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segunda-feira, 24 de março de 2008

O cerco à Colômbia – Parte II

Do portal MÍDIA SEM MÁSCARA
por Heitor De Paola em 14 de março de 2008

Resumo: O reconhecimento das FARC-EP como força beligerante por parte de Chávez abre o caminho para os demais países que as consideram terroristas e narcotraficantes deixarem de fazê-lo.

© 2008 MidiaSemMascara.org

A análise da crise colombiana exposta no meu último artigo veio a ser confirmada por ninguém menos do que o Presidente Chávez num vídeo (http://www.youtube.com/watch?v=DzxOK21kXms&feature=related) em que, entre outras revelações, como a de ter conhecido Lula e Raúl Reyes na reunião do Foro de São Paulo de 1995 em El Salvador, disse: “Ayacucho de ese siglo será em Colombia”. Estava se referindo à Batalha de Ayacucho de 9 de dezembro de 1824, a batalha decisiva das campanhas de independência da América do Sul. O Vice-Rei do Peru era o único que ainda resistia ao ímpeto de independência e, cercado em Pampa de la Quinoa, Departamento de Ayacucho, rende-se. O vencedor, Marechal Antonio José de Sucre, havia dito a seus homens antes da batalha: “¡Soldados!, de los esfuerzos de hoy depende la suerte de América del Sur; otro día de gloria va a coronar vuestra admirable constancia. ¡Soldados!: ¡Viva el Libertador! ¡Viva Bolívar, Salvador del Perú!”. Em 2 de abril do ano seguinte o Departamento do Alto Peru torna-se independente com o nome de Bolívia (si de Rómulo, Roma, de Bolívar, Bolívia).

Se Ayacucho representou o fim do Império Espanhol nas Américas, Chávez, sentindo-se legítimo sucessor de Bolívar, prevê que sua Ayacucho será a derrota do “império” americano, representado pelo “vice-rei” Uribe em Bogotá revirando a “suerte de América del Sur” outra vez, obviamente com ele mesmo como El Libertador.

Mas Chávez não é louco nem burro, sabe muito bem do que está falando e conta com o apoio de quase todos os mandatários sul-americanos co-irmãos no Foro de São Paulo, com a possível exceção de Alan García que enfrenta crescentes exigências dos “movimentos populares” ligados a Ollanta Humala. No Paraguai, segundo as pesquisas eleitorais, provavelmente será eleito o candidato da Alianza Patriótica para el Cambio (APC), Fernando Lugo, ex-Bispo da Demonologia da Libertação, chamado “o Bispo dos pobres”, que tem encontro marcado com Lula para abril. Conta com o apoio maciço dos “movimentos sociais” reunidos no Movimento Tekojoja (de Caaguazú) e no Movimiento Agrário y Popular (MAP). O Tekojoja está firmemente ligado à Via Campesina e às “lutas dos camponeses de todo o mundo contra os transgênicos” (ver em http://www.lasojamata.org/?q=node/86 e similares - notar bem o nome do site: a soja mata!). Há um ano foram os destaques da Cúpula do Protocolo de Biossegurança (MOP3) e da Convenção da Biodiversidade (COP8) em Curitiba (http://www.biodiversidadla.org/content/view/full/22620).

O Grupo de Reflexión Rural (http://www.grr.org.ar) de Buenos Aires lançou no Centro Cultural Guapachoza, em dezembro passado, a compilação Repúblicas Unidas de la Soja sobre as conseqüências do plantio de soja. A conclusão principal dos ‘investigadores’ da Argentina, Paraguai, Bolívia, Equador, Brasil, Argentina, Suíça e Espanha é que “a soja não é um mero cultivo, mas um sistema com um valor geopolítico que sustenta a globalização econômica e a agricultura em função dos interesses corporativos. (...) (promovem) a desumanização da agricultura e o despovoamento do campo (no que chamam de ‘republiquetas sojeiras’), em favor dos interesses corporativos dos países do Sul e do Norte”. Os autores propõem “outro futuro com Soberania Alimentar e Territorial para todos nossos povos”.

* * *

Grifei Territorial porque é também da separação de territórios indígenas (e, no Brasil, quilombolas) que estamos tratando quando se discute o problema colombiano.

