13/03/2009
Para alegria de dez entre dez analistas, o Copom diminuiu anteontem a taxa Selic em 150 pontos- base, de 12,75 para 11,25% ao ano. Considerações técnicas e pressões políticas muito fortes deram-se as mãos e levaram o Comitê a decidir assim. Tecnicamente, as quedas nos diversos índices de preços, de fato, mostravam que o Banco Central poderia promover uma queda mais acentuada como a que ocorreu; politicamente, a ala (que se diz) “progressista” do governo (leia-se Ipea e Fazenda), bem como empresários da indústria (FIESP) e do comércio (CNI), há anos vêm criticando a postura (corretamente) rígida de nossas autoridades monetárias, a primeira por uma questão de deformação acadêmica e os segundos por interesses particulares imediatistas e diretos. Além disso, o açodado lançamento da candidata Dilma à Presidência exige que os efeitos da crise internacional sobre o Brasil sejam minimizados. O fato é que a taxa de juros nominal básica caiu para 11,15% ao ano, o que, descontada a inflação, faz a taxa básica real situar-se em algo próximo dos 6,5% anuais.
O raciocínio – um lugar-comum que se ouve até em botequins – é que juros menores estimulam os gastos privados e que o aumento destes “puxa” a produção para cima. Será?
Este raciocínio simplista, de origem keynesiana, é uma meia-verdade, que só vale no curto prazo e sob condições muito especiais. Parece desconhecer que, na economia real, as velocidades de crescimento da demanda e da oferta são bem diferentes: a primeira é sempre mais rápida do que a segunda, assim como Schumacher é bem mais veloz do que o simpático Rubinho... Ademais, temos que observar que as taxas de juros nos Estados Unidos, Europa e Ásia estão muito baixas (nos EUA, a taxa básica é zero) e nem por isso o setor real da economia vem respondendo positivamente aos estímulos. Adicionalmente, a verdade é que as pessoas e empresas atravessam uma grave crise de confiança e, quando isso acontece, os governos podem baixar juros e gastar rios de dinheiro para salvar empresas que, por medo de um futuro incerto, consumidores e empresários não aumentam os seus gastos, ou seja, o Schumacher prefere, até que as coisas se aclarem, permanecer no box... E, com isso, o Rubinho também não anda.
Mesmo com apenas 38,5% da dívida interna do governo sendo atrelada à Selic (28% está em títulos prefixados, 24,9% ao IPCA e o restante ao câmbio, ao IGP-M, ao IGP-DI e à TR), estimam alguns que a queda da Selic promovida anteontem promoverá uma “economia” de cerca de R$ 7 bilhões em termos de pagamentos de juros.
Alguém tem dúvidas de que tal “economia”, caso venha mesmo a ocorrer, deixará de ser destinada a programas eleitoreiros, como o PAC, ou à criação de novas estatais, ou, de modo geral, a gastos públicos crescentes?
Pois eu não tenho. Diminuir os juros sem cortar os gastos públicos de custeio não vai resolver nada, a não ser, evidentemente, acalentar os sonhos eleitorais de quem está no poder.
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