Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro concede Medalha Tiradentes a Olavo de Carvalho. Aqui.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

A DIREITA E O CONSERVADORISMO

 

NIVALDO CORDEIRO

28/02/2012

No artigo anterior (Direita, volver!) o foco do meu argumento era o segmento político da direita, como o título bem exalta, e não o conservadorismo, ali sublinhado apenas para diferenciá-lo da direita liberal. O liberalismo doutrinal é sempre problemático, pois ele é filho do Iluminismo e tem um vocação revolucionária. O liberalismo tido por "clássico" acabou por ser o contrapeso da revolução, emblematicamente representada pela Revolução Francesa, porque afinal a ordem precisa ser restabelecida para a vida prática possa continuar. O grande contributo teórico dos liberais está no âmbito da ciência econômica, pois os economistas liberais demonstraram a racionalidade superior do Estado mínimo e das livres trocas. Esse ramo do liberalismo constitui seu segmento à direita do espectro político.

Desde logo: entendo por direita o posicionamento político que propõe o Estado mínimo, em oposição aos movimentos políticos de esquerda, de natureza coletivista. E também aquele que busca um marco jurídico em consonância com o Direito Natural. Há também a esquerda liberal, que põe foco na quebra dos valores morais e no igualitarismo. Este ramo do liberalismo virou linha auxiliar dos movimentos coletivistas, atualmente mergulhados na revolução cultural.

Digo isso porque quero comentar a réplica escrita por Joel Pinheiro, autor que conheço de suas atividades na editoria da revista Dicta&Contradicta (Conservadorismo religioso não se salva - Uma resposta a Nivaldo Cordeiro). Até então eu não sabia que o autor do texto anteriormente comentado era o Joel, pois o mesmo não estava assinado.

O fato é que fiz um comentário rápido, no contexto em que analisava o segmento da direita. Mas Joel puxou o argumento para discutir conservadorismo. Eu sou conservador, embora no âmbito econômico endosse sem rodeios o programa liberal clássico. Chamo a atenção aqui para o excelente texto do lusitano João Pereira Coutinho, publicado na própria revista Dicta&Contradicta (Em busca do equilíbrio) que fez excelente resumo das ideias conservadoras. O Joel, na réplica, usou o termo como Coutinho lembrou que liberais e esquerdistas fazem ao se referir a alguém conservador, sempre com um tom acusatório e censurante:

" Conservador é um bom termo de insulto. Vivemos num tempo progressista: um tempo que acredita na missão transformadora da política rumo a um fim determinado. O conservador é a pedra na engrenagem. Ele levanta dúvidas. E, levantando dúvidas, ele coloca em causa a suprema vaidade do ser humano: a vaidade na sua razão e na capacidade da razão para produzir resultados perfeitos.Este é o tom vulgar do insulto: o conservador como obscurantista, retrógado, reacionário".

Posso dizer que quase me senti insultado pelo Joel, nesses termos: "Olha o conservador!", como se dissesse: "Olha o estúpido!".

Joel se queixou que conservadores como eu não têm um programa de governo. Tem sim: evitar mudanças abruptas, em situação de normalidade. Isso é um programa. Liberais e esquerdistas acham que podem aperfeiçoar o mundo e a alma humana. Conservadores sabem que essa tarefa é impossível e que todas as revoluções levam a uma destruição insana, por conta dessa miragem perfectibilista. Ele escreveu: "E o conservadorismo é uma ideologia medrosa: subjuga sua mente ao peso do passado, como forma de fugir da responsabilidade (em verdade inescapável) do pensamento individual".

Essa é uma visão errada do conservadorismo, pois ele não é uma ideologia: o conservador está sempre de olho no real e desconfia daqueles que o querem aperfeiçoar por força de lei. Tampouco está sob o jugo do passado, apenas sabe que o fatos sociais, como os naturais, não dão saltos. Sempre que se tenta, o que se tem produzido são pilhas de cadáveres.

Joel chega ao cerne de seu argumento ao escrever: "O verdadeiro inimigo do conservadorismo não é o socialismo, ou a esquerda (que pode ser conservadora, como são os nossos velhos conservadores - ACM, Sarney, etc. - e como era a elite do partido comunista na União Soviética), mas a razão".

