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terça-feira, 25 de março de 2008

Socorro! - não mude para a Europa

Do portal da FOLHA DE SÃO PAULO
Por João Pereira Coutinho em 26/11/2007

Eu sei que existem brasileiros que sonham com a Europa. Não falo de Paris e de férias na Torre Eiffel. Falo de viver na Europa, trabalhar na Europa, quem sabe casar e envelhecer na Europa.

Por favor, mudem de idéias. Qualquer europeu sensato, com dois neurónios em razoável funcionamento, trocaria a Europa pelo Brasil. Existe insegurança nos trópicos? Pois existe. Mas na Europa existe segurança a mais e, com uma União Européia que todos os dias aumenta os seus poderes legislativos sobre a vida do mais insignificante cidadão, a coisa começa a ganhar contornos fantasmagóricos.

Pior: de acordo com a revista alemã "Der Spiegel", o cenário vai piorar. A União Européia é liderada por 27 comissários (não eleitos, entendam) e os 27 competem entre si pelo troféu definitivo: como produzir o maior número de regulamentos idiotas para transformar um adulto europeu numa criança de 4 anos?

A paranóia legislativa ataca todas as áreas da vida humana, do trabalho à intimidade, sem esquecer aquilo que os europeus devem comer, beber, respirar, ouvir, olhar, fazer ou não fazer. Conta o artigo que o maior recordista de imbecilidades por dia (repito: por dia) dá pelo nome de Markos Kyprianou, um cipriota que lidera a área da Saúde. Agora, o grande desafio de Kyprianou é fazer ao álcool o que a Europa fez ao tabaco. Ou seja, acabar com a podridão.

Verdade: fumar em cafés ou restaurantes é hoje coisa do passado e os fumantes resistentes são vermes que a sociedade européia contempla com inevitável nojo. Como os leprosos na Antiguidade. Mas os fumantes terão companhia para breve: quando Kyprianou conseguir colocar no rótulo de cada bebida alcoólica as palavras sacramentais de que beber mata, arruína matrimônios, queima massa cinzenta etc. etc. etc. Não excluo que a figura elegante de Johnny Walker em seus passeios campestres seja substituída por um fígado em putrefação cirrótica. Por que não?

Precisamente: é tudo para o nosso bem. A União Européia proíbe o dono de uma vaca de vender leite tirado da vaca a um consumidor ocasional? É tudo para o nosso bem. A União Européia proíbe qualquer alimento com excesso de sal, gordura ou açúcar de proclamar as suas virtudes nutritivas? É tudo para o nosso bem. A União Européia está disposta a arruinar a tradição centenária dos produtores de queijo alpino porque as instalações não têm tecnologia fabril? É tudo para o nosso bem.

E é tudo para o meu bem. Leio as proibições, os regulamentos, os aconselhamentos e o paternalismo de Bruxelas e não posso deixar de pensar que, no curto prazo, metade da minha dieta estará proibida por um burocrata qualquer. Já imagino esse dia bem triste, e bem civilizado, em que sairei de casa com gabardine e óculos escuros, disposto a comer, numa catacumba qualquer, os pratos que a minha avó fazia na maior das inocências.

Claro que alguns resistentes ainda perguntam se um mundo crescentemente securitário será um mundo crescentemente livre: um mundo onde os seres humanos podem viver suas vidas e serem responsabilizados por suas escolhas. A dúvida deixa de fazer qualquer sentido. Os delírios regulamentares de Bruxelas não acabam apenas com modos de vida úteis e benignos que foram resistindo aos testes do tempo. Os delírios de Bruxelas arruínam também o sentido mais básico da liberdade individual: esse espaço onde eu posso atuar sem a interferência de terceiros. E sem interferir com a vida de terceiros.

Trocar o Brasil pela gaiola européia? Não sejam loucos. E, se me permitem, socorro!

João Pereira Coutinho, 31, é colunista da Folha. Reuniu seus artigos para o Brasil no livro "Avenida Paulista" (Ed. Quasi), publicado em Portugal, onde vive. Escreve quinzenalmente, às segundas-feiras, para a Folha Online.

E-mail: jpcoutinho.br@jpcoutinho.com

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
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Cuidado com seus pensamentos: eles se transformam em palavras. Cuidado com suas palavras: elas se transformam em ação. Cuidado com suas ações: elas se transformam em hábitos. Cuidado com seus atos: eles moldam seu caráter.
Cuidado com seu caráter: ele controla seu destino.
A perversão da retórica, que falseia a lógica e os fatos para vencer o adversário em luta desleal, denomina-se erística. Se a retórica apenas simplifica e embeleza os argumentos para torná-los atraentes, a erística vai além: embeleza com falsos atrativos a falta de argumentos.
‎"O que me leva ao conservadorismo é a pesquisa e a investigação da realidade. Como eu não gosto de futebol, não gosto de pagode, não gosto de axé music, não gosto de carnaval, não fumo maconha e considero o PT ilegal, posso dizer que não me considero brasileiro - ao contrário da maioria desses estúpidos que conheço, que afirma ter orgulho disso". (José Octavio Dettmann)
" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".