreremos com a atual, que já vem desde a crise do banco Bear Stearns, de meados de 2007.

 

A crise é mais longa do que se pensa, mas foi toda gerida pela parceria de um presidente conservador com um Congresso social-democrata.

 

A tradição dos liberais não tem nada a ver com os que endividaram o Brasil, dentro e fora, nem com o crescimento avassalador da carga tributária, que, se não incomoda colunistas, empobrece os brasileiros comuns.

 

A tradição liberal remonta a Pimenta Bueno, Frei Caneca, Tavares Bastos, José de Alencar, Joaquim Nabuco e Rui Barbosa, para citar apenas alguns e evitar ofender os vivos, pela eventual omissão.

 

Calcados nessa tradição, quase todos os liberais brasileiros se opuseram à proposta original do secretário do Tesouro americano por razões variadas. A maioria porque o plano original pretendia usar o dinheiro do contribuinte para comprar os papéis "micados" nos ativos dos bancos, premiando a negligência e irresponsabilidade dos gestores e acionistas; outros adicionaram a isso o pedido indecente de poderes para gerir US$ 700 bilhões dos contribuintes sem dar satisfação a quem quer que seja.

 

Os liberais brasileiros não estão comprometidos com um "pensamento único". Um grande número de liberais é favorável a que não haja nenhuma intervenção do governo no sistema financeiro, já que a liberdade de tomar riscos deve vir acompanhada da responsabilidade de arcar com as conseqüências. Mas outros, tendo em conta o caráter sistêmico da crise e o fato de que na raiz da solução do problema está a capitalização do sistema financeiro, recomendam alternativas sem benevolência com as instituições, seus gestores e acionistas, como a aquisição de participações acionárias.

 

Do exposto, fica claro que as críticas não se dirigem aos liberais, mas aos conservadores e social-democratas. Por essa razão, tenho recomendado paciência e tolerância com aqueles que, por ignorância, nos atribuem o que pertence a terceiros.


 

ROBERTO FENDT , 64, doutor em economia pela Universidade de Chicago (EUA), é vice-presidente do Instituto Liberal.

 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
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" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".