FRANCISCO RAZZO
Por franciscorazzo, julho 5, 2010 6:55 pm
por Francisco Razzo
Um dos principais mal-entendidos na discussão sobre a relação entre Ciência e Religião, é justamente tentar forçar uma suposta relação a partir de um dos campos de entendimento de mundo, seja por parte do religioso, seja por parte da ciência.
Não há dúvida de que a Ciência vive um lugar ao sol enquanto que as formas de compreensão religiosa estão com seus dias contados. Para os ateus, a ciência é palavra final sobre a realidade: “Deus não existe e pronto, seu burro!” Qualquer resquício de crença em Deus é sinal de que você verdadeiramente sofre de alguma doença mental, de que você é submisso dos seus próprios medos.
Dia desses, atônito, um professor me perguntou: como que pode alguém inteligente como você ser católico? Uma pessoa inteligente não pode mais aceitar essas formas arcaicas de compreensão do mundo! Pois é: ou você é inteligente ou é cristão. Ou você é moderno ou medieval! Escolha simples, como se estivéssemos no bar discutindo nosso amado time.
No entanto, tudo isso não passa de um autoengano. Sinceramente, a maioria das pessoas que eu conheço não faz a menor ideia do que é ser um medieval, do que foi o período medieval e do que é realmente a cristandade. No máximo, se admiram com a cristandade nas férias, onde o pacote turístico inclui uma velha Catedral Gótica. tudo que sabem, é fruto de uma intoxicação fraudulenta de parquinho. Uma imaginação pueril, romantizada, sobre um período da história. Luzes ou trevas. Moderno ou Arcaico. Inteligente ou Cristão. Livre ou Católico.
Quando eu era bem jovem, com os meus doze treze anos, uma das sensações mais incríveis que eu senti, foi ter me libertado daquele monte de historinhas da carochinha que minha mãe me contava sobre pecado, maçã e milagres. É inaudita aquela sensação de superioridade que estava sentido quando olhava meus coleguinhas engomados indo à missa, enquanto eu, já com autoridade sobre mim mesmo, dizia em solilóquio: que ridículo!
Nada é mais atraente para um jovem do que a experiência de si mesmo, do que seu primeiro contato com sua própria voz, seu primeiro diálogo interior consigo mesmo.
Não há dúvida, a ciência te liberta! E o ateísmo é a expressão máxima de uma vida elevada em que você é seu próprio regente, seu único maestro, seu próprio destino. Pecado, maçã e milagres é coisa de gente velha e, literalmente, emburrada! Pecado, maçã e milagres é coisa de menina que ainda vive na letargia sexual do rabo de saia da mamãe e da vovó.
Mas isso só funciona até a adolescência. Afinal, a pergunta é, qual o limite dessa experiência de autolibertação? Até aonde somos capazes de nos conduzirmos na solidão radical do “eu mesmo, eu quero, eu posso, eu faço!” a nossa própria vida? Não existe ateísmo maduro, todo ateu é um homem que parou na adolescência.
Sou da opinião que toda verdadeira vida religiosa deve experimentar profundamente algum dia o que é ser o condutor de si mesmo, ser porta voz da sua própria vida. E que essa experiência nunca se perca, esteja sempre presente como parâmetro para o que se vai viver pela frente. A vida religiosa é uma tensão real entre tudo ou nada. Entre a glória e a miséria mais profunda! E só um verdadeiro ateu sabe que sua miséria é o limite da sua arrogância.
Os mal-entendidos gerados nas discussões sobre o problema da relação entre Religião e Ciência, nada mais são do que a frustração de uma batalha interior que nunca se vence: amadurecimento.
Não estou dizendo com isso que todo homem maduro, necessariamente, não tem outra opção a não ser encontrar verdadeiramente Deus – Deus me livre desse tipo de afirmação, deixo isso pros tolos. O que estou dizendo é que todo homem maduro sabe que aquele pequenino deus que vivia dentro dele já não faz mais sentido. E acreditar demais nele é só um sinal de que realmente chegou a hora de arrumar teu quarto.
Ciência e Religião só são inimigas na cabeça de quem parou no tempo, daquela aspiração romântica de libertação interior. Acreditar no progresso da ciência é o mais puro sinal de breguice quando se olha a vida depois dos trinta. Descobrir o que significava pecado, maçãs e milagres é compreender o lugar edificante daquelas narrativas, que na infância já revelavam a nossa miséria.
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