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quinta-feira, 3 de julho de 2008

A “mão invisível” e o “espírito animal”

Do portal MÍDIA SEM MÁSCARA
por João Luiz Mauad em 01 de julho de 2008

Resumo: A metáfora da mão invisível não pretende explicar que o mercado seja um sistema intrinsecamente perfeito, imune a falhas, ineficiências ou má administração, que funciona independentemente do bom planejamento, gerenciamento, controle, etc.

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“It is much simpler to buy books than to read them and easier to read them than to absorb their contents.”

(William Osler)

É dura a vida de quem se propõe a falar sobre o que não está perfeitamente informado, especialmente quando se pretende criticar. Diz a lenda que alguns dos autores mais comentados de todos os tempos só foram lidos por muito poucos. Entre esses autores, estão os economistas Karl Marx, Adam Smith, John M. Keynes e Joseph Schumpeter, dentre outros menos cotados. O problema maior, nesses casos, é que a ignorância, combinada com julgamentos afoitos e precipitados, é o caminho mais curto para o dogmatismo.

Em recente artigo para a revista Veja, em que pretendeu defender uma espúria reserva de mercado para os administradores públicos, meu colega Stephen Kanitz cometeu alguns deslizes conceituais, deixando claro que, em algumas de suas críticas, falava do que não conhecia, ou melhor, que ouvira o galo cantar mas não sabia exatamente onde nem por quê.

Num texto de viés evidentemente intervencionista, o autor procura desqualificar os mecanismos de livre mercado, em prol de uma ideologia estatizante. Em um dos trechos do citado artigo, podemos ler o seguinte:

“Os seguidores de Adam Smith acham que os administradores em nada contribuem para a riqueza das nações. Eles acreditam que produtos chegam a nosso lar na hora certa, na quantidade certa, ao custo certo graças à "mão invisível" do seu deus "mercado". Outros acadêmicos, como Joseph Schumpeter e John Maynard Keynes, acham que o crescimento depende do "espírito animal" dos empresários e empreendedores com boas idéias, e não dos administradores que as fazem acontecer. Uma afronta a todo administrador.”

Ora, qualquer um que já tenha lido “A Riqueza das Nações” sabe perfeitamente que a imagem da “mão invisível” não tem qualquer similitude com aquilo que foi descrito pelo senhor Kanitz. Adam Smith jamais escreveu que a produção, a distribuição e a comercialização de produtos se dessem sem planejamento, gerenciamento e trabalho árduo. O escocês nunca diria semelhante bobagem. O que ele, textualmente, disse foi que "todo indivíduo está continuamente empenhado em descobrir os mais vantajosos empregos para os capitais sob seu comando. É o próprio lucro que ele tem em vista, e não o da sociedade. Porém, ao examinar o que melhor lhe convém, ele naturalmente, ou melhor, necessariamente, acaba preferindo aquele emprego que é mais vantajoso para a sociedade" .

Na passagem em que Adam Smith escreve sobre a mão invisível, ele diz, literalmente, o seguinte: “Orientando sua atividade de tal maneira que sua produção possa ser de maior valor, [o empreendedor] visa apenas a seu próprio ganho e, neste, como em muitos outros casos, é levado como que por uma mão invisível a promover um objetivo que não fazia parte de suas intenções. Aliás, nem sempre é pior para a sociedade que esse objetivo não faça parte das intenções do indivíduo. Ao perseguir seus próprios interesses, o indivíduo muitas vezes promove o interesse da sociedade muito mais eficazmente do que quando tenciona realmente promovê-lo.

Esse é o verdadeiro sentido da famosa – porém não menos mal compreendida – “mão invisível”. É pela busca constante de seus próprios interesses que o empreendedor fomenta o interesse geral da sociedade, e não pela sua benevolência. O contexto da mão invisível não tem, portanto, qualquer tradução de falta de planejamento, execução ou controle administrativo. Em sua mais famosa sentença, Smith escreve que “Não é da benevolência do padeiro, do açougueiro ou do cervejeiro que eu espero que saia o meu jantar, mas sim do empenho deles em promover seu próprio negócio”.

A metáfora da mão invisível, portanto, não pretende explicar que o mercado seja um sistema intrinsecamente perfeito, imune a falhas, ineficiências ou má administração, que funciona independentemente do bom planejamento, gerenciamento, controle, etc. Pelo contrário, o mercado só funciona porque é um sistema extensiva e racionalmente planejado e bem administrado. Só que a administração capitalista se dá de forma pulverizada, através da ação de cada indivíduo. As pessoas planejam comprar imóveis, automóveis, eletrodomésticos, alimentos, roupas e tudo mais. Planejam que tipo de trabalho querem fazer e, conseqüentemente, que profissões deverão abraçar, bem como a quem devem oferecer as habilidades específicas que possuem. As empresas, por seu turno, planejam produzir novos produtos ou descontinuar os existentes; planejam alterar seus métodos produtivos ou continuar usando os atuais; planejam abrir filiais ou fechá-las; contratar novos trabalhadores ou demitir os atuais; aumentar seus estoques ou diminuí-los; fazer novos investimentos ou não.

De acordo com o professor George Reisman, "um gigantesco e extensivo planejamento econômico privado não somente existe, mas é totalmente coordenado, integrado e harmônico no capitalismo". Todo esse planejamento, dos indivíduos, das famílias e das empresas, está regulado por um mecanismo sólido, autônomo e extremamente eficiente, denominado "sistema de preços". Quem quer que planeje adquirir bens e serviços, de qualquer natureza, irá inevitavelmente considerar os respectivos preços e estará sempre pronto a mudar os seus planos em função das oscilações do mercado. Também os que pretendem vender alguma coisa levarão em conta a receita que podem auferir e estarão prontos a alterar seus planos na eventualidade de mudança nos preços praticados.

Kanitz mistura alhos com bugalhos quando pretende tirar o mérito dos empreendedores, que assumem os riscos do investimento, e entregá-lo aos administradores. A contribuição do trabalho destes últimos para o desenvolvimento econômico é tão importante quando o de qualquer outro profissional qualificado. Ou será que ele acha que administradores são mais importantes do que, sei lá, engenheiros ou médicos? No extenso processo de divisão do trabalho, todos têm sua contribuição a dar e não é porque sou formado em administração que vou achar que o meu trabalho é mais importante do que o dos demais.

Quando Schumpeter e Keynes se referiram ao “espírito animal” dos empresários, eles não falavam de habilidade e destreza profissional apenas, mas de obstinação, arrojo, ousadia, coragem para assumir riscos, espírito de liderança, capacidade de agregação, realização, inovação, etc. São os indivíduos que possuem essas virtudes que fazem as coisas acontecer, não os administradores. É evidente que um administrador pode ser um ótimo empresário. Mas nada justifica que se pense que os conhecimentos e habilidades de um bom administrador são suficientes para que ele se transforme num empreendedor de sucesso, pois isso depende de muitas outras virtudes, como vimos acima. Em resumo, regras e princípios administrativos são ferramentas poderosas nas mãos de um bom empresário, mas estão longe de serem suficientes.

O autor é empresário e formado em administração de empresas pela FGV/RJ.

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
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‎"O que me leva ao conservadorismo é a pesquisa e a investigação da realidade. Como eu não gosto de futebol, não gosto de pagode, não gosto de axé music, não gosto de carnaval, não fumo maconha e considero o PT ilegal, posso dizer que não me considero brasileiro - ao contrário da maioria desses estúpidos que conheço, que afirma ter orgulho disso". (José Octavio Dettmann)
" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".