Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro concede Medalha Tiradentes a Olavo de Carvalho. Aqui.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

O GOVERNO E A INFLAÇÃO

Do portal do NIVALDO CORDEIRO
21/05/2008


Em seu último programa de rádio o presidente Lula declarou: "A inflação é uma obrigação de todo brasileiro, que deve cuidar para que ela não aconteça. Sabe, é do trabalhador que compra, da dona de casa que compra, do empresário que produz, do atacadista que vende, do varejista e do governo". Ontem Lula voltou ao tema, e podemos ler sua posição sobre o assunto, no Estadão de hoje: “
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez ontem um alerta para os riscos da volta da inflação no País, destacando que ela representa 'a pior desgraça’ para os assalariados. Em discurso feito no anúncio de obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), na favela de Heliópolis, ele destacou: ’Não podemos deixar a inflação voltar’. E eximiu seu governo de maior responsabilidade. 'E a culpa não é do governo, não. A culpa é de quem compra e de quem vende, de quem governa e de quem não governa.'’

Não se surpreenda o leitor, mesmo que leigo em matéria de ciência econômica, que perceberá a contradição abissal entre os fatos, a análise presidencial e o que fará o governo sobre o assunto. Mesmo um leigo sabe que essa afirmação de Lula contra a inflação não passa de peça de retórica. A inflação é um fenômeno monetário e, enquanto tal, de responsabilidade exclusiva do emissor de moeda, no caso o Governo Federal. Não é o povoo trabalhador que compra, a dona de casa que compra, o empresário que produz, o atacadista que vende e o varejistao responsável por ela, mas o próprio presidente da República, em última análise. O povo que forma preços os pratica no mercado e apenas sofre os efeitos do fenômeno, sobre o qual não tem poder algum.

A afirmação de Lula é uma completa inversão da realidade, a reconstrução da mesma no mundo da fantasia. Quem observa a cena da política brasileira sabe que uma bomba-relógio inflacionária foi armada desde que Lula assumiu, basicamente em virtude de dois fatos: os elevados e crescentes gastos do Estado (nas três esferas de poder) e a generosa política salarial. O terceiro fator, que costuma acelerar o processo inflacionário, o câmbio, por enquanto está neutralizado, mas saberá Deus por quanto tempo. Mesmo com o câmbio neutralizado o que vemos é a contínua expansão dos índices de preços. A alta generalizada de preços poderá formar um cenário em que a inflação de 2008 poderá encostar na casa dos dois dígitos, mesmo sem crise cambial. Seria uma catástrofe, o país perderia a grande conquista das últimas décadas, que foi debelar a inflação.

Bem sabemos o que significa a sua volta. Dificilmente esse governo, pela crença que tem, pelo discurso que prega, pelos compromissos assumidos com seus acólitos e com o descompromisso com a coisa pública reverterá as políticas que estão determinando a volta da inflação, pelo menos não antes das eleições de 2010. Quando os indicadores macroeconômicos sinalizarem o agravamento do déficit público e os preços saírem do controle, com impactos sobre a opinião pública, é de se esperar que Lula e seu partido venham fazer o que todos os esquerdistas costumam fazer: culpar as vítimas pela causa dos males. A tentação de utilizar as vias heterodoxas para segurar os índices será grande e a primeira delas certamente será o controle governamental de preços. Esse filme já o vimos antes por aqui, está a acontecer neste momento na Venezuela e na Argentina, com as nefastas conseqüências de costume: desabastecimento, redução da produção, empobrecimento generalizado. E mais inflação.

O cuidado com a inflação é obrigação do governo, ao contrário do que disse Lula, e não do povo. Para isso existe um Banco Central, que tem o monopólio da emissão de moeda. Mas este organismo, sozinho, é impotente para segurar os preços mesmo que faça a coisa certa, aquilo que dele se espera, que é o controle da liquidez sistêmica. A inflação também reflete a tentativa de abolição da lei da escassez, o sonho impossível de todo esquerdismo. Um exemplo grave é a política salarial. Os economistas costumam medir a relação taxa de câmbio/taxa de salário como determinante da absorção da economia. Um desequilíbrio aqui provoca a crise cambial, que já está a caminho. E outro efeito é que a taxa de salário determina diretamente a formação dos preços.

Não haverá como segurar a inflação com a política de salário mínimo instituída. E não haverá como segurar gastos públicos também, vez que o salário mínimo regula boa parte da remuneração das aposentadorias e dos funcionários do Estado. Essa generosidade é populista no limite e está cobrando seu preço com a elevação dos preços. E a Petrobrás não terá como segurar a elevação dos preços internacionais do petróleo. Portanto, as pressões inflacionárias chegam de todos os lados. O povo não tem como se defender disso. É o governo que precisa fazer a sua parte, segurando emissão de moeda.

Está chegado a hora de demonstrar que o projeto esquerdista de poder é irracional e insustentável no tempo, mesmo que haja uma conjuntura internacional favorável como a que vivemos. É a hora de provar que Lula não é um estadista e que com o poder não se pode ser leviano. Entendo que não há mais tempo para bondades governamentais, é chegada a hora da onça beber água. O índice geral de preços é o melhor termômetro para medir essa doença degenerativa do organismo que é o esquerdismo. É chegada a hora mais silenciosa, aquela em que os populistas nada terão a dizer que não sandices, como aquelas do Lula citadas acima. Suas teorias, sua retórica e sua suposta boa intenção mostrarão sua verdadeira face: incompetência, despreparo, irresponsabilidade e incapacidade de viver a realidade como ela é. A lei da escassez afinal sempre haverá de se impor.

Haverá choro e ranger de dentes.

Um comentário:

Anônimo disse...

Meurmão, tem outro prêmio merecido para você lá no clausewitz... obrigado por tudo e parabéns... abração

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
"Para conseguir sua maturidade o homem necessita de um certo equilíbrio entre estas três coisas: talento, educação e experiência." (De civ Dei 11,25)
Cuidado com seus pensamentos: eles se transformam em palavras. Cuidado com suas palavras: elas se transformam em ação. Cuidado com suas ações: elas se transformam em hábitos. Cuidado com seus atos: eles moldam seu caráter.
Cuidado com seu caráter: ele controla seu destino.
A perversão da retórica, que falseia a lógica e os fatos para vencer o adversário em luta desleal, denomina-se erística. Se a retórica apenas simplifica e embeleza os argumentos para torná-los atraentes, a erística vai além: embeleza com falsos atrativos a falta de argumentos.
‎"O que me leva ao conservadorismo é a pesquisa e a investigação da realidade. Como eu não gosto de futebol, não gosto de pagode, não gosto de axé music, não gosto de carnaval, não fumo maconha e considero o PT ilegal, posso dizer que não me considero brasileiro - ao contrário da maioria desses estúpidos que conheço, que afirma ter orgulho disso". (José Octavio Dettmann)
" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".