Por Percival Puggina em 26 de dezembro de 2007
Resumo: A conversa fiada do “bloqueio” não explica nem justifica o fracasso da economia cubana. Já o embargo norte-americano se explica, mas, decorrido meio século, não mais se justifica.
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O pedido de asilo dos cantores cubanos fez com que o Fantástico, em 16 de dezembro, produzisse matéria sobre a dura realidade da ilha de Fidel. Como resposta, a embaixada cubana, através de sua Seção de Imprensa, enviou ao programa um alentado documento, com o título “Lo que Fantástico no divulgó”. O texto foi acolhido por instituições de esquerda e circula na rede.
Ele atribui as dificuldades vividas por Cuba, sob o regime comunista que lhe está imposto desde 1959, ao que chama “criminoso bloqueio norte-americano”. Não é novidade essa afirmação. Ela reaparece no bolso dos comunistas sempre que se debate a situação daquele país. Segundo eles, Cuba não é pobre por causa do regime que adotou, mas por exclusiva responsabilidade dos Estados Unidos, que manteriam sobre a ilha um cerco concebido para matar a todos de fome. Não fosse assim, o promissor modelo econômico lá estabelecido seria um sucesso de público e renda.
Ora, Cuba não é vítima de nenhum bloqueio. O único bloqueio ali imposto foi de natureza militar, por ocasião do episódio dos mísseis soviéticos, em outubro de 1962. Naquelas circunstâncias, os Estados Unidos estabeleceram um cerco naval que se encerrou no dia 26 do mesmo mês, para impedir que navios com novos carregamentos aportassem à ilha. O que os Estados Unidos, de fato, impõem a Cuba é um embargo econômico meia-boca, instalado porque Fidel, no início dos anos 60, desapropriou, sem indenização, todo o patrimônio produtivo das empresas norte-americanas no país.
A cantilena comunista sobre o tal bloqueio induz os desavisados a crer que Cuba seja um país sitiado, transformado em pária da comunidade internacional, que nada pode comprar nem vender porque os ianques não deixam. Deslavada mistificação. Boa parte dos produtos que você encontra em certos mercados mais bem abastecidos de Cuba são procedentes do México, país que integra o Nafta com os Estados Unidos. Os maiores investimentos estrangeiros em Cuba são da Espanha, país parceiro dos Estados Unidos até na Guerra do Iraque. Os únicos ônibus que merecem esse nome no trânsito de Havana são fabricados aqui em Caxias do Sul pela nossa Marcopolo. A maior parte dos turistas que aportam na paradisíaca Varadero (mais de meio milhão deles por ano) são canadenses. Filiais estrangeiras de empresas norte-americanas estão habilitadas a transacionar com Cuba dentro de determinados limites. Cuba compra alimentos dos Estados Unidos, diretamente, desde que efetue o pagamento à vista. Centenas de milhões de dólares compõem esse fluxo comercial todos os anos. Uma das maiores fontes de divisas do país é a ajuda humanitária que os cubanos residentes nos Estados Unidos podem enviar para seus parentes. A Venezuela, principal fornecedora de petróleo para Cuba (a preços subsidiados) vende para os Estados Unidos 70% de sua produção petroleira.
Portanto, a conversa fiada do “bloqueio” não explica nem justifica o fracasso da economia cubana. Já o embargo norte-americano se explica, mas, decorrido meio século, não mais se justifica.
O autor é arquiteto, político, escritor e presidente da Fundação Tarso Dutra de Estudos Políticos e Administração Pública. puggina.org.
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