Assinalei no artigo anterior que o cerco à Colombia não está relacionado somente às fronteiras externas, mas inclui uma extensa fronteira interna com os territórios dominados pelas FARC. O reconhecimento das FARC-EP como força beligerante por parte de Chávez – e conseqüentemente, em pé de igualdade com o legítimo Exército da Colombia - abre o caminho para os demais países que as consideram terroristas e narcotraficantes deixarem de fazê-lo. E adotem uma atitude safada à la façon de Brésil como foi definida pelo Ministro (ele acha que é, mas quem manda é o MAG) Celso Amorim, que declarou perante a Comissão de Relações Exteriores do Senado ontem (12/03) que o Brasil “não classifica as FARC de grupo guerrilheiro, beligerante ou criminoso porque isso poderia atrapalhar nossas estratégias diplomáticas ou humanitárias”. De acordo com ele o Brasil “segue a classificação das Nações Unidas, que define apenas a Al-Qaeda como organização terrorista”. “Algo novo e positivo que se pode fazer é por meio de medidas práticas, como a criação de confiança (em quem cara pálida? Em terroristas?), a verificação de compromisso (pergunte ao Chamberlain como eles respeitam compromissos!) e a maior facilidade de comunicação entre os governantes”, disse Amorim para os senadores durante a reunião (Tatiana Damasceno em http://congressoemfoco.ig.com.br:80/Ultimas.aspx?id=21414). Maior facilidade como, depois da Internet banda larga, dos celulares e das comunicações via satélite?

Não só na ONU, mas a definição de terrorismo ainda não foi encontrada, pois os terroristas e países que os apóiam participam das discussões e fazem tudo para que nunca haja definição – ou quando houver, seja tarde demais! (ver em http://www.midiasemmascara.com.br/artigo.php?sid=5606 e na Revista Tecnologia & Defesa, Suplemento Especial, nº 15, Ano, 23). Em relação às FARC-EP, a ONU tem razões especiais para isto, como veremos adiante.

As FARC reconhecem ter 745 pessoas seqüestradas (organizações independentes falam no dobro), dos quais somente 41 são considerados “trocáveis” – são os que têm apoio em Paris, os que têm peso político e ajudariam as FARC a obter reconhecimento “humanitário”. Os demais 704 são “cidadãos esquecidos”, “não-pessoas”. Em troca as FARC exigem a libertação de 500 companheiros especializados em colocar colares-bomba em suas vítimas. Além disto, e aí vem a tramóia, exigem a liberação de parte do território colombiano onde seriam realizadas as trocas. Coincidentemente, os municípios de Pradero e Florida estão estrategicamente localizados no corredor de comunicação da zona ocidental, Departamento de Chocó, com a fronteira com o Panamá e saída para o Pacífico e para o Golfo de Urabá, onde a ONU, com o apoio da Inglaterra, patrocina um movimento separatista, no mínimo desde 1995. Logo após a derrota dos cartéis de Cali e Medellín pelo Plano Colombia se iniciaram os preparativos para a instalação de grupos guerrilheiros. Já que não existem argumentos étnicos – como na Amazônia, Bósnia ou Kosovo - criem-se incidentes que permitam trazer os “capacetes azuis”. O golfo se estende ao longo do Caribe, da fronteira com o Panamá (ver mapa) através dos Departamentos de Chocó e Antioquia (capital Medellin) até o de Córdoba.

Atua na região a organização belga Pax Christi International, (http://www.paxchristi.net/members) da qual fazem parte a Comissão Pastoral da Terra (e através dela o MST), a Red Nacional de Iniciativas Ciudadanas por la Paz y contra la Guerra (REDEPAZ) (http://www.redepaz.org.co/). A REDEPAZ, um conglomerado de 51 grupos de trabalho, realizou em 1999 o Congresso Nacional pela Paz, que elegeu um Comitê Temático Nacional de 20 membros, dos quais 10 eram representantes das FARC-EP para “negociar” com o legítimo governo colombiano. Este Comitê não funciona mais mas a REDEPAZ também está integrada na luta contra os transgênicos. Segundo o documento Poder Popular en Colombia, de autoria do Presidente de seu colegiado, Luis Emil Sanabria Duran, a rede tem interesse na reformulação da Constituição colombiana que visa o estabelecimento de uma democracia direta e não mais representativa (ver em http://www.redepaz.org.co/IMG/pdf/GENESIS_FINAL_CONSTITUYENTE__resumen__PDF_1_.pdf, principalmente o Capítulo III, na página 12).

Todo o apoio a Uribe é pouco.

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
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" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".