O RETROCESSO DO |
Alejandro Peña Esclusa
O resultado das eleições gerais uruguaias, realizadas ontem (25/10/09), constitui novo golpe na seqüência de derrotas sofridas pelo Foro de São Paulo ao longo deste ano.
Lacalle (d) vai para o segundo turno e afirma: "Somos paz, certeza, segurança e equilíbrio". |
O ex-tupamaro José Mujica, candidato presidencial da Frente Ampla, obteve em torno de 47% dos votos, mais ou menos o mesmo que alcançaram — somados — os candidatos de centro-direita, Luis Alberto Lacalle (30%) e Pedro Bordaberry (17%), os quais já anunciaram uma aliança para o segundo turno que se realizará em 29 de novembro. Ademais, a esquerda perdeu a maioria parlamentar que tinha, e agora as tendências estão equilibradas no Congresso.[1]
Como se isto não bastasse, o referendo proposto pela esquerda, que pretendia anular a Lei da Caducidade (anistia que amparava a atuação dos militares durante a ditadura), foi derrotado nesse mesmo dia. Significa que os uruguaios rejeitam a agenda de vingança dos ex-guerrilheiros da Frente Ampla, e preferem deixar para trás os enfrentamentos do passado.
Nas eleições gerais do Panamá, realizadas em 3 de maio deste ano, foi derrotada a candidata do Foro de São Paulo, Balbina Herrera (PRD), pelo atual presidente Ricardo Martinelli (Cambio Democrático).
Em 28 de junho passado, o homem de Chávez em Honduras, Manuel Zelaya, foi deposto constitucionalmente, por ter querido violar o ordenamento jurídico de seu país. Apesar do esmagador apoio recebido da comunidade internacional, não se vislumbra seu regresso à Presidência, por não ter respaldo político, militar ou popular.
Daniel Ortega colocou-se a si mesmo em delicada e perigosa situação, ao ordenar aos seus aliados — integrantes da Sala Constitucional da Corte Suprema de Justiça — que modifiquem de factoa Carta Magna para permitir sua reeleição. Os seis magistrados orteguistas atuaram à margem da Lei e contra os demais magistrados, pelo que se espera que surja uma crise política na Nicarágua que poderá resultar na queda do líder sandinista.[2]
Hugo Chávez, Evo Morales e Rafael Correa enfrentam todo tipo de problemas internos, por dedicarem-se a promover sua agenda política (sobretudo o projeto socialista internacional) abandonando suas responsabilidades concretas como governantes. Já é notória sua indiferença pela democracia e evidentes as constantes violações dos direitos humanos. Ademais, estão cada vez mais enredados por seus nítidos vínculos com o narcoterrorismo colombiano e o fundamentalismo islâmico.
Os membros mais moderados do Foro de São Paulo, como Lula e Bachelet, não parece que conseguirão a eleição dos candidatos que apóiam para a sua sucessão, e em ambos os casos, poderão resultar vitoriosos seus adversários políticos.
O Foro de São Paulo chegou a sua máxima expressão em 15 de março último, com o triunfo de Mauricio Funes em El Salvador, mas dali em diante vem sofrendo derrota após derrota. Espera-se que continue seu retrocesso já que, como governo, não resolveu nenhum dos problemas que atormentam a região. Para alguns desses governantes — como Zelaya, Chávez e Morales — não lhes resta outra opção senão favorecer a violência e pisotear o ordenamento jurídico para manter-se no poder, mas, ainda assim, seu futuro político não é promissor.
Ante o iminente fracasso do Foro de São Paulo e o desgaste dos partidos tradicionais, é preciso construir uma terceira opção, capaz de proporcionar soluções para as nações latino-americanas, baseadas em um programa de industrialização e desenvolvimento, e em um renascimento moral e cultural.
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NOTAS DO TRADUTOR:
[1] Resultado oficial, apurados 100% dos votos, segundo a edição de 26/10/2009 do jornal uruguaio El País: Frente Ampla 47,49%; Partido Colorado 16,66%; Partido Nacional 28,53%.
[2] O art. 147 da Constituição proíbe nova candidatura para quem já exerceu a Presidência da República por dois períodos presidenciais. Ortega, cujo segundo mandato presidencial termina em 10 de janeiro de 2011, tentou em vão conseguir os 56 votos necessários para impulsionar uma reforma constitucional na Assembléia Nacional. Decidiu então buscar a permanência no poder mediante a via judicial. Embora Ortega tenha declarado "inapelável" a decisão provisória da câmara constitucional, à qual os 6 magistrados concederam eficácia imediata, deve ainda ser submetida ao plenário de 15 magistrados da Corte Suprema para se tornar definitiva.
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Alejandro Peña Esclusa é engenheiro venezuelano, político, escritor e presidente da União das Organizações Democráticas da América (UnoAmérica).
Tradução: André F. Falleiro Garcia.
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