por HEITOR DE PAOLA
por Tibiriçá Ramaglio
A revista Cult promove uma tentativa de resgatar do esquecimento a famigerada Marilena Chauí, velhinha de Taubaté do petismo. Deu sua capa à douta senhora, da qual faz a santificação no editorial e no perfil biográfico que antecede a entrevista com a figura, a que chama de "uma das personalidades mais admiráveis do país" e a "maior intelectual" brasileira.
Como não poderia deixar de ser, as respostas de Chauí às perguntas dos entrevistadores desmentem escancaradamente a rasgação de seda, apesar de as perguntas serem feitas sob medida, levantando a bola para a filósofa chutar a gol. Vejamos a primeira pergunta:
"Diante desta crise financeira, a senhora acredita que estamos vivendo um momento histórico privilegiado para a reorganização da esquerda, para a reavaliação de seu conteúdo programático, para as novas formas de mobilização popular? Ou a oportunidade será absorvida pelo redemoinho ideológico do liberalismo, agora em versão 'light', de caráter mais keynesiano?"
Como "maior intelectual do país", evidentemente, Chauí não pode errar o tiro e, para isso, a única resposta que ela poderia formular é "Penso que as duas possibilidades estão dadas", ou seja, sim e não. Com apenas um sim ou um não, ela teria 50% de possibilidades de estar certa, mas com um sim e um não simultâneos, naturalmente, suas chances duplicaram. Será que dona Marilena é uma petista com alma de tucano?
Nem vale a pena continuar a esmiuçar essa resposta, basta dizer que às duas perguntas seguintes, ela também responde textual e respectivamente com um "sim e não" e "Novamente, sim e não", o que também é muito significativo. Mas eu prefiro me ater à primorosa declaração de dona Marilena que está na capa da revista: "É preciso dar um basta à tentativa de caracterizar o presidente como um populista".
O que diz Chauí? "O populismo [...] é a política da classe dominante para exercer o controle sobre as classes populares e/ou sobre a classe média tanto por meio de concessão de benefícios pontuais quanto por meio da figura do governante como salvador e protetor. Ora, todos esses traços estão ausentes do governo Lula: o atual presidente da república não pertence à classe dominante, não concede benefícios pontuais e sim assegura a instituição de direitos com os quais se institui uma democracia, consequentemente, a figura do governante não tem a marca da transcendência, necessária à dimensão salvífica e protetora do dirigente não democrático".
Em poucas palavras, o argumento de dona Marilena se resumiria a "ele não é populista por que não é", uma vez que ela não rebate com base nos fatos a definição que deu de populismo, apenas nega que Lula tenha aquelas características. Seus fundamentos não resistem a um confronto com a realidade.
Lula não pertence à classe dominante? Por quê? Por causa de sua origem de retirante e operário, da qual ele já se afastou há cerca de quatro décadas? Parece que Marilena Chauí considera a condição de retirante/operário como um estado de alma, que unge eternamente quem a possuiu um dia, independente das circunstâncias materiais.
Lula não concede benefícios pontuais? Quer dizer que o bolsa-família é uma forma de assegurar a instituição de direitos com os quais se institui uma democracia? Não é puro assistencialismo clientelista cujo resultado é a perpetuação da dependência do cidadão às esmolas do Estado? Nem o frei Betto acredita nisso, conforme se viu em suas recentes declarações sobre o tema.
Lula não tem a marca da transcendência, necessária à dimensão salvífica e protetora do dirigente não democrático? Será que dona Marilena, tão perspicaz, não percebe a carga conotativa que subjaz ao bordão presidencial "nunca antes na história deste país?" Ainda bem que a tentativa de resgate de Marilena Chauí foi feita pela revista Cult, uma revista que dificilmente há de ser resgatada de sua insignificância.
A revista Cult promove uma tentativa de resgatar do esquecimento a famigerada Marilena Chauí, velhinha de Taubaté do petismo. Deu sua capa à douta senhora, da qual faz a santificação no editorial e no perfil biográfico que antecede a entrevista com a figura, a que chama de "uma das personalidades mais admiráveis do país" e a "maior intelectual" brasileira.
Como não poderia deixar de ser, as respostas de Chauí às perguntas dos entrevistadores desmentem escancaradamente a rasgação de seda, apesar de as perguntas serem feitas sob medida, levantando a bola para a filósofa chutar a gol. Vejamos a primeira pergunta:
"Diante desta crise financeira, a senhora acredita que estamos vivendo um momento histórico privilegiado para a reorganização da esquerda, para a reavaliação de seu conteúdo programático, para as novas formas de mobilização popular? Ou a oportunidade será absorvida pelo redemoinho ideológico do liberalismo, agora em versão 'light', de caráter mais keynesiano?"
Como "maior intelectual do país", evidentemente, Chauí não pode errar o tiro e, para isso, a única resposta que ela poderia formular é "Penso que as duas possibilidades estão dadas", ou seja, sim e não. Com apenas um sim ou um não, ela teria 50% de possibilidades de estar certa, mas com um sim e um não simultâneos, naturalmente, suas chances duplicaram. Será que dona Marilena é uma petista com alma de tucano?
Nem vale a pena continuar a esmiuçar essa resposta, basta dizer que às duas perguntas seguintes, ela também responde textual e respectivamente com um "sim e não" e "Novamente, sim e não", o que também é muito significativo. Mas eu prefiro me ater à primorosa declaração de dona Marilena que está na capa da revista: "É preciso dar um basta à tentativa de caracterizar o presidente como um populista".
O que diz Chauí? "O populismo [...] é a política da classe dominante para exercer o controle sobre as classes populares e/ou sobre a classe média tanto por meio de concessão de benefícios pontuais quanto por meio da figura do governante como salvador e protetor. Ora, todos esses traços estão ausentes do governo Lula: o atual presidente da república não pertence à classe dominante, não concede benefícios pontuais e sim assegura a instituição de direitos com os quais se institui uma democracia, consequentemente, a figura do governante não tem a marca da transcendência, necessária à dimensão salvífica e protetora do dirigente não democrático".
Em poucas palavras, o argumento de dona Marilena se resumiria a "ele não é populista por que não é", uma vez que ela não rebate com base nos fatos a definição que deu de populismo, apenas nega que Lula tenha aquelas características. Seus fundamentos não resistem a um confronto com a realidade.
Lula não pertence à classe dominante? Por quê? Por causa de sua origem de retirante e operário, da qual ele já se afastou há cerca de quatro décadas? Parece que Marilena Chauí considera a condição de retirante/operário como um estado de alma, que unge eternamente quem a possuiu um dia, independente das circunstâncias materiais.
Lula não concede benefícios pontuais? Quer dizer que o bolsa-família é uma forma de assegurar a instituição de direitos com os quais se institui uma democracia? Não é puro assistencialismo clientelista cujo resultado é a perpetuação da dependência do cidadão às esmolas do Estado? Nem o frei Betto acredita nisso, conforme se viu em suas recentes declarações sobre o tema.
Lula não tem a marca da transcendência, necessária à dimensão salvífica e protetora do dirigente não democrático? Será que dona Marilena, tão perspicaz, não percebe a carga conotativa que subjaz ao bordão presidencial "nunca antes na história deste país?" Ainda bem que a tentativa de resgate de Marilena Chauí foi feita pela revista Cult, uma revista que dificilmente há de ser resgatada de sua insignificância.
Publicado originalmente no OBSERVATÓRIO DE PIRATININGA.
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