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segunda-feira, 21 de maio de 2012

Um bispo acolhedor e inclusivo: espíritas sim, Católicos não.

 

FRATRES IN UNUM

Dois artigos de Dom Paulo Sérgio Machado, ordinário de São Carlos, São Paulo. Lá também, como em muitos outros lugares do Brasil, não chegou a carta do Santo Padre dirigida aos bispos que acompanha o Motu Proprio Summorum Pontificum. Embora os cientistas ainda não tenham “inventado um aparelho para abrir cabeças”, muitas delas “de vento”, sua leitura lançaria algumas luzes sobre as trevas da ignorância que cobrem a mente um tanto “fora de linha” do senhor bispo.

O Retorno à Idade Média

Por Dom Paulo Sérgio Machado, bispo de São Carlos, SP – 31 de março de 2012

Não consigo entender como, em pleno século XXI, existam pessoas que querem a volta da Missa em latim, com o padre celebrando “de costas para o povo”, usando os pesados paramentos “romanos”. Estamos celebrando, neste ano, os cinqüenta anos da abertura do Concílio Vaticano II, quando já sentimos a necessidade da realização de um Vaticano III e encontramos gente que quer retornar ao passado. E, o que é mais  preocupante, são pessoas que freqüentaram a universidade, que entraram na universidade, mas a universidade não entrou neles. Penso que é hora de os nossos cientistas inventarem um aparelho para “abrir cabeças”. O “desconfiômetro” já está ultrapassado, mesmo porque estas pessoas não desconfiam que estão “fora de linha”, “fora de época”. Querem, a todo custo, a volta ao passado. Vivem de milagres e aparições, de devoções e pieguismo já, felizmente, ultrapassados.

Imaginemos um padre celebrando em latim numa capelinha rural. “Dominus vobiscum”. “Et cum spiritu tuo”.O nosso povo simples vai pensar que o padre está maluco ou, pelo menos, que o está xingando. Lembro-me de meu tempo de criança, quando a missa era em latim. As senhoras piedosas, não entendendo nada, rezavam o terço. Não tenho nada contra o terço -aliás eu rezo o rosário todos os dias- mas terço é reza, não é celebração.

Só falta defenderem a volta às famosas “mantilhas” que cobriam as cabeças das mulheres. E eu pergunto: por que não a dos homens? Seria até bonito ver os homens de “mantilhas rendadas”. Difícil seria encontrar quem as quisesse usar. A não ser alguns “cabeças de vento” que andam por aí querendo ensinar o pai posso ao vigário.

Mas, persiste a pergunta, o que está por detrás disso? Um saudosismo? Penso que não. É mais do que isso: é um desejo mórbido, um medo do novo. Uma aversão à mudança. É o que poderíamos chamar de -para usar uma expressão francesa – um “laissez faire, laissez passer”, um “deixa estar para ver como é que fica”. É uma tentativa de manter o “status quo”, mesmo que esse “status quo” beneficie a uma meia dúzia. E os outros é que se danem.

Para esses puritanos o inferno está cheio de gente; quando na verdade, cheio está o céu, porque Deus quer salvação de todos. E não apenas de uma minoria moralista que vê pecado em tudo e para quem o capeta é mais poderoso do que Deus. “Rasgai os vossos corações e não as vossas vestes”, diz o profeta. Gente que se preocupa em lavar os copos, as taças, e não as mentes e os corações. É a velha posição dos fariseus – que ainda hoje são muitos - que criticavam Jesus por curar no dia de sábado. Lembro-me da história de uma pessoa que, ouvindo a notícia de que o João havia assassinado Pedro na sexta feira santa, disse: “por que ele não deixou para matar no sábado?“ Para esta pessoa o dia era o mais importante.

Termino citando dois pensamentos que fazem pensar: “O passado é uma lição para se meditar, não para se reproduzir” (Mário de Andrade — autor de Macunaíma); “Leve do altar do passado o fogo, não as cinzas” (Jean Jures — líder socialista francês).

Nosso agradecimento ao leitor Dionisio Lisbôa pela indicação.

* * *

Espiritismo: teoria ou religião?

Por Dom Paulo Sérgio Machado, bispo de São Carlos, SP – 1º de fevereiro de 2012

Nós encontramos, na história, vários codificadores de teorias. E teoria, segundo o Aurélio, é o conjunto de princípios fundamentais de uma arte ou ciência. Marx codificou as teses socialistas; Adam Smith, as capitalistas; Charles Darwin, as evolucionistas; Allan Kardec, as espiritistas. Cada um no seu campo específico.

