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segunda-feira, 7 de julho de 2008

Ainda a hegemonia

Do portal do OLAVO DE CARVALHO
Por Olavo de Carvalho em 03 de julho de 2008

Um dos princípios fundamentais do marxismo é a união indissolúvel do conhecimento e da ação revolucionária. Quaisquer que sejam os erros da teoria, eles acabam sendo neutralizados, na prática, pela constante revisão da estratégia à luz da experiência adquirida pelo “intelectual coletivo” (o Partido) na sua luta pela conquista do poder absoluto e pela destruição final do adversário.

A intensidade do esforço intelectual coletivo, organizado e voltado a objetivos mensuráveis, dá aos partidos de esquerda uma capacidade de ação concentrada, orgânica, que seus adversários no campo liberal e conservador nem de longe conseguem emular, e no mais das vezes nem mesmo conceber.

Na verdade, a simples necessidade de adestrar os intelectuais e organizá-los para uma ação cultural integrada é algo que jamais passou pelas cabeças dos nossos “direitistas”. No máximo, o que concebem é uma pura “disputa de idéias”, como se, uma vez demonstrada em teoria a superioridade intrínseca da livre empresa, a militância socialista se dissolvesse por si, cabisbaixa e arrependida, desistindo para sempre de suas ambições revolucionárias.

Nem de longe suspeitam que, na voragem da ação política, as “idéias” podem vir a representar um papel bem diverso – ou até inverso – daquilo que parecem anunciar pelo seu mero conteúdo. O “intelectual coletivo”, consciente dessa diferença bem como do fato de que os direitistas em geral a ignoram, diverte-se sadicamente, num jogo de gato e rato, fazendo as idéias mais ortodoxamente direitistas trabalharem pela glória e triunfo do esquerdismo.

A aposta unilateral dos liberais no “enxugamento do Estado”, inspirada em considerações econômicas e morais perfeitamente verazes e justas em si mesmas, mas amputadas de toda conexão com a estratégia política e cultural, só tem servido para transferir as prerrogativas do Estado para as ONGs esquerdistas, quando não para organismos internacionais perfeitamente afinados com o esquerdismo.

A idéia abstrata de “lei e ordem”, inteiramente correta, mas letal quando desligada do respectivo quadro cultural e estratégico, levou muitos liberais a colaborar servilmente na derrubada de Fernando Collor, a entronizar portanto a esquerda como detentora das virtudes morais por antonomásia e a dar-lhe por essa via os meios de elevar a corrupção a alturas que o ex-presidente não poderia nem mesmo imaginar.

Não houve então um só intelectual esquerdista que, vendo o decano liberal Roberto Campos sair do hospital em cadeira de rodas para ir votar contra Collor, não se lembrasse, com enorme satisfação, da máxima de Lênin que recomenda fazer o adversário lutar contra si próprio. E não houve um só deles que não enxergasse, no sepultamento político do ex-presidente, o prenúncio da iminente ascensão petista.

Já assinalei também, nestes artigos, a facilidade com que, em prol da liberdade de mercado, liberais e conservadores admitem negociar – ou ceder de graça – os princípios morais e culturais que geraram essa liberdade e sem os quais ela não subsiste senão como etapa de transição para o socialismo.

A “direita” deixa-se conduzir porque não tem nenhuma visão ou plano de conjunto, apenas o apego a pontos de detalhe que, de um modo ou de outro, sempre podem ser manejados para encaixar-se na estratégia abrangente da esquerda.

Para que tivesse essa visão ou plano, a direita precisaria ter formado uma genuína militância intelectual habilitada, no mínimo, a acompanhar as discussões internas da esquerda e a prever o curso das manobras estratégicas que ali se preparam.

Mas como esperar que os intelectuais da direita enxerguem o futuro, se não querem nem mesmo olhar para o passado e o presente? Participei de muitos Fóruns da Liberdade, em Porto Alegre – a maior concentração de inteligências liberais e conservadoras que já se viu no Brasil – e jamais ouvi ali uma única palavra sobre o Foro de São Paulo, exceto saída da minha própria boca.

Enquanto os liberais e conservadores discutiam em abstrato o sistema econômico e a estrutura do Estado, a esquerda construía, diante dos seus olhos cegos, a maior e mais poderosa organização política – político-militar, na verdade – que já existiu no continente.

E, cada vez que falo em criar uma intelectualidade, eles me olham como se eu fosse um professor de abstratices, a quem se pode ouvir com reverência polida, mas jamais levar a sério no campo da “prática”, que eles consideram o seu terreno próprio. Como se fosse muito prático teimar no erro e perder sempre.

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
"Para conseguir sua maturidade o homem necessita de um certo equilíbrio entre estas três coisas: talento, educação e experiência." (De civ Dei 11,25)
Cuidado com seus pensamentos: eles se transformam em palavras. Cuidado com suas palavras: elas se transformam em ação. Cuidado com suas ações: elas se transformam em hábitos. Cuidado com seus atos: eles moldam seu caráter.
Cuidado com seu caráter: ele controla seu destino.
A perversão da retórica, que falseia a lógica e os fatos para vencer o adversário em luta desleal, denomina-se erística. Se a retórica apenas simplifica e embeleza os argumentos para torná-los atraentes, a erística vai além: embeleza com falsos atrativos a falta de argumentos.
‎"O que me leva ao conservadorismo é a pesquisa e a investigação da realidade. Como eu não gosto de futebol, não gosto de pagode, não gosto de axé music, não gosto de carnaval, não fumo maconha e considero o PT ilegal, posso dizer que não me considero brasileiro - ao contrário da maioria desses estúpidos que conheço, que afirma ter orgulho disso". (José Octavio Dettmann)
" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".