Antes: "Ao elogiar o surto de moralismo e escândalo que tomou conta das eleições presidenciais passadas, Nivaldo apenas ilustra a fraqueza de sua própria posição: pois se aquela histeria é exemplo do que, na concepção dele, devemos almejar, se aquele é o tipo de debate político que ele espera do Brasil, então estamos num dilema entre oestatismo amoral e o fundamentalismo furioso. O ideal do conservador religioso está mais para uma turba de fanáticos do que para uma população educada e bem-intencionada".

O que citei (não elogiei, não era o caso) é que José Serra foi para o segundo turno nas últimas eleições presidenciais porque houve uma mudança no voto conservador, contra o PT, que está deformando o sistema jurídico nacional, penalizando as virtudes e obrigando a prática dos vícios. Em todo mundo está havendo a reação à revolução cultural e aqui também. Aí que eu havia sublinhado o foco moral dos conservadores, que diverge assim dos liberais como o Joel, e sua força político-eleitoral.

Joel não percebe que estamos em pleno processo revolucionário niilista, nos mesmos termos que viveu a Alemanha no anos Trinta. Thomas Mann deixou registrado na sua obra que aquele movimento político foi possível porque, antes, na Alemanha, tivemos o esteticismo, tão "avançado" como o programa de revolução cultural levado a cabo pelo PT, apoiado pelo liberais que se julgam senhores da razão. O custo para a Alemanha e todo o mundo daquela loucura niilista não foi nada pequeno.

Joel, aliás, argumentou: "A origem e o fundamento da ética revelada por Deus na Bíblia é a natureza humana; e a natureza humana é cognoscível pela razão; e quando derivada da razão, chamamo-la de lei natural". Ele parece ser um bom herdeiro do estoicismo. Acontece que, superior à lei natural da razão, está a lei divina, que se deu a conhecer pela Revelação. Por isso Cristo se fez necessário. É próprio da arrogância dos tempos modernos confundir a razão com a fonte de tudo, até mesmo da própria divindade, uma besteira monumental, o erro mais colossal. Deus está acima da razão, essa é a obviedade que os modernos, como Joel, não conseguem mais enxergar.

Mas importa o fato político fundado na moral: um número considerável de brasileiros agora se deu conta do malefício que os revolucionários do PT, ajudados pelos liberais esclarecidos como Joel, estão fazendo em matéria de costumes e estão dispostos a dar um basta, a sair da passividade. Candidatos que defendem o aborto, o gaysismo e coisas assemelhadas terão muitas dificuldades nas próximas eleições, porque essa gente conservadora não apenas vota, mas faz campanha. A lei moral é inegociável.

Um comentário:

João Emiliano Martins Neto disse...

Conheci Joel há alguns atrás, desde que comecei a acessar a rede mundial de computadores, e ele sempre me pareceu um rapaz sério, criterioso, solitário, estudioso e trabalhador como todo paulistano (se bem que ele é inglês).

O detalhe é que Joel tem a fé papista dele só pra ele, nunca pregou pra mim e logo eu que sempre vivi sufocado pela tal sem o Deus revelado, defendida por Joel, lei natural fundada na (ir)razão humana de minha família sem Deus e sem vocação para ser família muito menos para a tal razão.

Talvez esse perfil, acima, que vi em Joel explique, a reação de Joel face às, eu diria, razões conservadoras de Nivaldo Cordeiro.

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
"Para conseguir sua maturidade o homem necessita de um certo equilíbrio entre estas três coisas: talento, educação e experiência." (De civ Dei 11,25)
Cuidado com seus pensamentos: eles se transformam em palavras. Cuidado com suas palavras: elas se transformam em ação. Cuidado com suas ações: elas se transformam em hábitos. Cuidado com seus atos: eles moldam seu caráter.
Cuidado com seu caráter: ele controla seu destino.
A perversão da retórica, que falseia a lógica e os fatos para vencer o adversário em luta desleal, denomina-se erística. Se a retórica apenas simplifica e embeleza os argumentos para torná-los atraentes, a erística vai além: embeleza com falsos atrativos a falta de argumentos.
‎"O que me leva ao conservadorismo é a pesquisa e a investigação da realidade. Como eu não gosto de futebol, não gosto de pagode, não gosto de axé music, não gosto de carnaval, não fumo maconha e considero o PT ilegal, posso dizer que não me considero brasileiro - ao contrário da maioria desses estúpidos que conheço, que afirma ter orgulho disso". (José Octavio Dettmann)
" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".