Allan Kardec, por exemplo, preocupado com a vida após a morte, defendia a tese da reencarnação, fundado num princípio de “nova chance”, talvez preocupado com a condenação eterna. Foram muitos os seus seguidores e, principalmente no Brasil, o espiritismo assumiu características de religião. E o vasto tempo de apologética da Igreja católica contribuiu para isso. Daí os espíritas terem sido estigmatizados pelos católicos como hereges.

No meu ponto de vista, três coisas devem ser consideradas. Primeiro, que toda religião tem doutrina e culto. O espiritismo tem doutrina e não tem culto. Daí ser uma teoria e não uma religião. Basta ver que os espíritas estão mais ligados à Igreja Católica. Dificilmente se encontra um espírita evangélico, isto é, protestante. Eles fazem questão de batizar os filhos na Igreja Católica, casar na Igreja Católica e chegam até encomendar missa de sétimo dia, na igreja Católica, para os familiares falecidos.

Em segundo lugar, o que leva uma pessoa a ser espírita? São várias as razões: uns, por tradição: os pais são espíritas, os avós foram espíritas. Outros porque procuram respostas imediatas para questões insolúveis: a morte, por exemplo. Quando uma “alma” envia mensagens, ela, de certa forma, alivia o sofrimento dos que ficaram. Se um filho perdeu a mãe, indo ao centro espírita, julga que se “comunica” com ela, isso serve de alívio para ele.

E, em terceiro lugar, onde o espiritismo se desenvolveu? Nos países subdesenvolvidos. Não se fala de espiritismo, por exemplo, na Europa. Lembro-me que, uma vez, numa visita ad limina – visita que os bispos fazem ao Papa – um bispo brasileiro tentava falar do crescimento do espiritismo no Brasil. E o Papa não conseguia entender o que era o espiritismo de que o bispo falava. É, de certa forma, o “animismo” que caracteriza o “africanismo” e seus cultos.

A única coisa que, no espiritismo, contraria a Igreja Católica é a teoria da reencarnação. Isso porque ‘bate de frente’ com a fé na ressurreição. Eu chamaria isso de “atalho”, E o que é um “atalho”?  O dicionário vem em nosso socorro: “caminho que encurta a distância entre dois pontos”. No mundo moderno temos muitos atalhos: o quebra-molas, por exemplo. É mais fácil colocar um obstáculo na estrada do que educar para o trânsito; o preservativo: é mais fácil recomendar o seu uso do que promover uma educação para a castidade. Assim, a reencarnação: é mais fácil “dar uma chance” à alma penada do que exigir dela, em vida, uma conversão.

Outro aspecto relevante no espiritismo é a caridade. Os espíritas são caridosos, isto é, promovem a caridade como forma de purificação. Basta ver o exemplo de Chico Xavier. Inúmeras foram as obras de caridade por ele sustentadas. Apesar de seu “status” de médium famoso, procurado por tanta gente, viveu e morreu pobre. Talvez tenha sido esta a “isca” para atrais tantos admiradores. Com certeza, foi isso que fez dele o “papa” do espiritismo.

Espiritismo: teoria ou religião? Para mim, perguntar se um espírita pode ser católico é o mesmo que perguntar se um evolucionista ou capitalista também pode. Ou, para ser mais radical, um corintiano pode ser católico? Ou, então, um católico pode ser corintiano? Não só pode, como deve.

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
"Para conseguir sua maturidade o homem necessita de um certo equilíbrio entre estas três coisas: talento, educação e experiência." (De civ Dei 11,25)
Cuidado com seus pensamentos: eles se transformam em palavras. Cuidado com suas palavras: elas se transformam em ação. Cuidado com suas ações: elas se transformam em hábitos. Cuidado com seus atos: eles moldam seu caráter.
Cuidado com seu caráter: ele controla seu destino.
A perversão da retórica, que falseia a lógica e os fatos para vencer o adversário em luta desleal, denomina-se erística. Se a retórica apenas simplifica e embeleza os argumentos para torná-los atraentes, a erística vai além: embeleza com falsos atrativos a falta de argumentos.
‎"O que me leva ao conservadorismo é a pesquisa e a investigação da realidade. Como eu não gosto de futebol, não gosto de pagode, não gosto de axé music, não gosto de carnaval, não fumo maconha e considero o PT ilegal, posso dizer que não me considero brasileiro - ao contrário da maioria desses estúpidos que conheço, que afirma ter orgulho disso". (José Octavio Dettmann)
" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".