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quarta-feira, 18 de março de 2009

Cabeças rolam em Havana, desconcertando os “especialistas em Cuba”

MÍDIA A MAIS
por Humberto Fontova em 18 de março de 2009

Raúl e Fidel Castro: poder dos velhos ditadores stalinistas continua intocado em Cuba

Na exata semana em que Obama propunha aconchegar-se a Castro ao eliminar algumas sanções comerciais e restrições de viagens, a maior remexida política dos últimos vinte anos agitou ruidosamente o regime de Cuba. Na semana passada, Raúl Castro expurgou quase vinte altos funcionários do regime. O mais proeminente entre os expurgados era o mais jovem e o mais inclinado a reformas (isto é, tal como essas coisas são medidas dentro dos limites de um regime stalinista); e todos eles foram substituídos por septuagenários stalinistas linha dura, com carreiras militares e na polícia secreta.

As provisões de fundos do ramo de oliveira oferecido por Obama a Castro já estão embutidas no seu projeto de lei referente a gastos no valor de US$410 bilhões, e que aguarda ser votado nesta semana. Em grande medida, as provisões são resultado de recomendações contidas num recente “Relatório ao Comitê de Relações Exteriores” [Report to the Committee on Foreign Relations], intitulado “Mudando as Diretrizes para Cuba” e entusiasticamente endossado pelo membro mais graduado daquele comitê, o Senador Republicano Richard Lugar.

Estão ocorrendo evoluções positivas em Cuba”, diz o relatório de Lugar, composto depois que alguns membros de sua assessoria se encontraram com altos funcionários stalinistas cubanos. “Está claro que as recentes mudanças na liderança (cubana) criaram uma oportunidade para os Estados Unidos reavaliarem um relacionamento complexo, marcado por equívocos, suspeição e hostilidade aberta”, declara ainda o relatório do comitê publicado em 24 de fevereiro.

O senador Lugar, tal como deixou patente o expurgo da semana passada, estava incorrigivelmente mal orientado.
 
Em perfeita sintonia com a natureza stalinista do regime cubano – especialmente em sintonia com o governo de Raúl Castro (Raúl trabalhou sob a supervisão de um controlador da KGB desde 1953) – os mais proeminentes dentre os expurgados (Carlos Lage, 56 anos, vice-presidente do Conselho de Estado, e Felipe Roque, 45 anos, Ministro do Exterior) assinaram confissões aparentemente plagiadas dos modelos usados por Zinoviev, Kamenev e Bukharin em 1936 [1].
 
O assassino de Trotsky, Ramon Mercader, a propósito, serviu como “inspetor de prisões” de Cuba nos anos 1960 e foi uma das companhias favoritas, tanto de Raúl Castro, quanto de Che Guevara. Foi enterrado com honras num cemitério de Havana em 1978. Esse túmulo, porém, parece não figurar entre os lugares de visitação mais populares para os 2,4 milhões de turistas canadenses e europeus que visitam Cuba anualmente, e cujos gastos na ilha, estimados em US$2,5 bilhões anuais durante os últimos quinze anos, fornecem o sangue vital para o regime de Castro.
 
Raúl e seus camaradas militares cubanos são donos da maior parte da indústria de turismo de Cuba. O projeto de lei de Obama permite que turistas americanos participem da trama de Raúl e enriqueçam ainda mais o seu regime, enquanto a sua polícia mantém afastados, à base de cassetetes e baionetas, todos os cubanos “não autorizados” que ousem chegar muito perto das cintilantes instalações para turistas.
 
O raciocínio de Obama parece ser o de premiar e enriquecer os muito bem armados – e treinados pela KGB – guardiões do status quo stalinista de Cuba, e magicamente convertê-los em instantâneos opositores do status quo stalinista cubano.
 
Espantosamente, essa linha de raciocínio não consegue convencer aqueles que tiveram experiências de primeira-mão sob o regime cubano. As evidências pouco importam. Como já disse, por quase todos os últimos quinze anos, quase dez vezes mais turistas visitaram Cuba a cada ano do que durante os anos 1950, quando Cuba era então rotulada de “parque de diversões turístico”. Ainda assim, Cuba é tão stalinista hoje quanto o era em 1965. Qualquer gota de moeda estrangeira que chegue aos súditos do regime stalinista (principalmente através da prostituição) é sobrepujada milhares de vezes pelos milhões que entram nos cofres do regime. E nem tudo lá permanece. De acordo com desertores militares de alto escalão, muito desse dinheiro rapidamente acaba indo parar na Espanha e na Suíça.
 
Tal como mencionado na semana passada, os poucos apparatchiks mais jovens e mais flexíveis que galgaram posições no regime foram todos expurgados e substituídos por apparatchiks que já ocupavam postos em 1965. Não procure por isso na grande mídia, mas expurgos semelhantes “re-stalinizaram” o regime cubano pelo menos uma vez a cada década, desde 1959 – e continuarão a acontecer enquanto Fidel e Raúl permanecerem vivos.
 
Se as fontes da grande mídia e do governo americano parecem encabuladas ou completamente mudas no que diz respeito ao último expurgo promovido por Raúl, há uma razão óbvia para isso. Esses órgãos, junto com seus think tanks de estimação e os “especialistas em Cuba” das universidades, nos quais eles confiam para lhes fornecer orientação, temas de conversa e frases de efeito, estão todos compartilhando chapéus-de-burro que já se elevam acima do Monumento a Washington [o famoso obelisco na capital americana, com aprox. 170m de altura]. Chapéus-de-burro particularmente altos coroam o Comitê de Relações Exteriores do Senado, especialmente o seu presidente, o Senador Richard Lugar.
 

