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quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Teresa de Frei Beto, não Santa Teresa de Ávila

Do BLOG DO ANGUETH
Postado por Antonio Emilio Angueth de Araujo, domingo, setembro 07, 2008

Frei Beto, em artigo de jornal semana passada (tive o desprazer de ler o artigo no Estado de Minas de 04/09/2008), cria um personagem chamado Teresa que ele tenta fazer parecer com a grande santa e doutora da Igreja.

A personagem é uma revolucionária anti-paulina. Afrontou e venceu a maldosa inquisição e finalmente deixou um legado de libertação. Isso tudo ele descobriu em Bananeiras (PB), num convento das Carmelitas Descalças, que teve a desventura de receber esse herege para pregar um retiro.

Ele comenta que “Entre 1558 e 1560 seis teólogos a mantiveram sob observação, prontos a desmascarar o demônio que estaria por trás da espiritualidade dela ...” Isso é verdade e demonstra todo o cuidado que a Igreja tinha em se certificar da procedência dos fenômenos espirituais. Isso se chama exercitar o “discernimento dos espíritos”, conceito, por ironia, paulino e que é uma das coisas preciosas que a Igreja mantém. Aliás, para os leitores desse blog, vai aí uma sugestão de leitura muito interessante sobre assunto: Mystical Phenomena Compared with Their Human and Diabolical Counterfeits. Desnecessário dizer que esse frei nunca leu tal livro. Se ele o tivesse lido, veria que era obrigação da Igreja ter o cuidado que teve com Teresa.

Mas notemos as reticências ao final da frase de frei Beto. Não posso deixar de escutar o riso de sarcasmo desse frei: “esses teólogos medievais que ainda acreditavam no demônio! Que coisa mais ultrapassada!” Claro, os modernistas hereges não acreditam no demônio ou, no máximo, acham que isso é apenas uma metáfora.

O frei cita também várias passagens do livro “Vida” da santa Teresa de Ávila, onde ela comenta sobre as suspeitas da Igreja a respeito de seus relatos espirituais. Esse livro foi escrito por imposição da Igreja e se destinava somente aos teólogos que estavam analisando o “caso” de Teresa. Daí se vê, de antemão, como era revolucionária essa santa: a Igreja mandava e ela ... obedecia!!!!

Mas será que a grande santa e doutora da Igreja obedecia cegamente, como aqueles medievais retrógrados? Vejamos o que diz santa Teresa sobre suas experiências místicas:
“Pois em começando a fugir das ocasiões e a dar-me mais à oração, começou o Senhor a fazer-me as mercês como quem desejava – segundo parecia – que eu as quisesse receber. Começou Sua Majestade a dar-me, muito de ordinário, oração de quietude e muitas vezes a de união que durava muito tempo. Como nesses tempos tinha acontecido haver grandes ilusões em mulheres e enganos a que as tinha levado o demônio, comecei a temer, pois era tão grande o deleite e a suavidade que sentia, e muitas vezes sem o poder evitar, ainda que por outra parte, visse em mim uma grande segurança de que aquilo era Deus, em especial quando estava em oração, e que saía dela muito melhorada e com mais fortaleza. Mas, em me distraindo um pouco, tornava a temer e a pensar se o demônio quereria – fazendo entender que aquilo era bom – suspender-me o entendimento para me tirar a oração mental e não pudesse pensar na Paixão nem me aproveitar do entendimento. Isto me parecia a mim maior perda, pois não o compreendia.” (Vida, XXIII, 2)

A grande santa acreditava no demônio, ao contrário dos modernistas. A grande santa tinha também dúvidas. Mas, quem não as teria? Maria, quando ouviu as palavras do anjo na Anunciação “perturbou-se e discorria pensativa que saudação seria esta.” (Lc. 1, 29.) Se mesmo a Virgem Santíssima, ao ver o anjo, perturbou-se, quem ao ter as experiências que teve Teresa não duvidaria? Mas o que fez Teresa, então? Vamos deixar que ela nos conte: “Mas como sua Majestade já me queria dar luz para que não O ofendesse e conhecesse o muito que Lhe devia, cresceu este medo de tal sorte que me fez buscar com diligência pessoas espirituais com quem tratar.” (Vida, XXIII, 3) Vê-se então que Teresa procurou ajuda, porque o Senhor fez o medo dela crescer! E ela procurou ajuda na Companhia de Jesus, como ela narra no livro.

