JAN
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Postado em vergonhas categóricas
“O que se tem agora na Rússia é a KGB no poder”, conclui o historiador britânico, Orlando Figes, autor do diversos livros sobre a Revolução de 17. A constatação se faz após uma pesquisa realizada por uma rede de tevê russa sobre os 100 maiores compatriotas do país. Stalin está entre os finalistas, com mais de 3,5 milhões de votos. É o resultado dos esforços do Kremlin em reescrever a história.
Segundo o partido comunista russo, embora Stalin seja o responsável pela matança de pelo menos 25 milhões de pessoas, os seus erros foram perdoados porque ele fez da Rússia uma superpotência. É o que Trotsky dizia sobre ser preciso quebrar os ovos para fazer omeletes.
Assim um assassino vira santo. Basta apagar os arquivos e reescrever a história como em 1984 de Orwell. A comparação parece exagerada? Pelo contrário. Além da nova versão histórica, ditada pelos livros de Alexander Filipov impostos pelo governo às escolas - onde Stalin é praticamente santificado -, começam a desaparecer misteriosamente documentos dos arquivos de Moscou. São relatos detalhados dos sobreviventes dos campos de concetração sobre suas rotinas de trabalhos forçados, fotos de execuções de dissidentes pela polícia secreta de Stalin, além de mapas dos gulags indicando os locais das sepulturas coletivas dos assassinados pelo regime. E claro, as estatísticas dos mortos pela fome na Ucrânia.
No último dia 17 de dezembro uma manifestação pró-Stalin foi usada como cortina de fumaça para a tentativa de saque ao Memorial de St. Petersburgo, que guarda os dados com nomes e biografias de sobreviventes e dos mortos pelo stalinismo. Os ladrões levaram 11 computadores com todos os arquivos digitalizados, mas a polícia os recuperou. “Eles sabiam muito bem o que roubavam”, diz a diretora do Memorial, Irina Flige. Todos os arquivos estão em poder da polícia e Flige diz não ter a menor idéia de quando os terão de volta. Há uma tentativa deliberada do estado para reconstruir a história, por isso, “os arquivos podem ser danificados, senão deliberadamente, por algum acidente”, garante a diretora.
Alexander Danilov, editor do novo manual escolar que postula o status de herói a Stalin, acredita que a idéia de limpar a imagem do ex-ditador partiu do então presidente - agora primeiro ministro - Vladimir Putin. “Isto está totalmente de acorco com o curso político tomado nos últimos oito anos, que é dedicado a unir a sociedade”.
É a nova edição do velho e surrado “comunistas do mundo, uni-vos”. Mas não seria diferente se os alemães decidissem unir a sociedade exaltando Hitler como herói.
Como na estória de Orwell, “…quem controla o passado, controla o futuro; quem controla o presente, controla o passado.” Afinal, “o partido dizia que a Oceania jamais fora aliada da Eurásia. Ele, Winston Smith, sabia que a Oceania fora aliada da Eurásia não havia quatro anos. Onde, porém, existia esse conhecimento? Apenas em sua consciência, o que em todo caso deveria ser logo aniquilado. E se todos os outros aceitassem a mentira imposta pelo Partido - se todos os anais dissessem a mesma coisa - então a mentira se transformava em história, em verdade.”
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Aqui, matéria da BBC sobre a preferência de Stalin pelos russos;
e aqui, o Chicago Tribune conta como Putin tenta reescrever a história e transformar Stalin num anjo.
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