Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro concede Medalha Tiradentes a Olavo de Carvalho. Aqui.

domingo, 28 de setembro de 2008

Hora e vez da lealdade

Do ESTADÃO
Mauro Chaves, sábado, 27 de Setembro de 2008 

"A lealdade é o bem mais sagrado do coração humano", dizia Sêneca.
"Um grama de lealdade vale um quilo de inteligência", dizia Elbert Hubbard.
"A lealdade refresca a consciência, a traição atormenta o coração", dizia o marquês de Maricá.
"A lealdade dá tranqüilidade ao coração", dizia William Shakespeare.
"Falta de lealdade é uma das causas principais de fracasso em todo o caminhar da vida", dizia Napoleon Hill.
"A lealdade é o caminho mais curto entre dois corações", dizia José Ortega y Gasset.
"A lealdade é um dos pilares que sustentam o real valor do homem", dizem os textos judaicos.
"Reserva um lugar proeminente para a lealdade e a sinceridade", dizem os textos confucionistas.

De todos os valores que têm sido destroçados no seio da sociedade brasileira, nos últimos tempos, o que mais sintetiza os valores perdidos é o da lealdade. A ambição individual desmedida, o oportunismo carreirista, o medo de enfrentar a luta política desabrigado de algum cargo notório, o rompimento de compromissos e alianças pela conquista de um cargo, os golpes baixos desferidos contra quem se apoiou - e não mudou -, o fomento da desunião sob o aleivoso disfarce da tentativa de união, a traiçoeira associação da imagem do adversário a figura desgastada (de quem se recebe apoio por baixo do pano), o ataque rasteiro aos que crescem graças à própria competência e não se deixam conduzir por marqueteiros para um lado ou para o outro, feito biruta de aeroporto, os ataques desleais lançados para se conseguir, mesmo que só momentaneamente, uns pontinhos nas pesquisas, julgando que depois é só recuar e "tudo bem", o ato de se tornar "cavalo de Tróia" a serviço de rival correligionário de outra região são fraquezas que no cenário da vida política cabocla agridem fundo o valor da lealdade.

Quando o instituto Vox Populi atesta que apenas 3% dos brasileiros acham que é possível confiar nos outros, enquanto nas democracias civilizadas esse porcentual de confiança chega a 65%, é o valor da lealdade que escorreu pelo ralo social, como "nunca antes na História deste país". Por sobre todas as tramóias dos mensaleiros, dos sanguessugas, dos vampiros, dos portadores de dinheiro vivo "não contabilizado", dos carregadores de dólares na cueca, dos aloprados produtores de "dossiês", dos aplicadores de grampos ilegais, dos fritadores de companheiros de governo, dos certeiros utilizadores de "fogo amigo", o que mais transparece é a deslealdade plena, geral e irrestrita que, como praga, assola o País. A espionagem, a delação, os vazamentos, as difamações cuidadosamente plantadas e cultivadas se originam ou robustecem com a compra de informações de confidentes de inimigos - o que só é possível quando o fator deslealdade cresce e se agiganta.

Se fosse para escolher o tema predominante nas novelas de televisão do Brasil, onde pululam as chantagens, os golpes baixos, as traições entre parentes e amigos, as maquinações para demolir a imagem do concorrente, o cinismo com que se disfarça a inveja que se tem dos bem-sucedidos e pequenezas assemelhadas, sem dúvida o termo deslealdade resumiria bem tudo isso. Diga-se o mesmo quanto aos programas do tipo "reality show" em que a deslealdade é sempre o trunfo de que se lança mão para seduzir os amigos dos inimigos, é o instrumento da tentativa de implosão, em proveito próprio, do que há de leal, de solidário e de harmônico entre adversários e seus aliados. No campo político-policial é a carcomida bandeira moral da grampolândia, do "criptogoverno que é uma ameaça ao Estado de Direito e à democracia", como já disse, neste espaço, Celso Lafer.

Agora, se a lealdade é o bem que se tornou mais escasso em nosso cenário público-político, certamente será um dos elementos decisivos para a escolha nas eleições que se avizinham. Com toda a probabilidade será valorizado aquele que cumpriu à risca o programa combinado com os aliados, que deu seqüência, com determinação e coragem, ao que dele se esperava. O eleitorado tem consciência de que a recuperação da lealdade pode significar o início da reconstrução de tantos outros valores, para as atuais e futuras gerações. O valor do esforço do aprendizado, o valor do espírito público colocado acima do carreirismo político, o valor do reconhecimento aos que se empenharam em seguir o rumo certo, o valor dos que não temem afrontar os usurpadores dos espaços coletivos, todos esses e tantos outros valores poderão ressurgir se prevalecer a bandeira generosa da lealdade.

Vivemos um momento em que as novas gerações nem têm idéia do que significava o compromisso assentado só no fio da barba - ou do bigode -, de tempos passados, em que os homens públicos sabiam bater em retirada, tirando o chapéu da chapeleira e o colocando na cabeça no rumo da porta de saída, caso percebessem que não tinham mais apoio do próprio grupo político. Hoje em dia, os que por ambição pessoal se tornam reincidentes em produzir cizânia e rachas partidários, estes falam despudoradamente em "união" em pleno estado de implosão - que provocaram - e insistem em anunciar o recebimento de apoios que não recebem, com o que apenas aumentam o constrangimento, a "saia-justa" de quem não deposita neles um mínimo de confiança.

Sim, ao chegar à urna eletrônica e digitar os números dos candidatos, o eleitor poderá observar bem a feição e o sorriso de cada um, para detectar qual semblante lhe parecerá mais leal. Perderá ele a grande oportunidade de fulminar o festival de deslealdades que assola o País? 

Mauro Chaves é jornalista, advogado, escritor, administrador de empresas e pintor. E-mail: mauro.chaves@attglobal.net

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
"Para conseguir sua maturidade o homem necessita de um certo equilíbrio entre estas três coisas: talento, educação e experiência." (De civ Dei 11,25)
Cuidado com seus pensamentos: eles se transformam em palavras. Cuidado com suas palavras: elas se transformam em ação. Cuidado com suas ações: elas se transformam em hábitos. Cuidado com seus atos: eles moldam seu caráter.
Cuidado com seu caráter: ele controla seu destino.
A perversão da retórica, que falseia a lógica e os fatos para vencer o adversário em luta desleal, denomina-se erística. Se a retórica apenas simplifica e embeleza os argumentos para torná-los atraentes, a erística vai além: embeleza com falsos atrativos a falta de argumentos.
‎"O que me leva ao conservadorismo é a pesquisa e a investigação da realidade. Como eu não gosto de futebol, não gosto de pagode, não gosto de axé music, não gosto de carnaval, não fumo maconha e considero o PT ilegal, posso dizer que não me considero brasileiro - ao contrário da maioria desses estúpidos que conheço, que afirma ter orgulho disso". (José Octavio Dettmann)
" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".