Contada assim, a história fica sendo bem outra. A Igreja se preocupou com a experiência mística de Teresa tanto quanto ela própria se preocupou. Teresa morreu em 1582 e foi canonizada em 1614. Um tempo relativamente curto para a época. Isso mostra o reconhecimento da Igreja, depois de muito analisar, sobre a origem divina da experiência de Teresa. A propósito, o frei diz, no artigo, que Teresa “transvivenciou” em 1582. A morte para o frei é “transvivenciar”. O meu Word está reclamando dessa palavra e meu Aurélio não registra tal verbete. Isso é coisa de revolucionário que tem medo da morte! E deve tê-lo mesmo! Vocês já imaginaram a expressão: Jesus transvivenciou na cruz!

A Teresa de Ávila foi, ao longo de sua vida, completamente submissa à Igreja, obediente em tudo à Esposa de Cristo. A Teresa do frei era revolucionária. E mais, anti-paulina. São Paulo, em (1Cor. 14, 34-35), diz (cito como aparece no artigo): “As vossas mulheres estejam caladas nas igrejas; porque não lhes é permitido falar; mas estejam sujeitas, como também ordena a lei. E, se querem aprender alguma coisa, interroguem em casa seus próprios maridos; porque é vergonhoso que as mulheres falem na igreja”. Daí o frei diz “que Paulo VI [o grande papa dos modernistas] ousou discordar do apóstolo e proclamar Teresa ‘doutora da Igreja’. Militante da fé, reformadora e fundadora, ela não se calou na Igreja e lutou em prol da liberdade religiosa das contemplativas e se assumiu com mestra espiritual.”

Quem lê isso pode pensar que Teresa de Ávila celebrava missa, ou fazia leituras lá do altar, como fazem os atuais “ministros da eucaristia”. Nada disso aconteceu! Ela foi muitíssimo paulina. Citava o apóstolo constantemente em seus escritos. Quanto a ser uma lutadora pela liberdade religiosa, isso ela foi: liberdade de ser católica, de ser enclausurada, de ser monja carmelita! Lutar pela liberdade religiosa naquela época, na acepção modernista do frei, teria sido ser ecumênica, ou seja, dizer, como dizem os modernistas, que há salvação fora da Igreja católica. Se Teresa tivesse dito isso ela não teria sido santa, mas sim herege.

O frei deixa o melhor para o final do artigo, quando diz: “A grande revolução operada por Teresa na espiritualidade foi justamente inverter os pólos: não são os nossos méritos que nos tornam mais próximos de Deus, e sim nossa capacidade de nos fazer mais próximos de nossos semelhantes e nos abrir ao amor gratuito de Deus.”

O frei não se satisfaz com a revolução marxista que ele ajudou a fazer em Cuba e com a que ele está ajudando a fazer aqui no Brasil. Ele quer mais; ele quer uma revolução na espiritualidade também! Quanto aos pólos que foram supostamente invertidos, que católico antes de Teresa afirmava que nossos méritos é que nos tornam mais próximos de Deus? Que católico antes e depois de Teresa, católico digno do nome, não acredita que a Graça de Deus sopra onde quer? Meu Deus! De que catolicismo esse frei está nos falando? Para citar só um exemplo anterior a Teresa, e só para ficar com outra doutora da Igreja, santa com a Graça dos estigmas, que também tinha experiências místicas fenomenais, vou citar Santa Catarina de Sena. Ela diz ter ouvido de Deus o seguinte (O Diálogo, 2.5): “Vou explicar-lhe agora que toda virtude se realiza no próximo, bem com todo o pecado. (...) Todo e qualquer auxílio prestado ao próximo deve provir do amor que se tem por aquela pessoa, mas como conseqüência do amor que se tem por mim. Da mesma forma, todo mal se realiza no próximo, e quem não me ama, também não tem amor pelos outros.” O inferno PODE ser os outros, como não disse Sartre!!!!

Para terminar vou contar a esse frei enganador quem é que fez a tal revolução espiritual que ele procura em Santa Teresa. Ele ainda não percebeu quem foi o grande revolucionário espiritual, para usar as palavras dele. Isso acontece porque ele não é católico, porque se afastou de Deus. E quem se afasta de Deus, perde, pouco a pouco, as faculdades da alma, que, segundo Santa Catarina de Sena, são a memória, a inteligência e a vontade. Mas o revolucionário espiritual procurado foi Jesus de Nazaré. E qual sua credencial de revolucionário? Obediência ao Pai até a Sua morte no madeiro, por amor a nós. Nos amou por causa do Pai e em obediência a Ele!

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
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" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".