Carlos Lage: stalinista mais jovem vitimado pelo expurgo promovido pelos stalinistas mais velhos, ao estilo dos processos de Moscou

Desde a “aposentadoria” de Fidel Castro, em julho de 2006, o nome do recém expurgado Carlos Lage tornou-se um verdadeiro mantra na grande mídia e na academia quando se referiam a Cuba. Ele é um jovem tecnocrata (e não um militar) e um “reformista” da economia, era o que nos asseguravam.
 
Comecemos com um programa no Marketplace da American Public Radio, em 18 de janeiro de 2008:
 
Em março (2008), a Assembléia Nacional de Cuba irá nomear o presidente de Cuba e os especialistas em Cuba predizem, uniformemente, que, pela primeira vez em cinquenta anos, o presidente cubano não será um Castro. Então, quem será ele?”.
 
Será Carlos Lage… Esta é a vez em que a liderança cubana move-se na direção de uma mudança de geração”. (Phil Peters, o frequentemente citado “especialista em Cuba” do Lexington Institute, baseado em Washington, DC)
 
Agora, a prestigiosa BBC, em 21 de fevereiro de 2008:
 
Carlos Lage já é uma espécie de primeiro-ministro de fato... a nova marca cubana será pragmática e flexível”. (Brian Latell é ex-chefe da divisão cubana da CIA e autor de After Fidel: Raul Castro And the Future of Cuba's Revolution [Depois de Fidel: Raúl Castro e o Futuro da Revolução Cubana]).
 
E agora, no Miami Herald, em 02 de fevereiro de 2007:
 
Carlos Lage é a chave em tudo isso. Lage quer ir adiante com as reformas econômicas... Raúl assume e o faz seu braço direito”. (Wayne Smith foi o chefe da missão diplomática americana em Havana no governo do Pres. Jimmy Carter e é diretor do Cuba Program, do Center for International Policy).
 
Mais um giro, agora para o New York Times de 21 de fevereiro de 2008:
 
Fidel e Raúl Castro disseram, em meses recentes, que eles têm uma obrigação não apenas de liderar, mas também de ceder seus lugares a uma geração mais jovem de líderes. No topo da lista de possíveis candidatos a dividir o poder com Raúl Castro ou a tornar-se vice-presidente está Carlos Lage”. (Julia Sweig é especialista em Cuba do Council on Foreign Relations – CFR).
 
Agora, uma olhada na CNN News, em 19 de fevereiro de 2008:
 
Castro está saindo em seus próprios termos, assegurando uma transição suave para o seu irmão e para uma geração mais jovem na liderança de Cuba... tal como o vice-presidente Carlos Lage”. (Peter Kornbluh é analista sênior do National Security Archive, da George Washington University).
 
Um recente samizdat [2] vindo de Cuba relata que, após sua demissão, Carlos Lage permamence sob uma forma de prisão domiciliar em Havana. Aqui está uma parte de sua “confissão”, publicada em Cuba em três de março:
 
Compañero Raúl:
 
Eu reconheço e assumo toda a responsabilidade pelos meus erros. Minha expulsão foi muito justa. Esteja certo de que eu sempre servirei a revolução e sempre permanecerei fiel ao Partido Comunista, a Fidel e a você.
 
Fraternalmente, Carlos Lage Davila”.
 
E, finalmente, uma olhada no Human Events de 21 de fevereiro de 2008:
 
Raúl Castro, a despeito de tudo que vocês estão lendo na grande mídia e ouvindo de seus ‘especialistas’ favoritos, não será aquele que irá perturbar os planos cubanos. Por que os militares cubanos – os barões ladrões de Cuba— iriam, voluntariamente, perturbar seus próprios planos? Nenhum desses ‘especialistas em Cuba’ fornece uma pista. Quanto ao futuro imediato de Cuba, com um coração (muito) pesado, emprestarei um verso dos Talking Heads [3]: ‘Igual ao que sempre foi’”.
 
Publicado originalmente em American Thinker em 10/03/2009.
 
Tradução: Henrique Paul Dmyterko
  

 [1] NT: O autor se refere aos mais conhecidos personagens dos infames Processos de Moscou, farsas públicas montadas por Stalin, onde os acusados, seus ex-aliados na luta intestina pelo poder, invariavelmente acabavam por confessar aquilo que não tinham feito. Foram todos executados.

 
[2] NT: Um samizdat é uma publicação clandestina, quer de literatura, de panfletos políticos ou noticiosos, com origem na antiga URSS.
 
[3] NT: Em tradução literal, cabeças falantes. Nome de um grupo de música pop, mas que faz jogo de palavras com o título original desde artigo: Heads Roll in Havana.

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
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A perversão da retórica, que falseia a lógica e os fatos para vencer o adversário em luta desleal, denomina-se erística. Se a retórica apenas simplifica e embeleza os argumentos para torná-los atraentes, a erística vai além: embeleza com falsos atrativos a falta de argumentos.
‎"O que me leva ao conservadorismo é a pesquisa e a investigação da realidade. Como eu não gosto de futebol, não gosto de pagode, não gosto de axé music, não gosto de carnaval, não fumo maconha e considero o PT ilegal, posso dizer que não me considero brasileiro - ao contrário da maioria desses estúpidos que conheço, que afirma ter orgulho disso". (José Octavio Dettmann)
" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".